A promessa do Secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, de que as obras do BRT do ABC fiquem prontas até o final do próximo ano é inviável, na ótica de especialistas em obras civis. O RDtv desta terça-feira (25/05) ouviu o gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Enio Moro Júnior, e a professora do curso de Engenharia Civil do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia), Paula Katakura, sobre o assunto e ambos acham improvável a conclusão neste prazo da obra, que ainda não tem projeto executivo nem os estudos de impacto ambiental e de vizinhança prontos.
A professora do IMT, citou que o EIA (Estudo de Impacto Ambiental) feito para o monotrilho – modal inicialmente colocado para atender o ABC – levou dois anos para ficar pronto. “Muito dificilmente terá início esse ano porque um bom projeto vai envolver outras áreas em uma discussão bastante importante”, diz Paula Katakura, sobre a previsão de Baldy de iniciar as obras ainda este ano, para entregar o corredor funcionando em dezembro de 2022. “Não se consegue fazer um BRT para valer até dezembro do ano que vem. Vai ser preciso muito mais e tem alguns problemas legais que não temos clareza. Só de estudos, para se ter um projeto final para iniciar a obra eu diria um ano de discussão no mínimo, mesmo assim já seria um projeto muito rápido”.
O urbanista da USCS tem a mesma opinião. “Acho que é uma precipitação que comprometerá, com certeza, a viabilidade do empreendimento. É um momento para que as prefeituras conheçam com precisão os locais previstos para as estações; tem que haver um estudo das interferências; essa área lindeira ao Ribeirão dos Meninos tem redes de água, esgoto e de alta tensão; tem questões de infraestrutura que não dependem só da Metra – concessionária que vai assumir o projeto – , depende de discussão com as concessionárias. Para ser um projeto com um mínimo de erros, um semestre é um prazo ideal para avançar nestas questões”, analisa Enio Moro.
Os especialistas ouvidos pelo RDTv disseram que as prefeituras ainda nem sabem onde ficarão as estações e como será feita a integração com demais linhas de ônibus e, além disso, como serão feitas as obras de infraestrutura como passarelas, passagens de nível, uma vez que o BRT terá linhas expressas e outras com paradas. Para o urbanista Enio Moro é necessário refazer a pesquisa de Origem e Destino nesta região, já que a mais recente tem 15 anos. “Medir pelos sinais de celular daria aí 70% de certeza. Acho um absurdo essa priorização do Metrô no município de São Paulo; eu queria ver o ABC, Osasco e Guarulhos com um Metrô de verdade, fico muito incomodado que o meu imposto tenha pago a linha Norte-Sul”, diz criticando a troca de modal do monotrilho para BRT. “Estou achando que é uma rendição, nada me convence que um modal de 300 mil passageiros por dia vai ser substituído por um modal de 100 mil e que seria eficiente”, critica.
As desapropriações e a questão das enchentes são outros problemas apontados pelos professores como entrave para as obras, além dos estudos de impacto ainda não estarem prontos. Quanto a questão dos imóveis a serem desapropriados o modelo seria semelhante ao já usado pelo governo do Estado em algumas obras, onde a concessionária vai arcar com esse custo, mesmo assim o processo não é simples nem rápido. “Primeiro tem que ter um decreto de utilidade pública da área e a avaliação de mercado. É um processo moroso tanto para o poder público, como para a iniciativa privada. Tem toda uma questão documental, pois ao longo do Ribeirão dos Meninos tem áreas sombreadas sobre quem é o proprietário. É uma realidade possível, mas tem que ter um capital mobilizado muito grande”, opina Moro.
Paula Katakura aponta para a integração da obra do BRT com a do Piscinão Jaboticabal que fica perto do traçado e que teve ter obras iniciadas este ano. Esse reservatório promete minimizar as enchentes que afetam tanto São Bernardo, como São Caetano e a Capital. “Sem a drenagem o BRT ficaria inviabilizado em épocas de chuvas. Com ou sem o piscinão, essa operação precisa ser casada. O que complica ainda mais o início”.
“Nossas enchentes têm data marcada, a gente sabe que é em fevereiro e março. A questão do piscinão é fundamental não só para reter a água, mas só com uma integração paisagística e urbanística, porque o modelo de um buraco de concreto, sem utilização por onze meses, que o governo tem usado é um desperdício. Tem que se pensar na utilização do entorno desse espaço. Para o sucesso do BRT, que vai passar no fundo de vale, essa questão tem que estar resolvida para evitar dissabores”, conclui Enio Moro.