Em transmissão realizada por meio das redes sociais, quinta-feira (13/05), o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), anunciou nova data para a volta às aulas na rede pública, a partir de segunda-feira (17/05), com protocolos estabelecidos pelo Plano São Paulo. A medida, no entanto, desagrada uma parcela de pais e professores, que alegam não concordar com o retorno presencial sem que haja imunização em massa da população.
O advogado e pai de dois alunos matriculadas na rede municipal, Welington Morishita Rebeque, diz não concordar com o retorno presencial, uma vez que, segundo ele, os pais sequer foram consultados. “Não ouviram a gente, não ouviram os familiares, cuidadores, associações de pais e mestres, nem diretores pedagógicos. Foi uma decisão arbitrária, de cima pra baixo empurrando o entendimento que eles tem sobre nossos filhos”, reclama.
Entre as regras determinadas pela administração, os estudantes serão divididos em grupos para que o limite de 35% da capacidade das salas de aula seja respeitado. Assim, o aluno irá para a escola uma vez por semana e os outros quatro dias ficará em casa e recebe lições on-line e com tarefas no material didático a serem apresentadas no dia em que estiverem na escola.
Diante da medida, Rebeque questiona sobre a redução do acesso à educação para quem optar voltar ao formato presencial. “Além de aumentar o risco do contágio, o aluno que vai somente uma vez por semana vai aprender o que?”. Para o advogado, levar as crianças para escola neste momento reflete em um aumento de casos de covid. “Quem garante que não haverá risco de contágio, que as crianças não vão tirar a máscara e levar o vírus para a casa?”, indaga ao lembrar que a maioria dos pais e/ou responsáveis ainda não foi imunizada. “Não colocamos em risco só a saúde das nossas crianças, mas também de toda a família”, enfatiza.
Uma professora da rede pública, que preferiu não se identificar, declara não concordar com o retorno ao formato presencial, uma vez que nem todos os profissionais da educação foram imunizados contra a covid-19. “Não deixamos de trabalhar um dia sequer durante a pandemia. Ao contrário, tivemos dias em que trabalhamos muito mais do que no presencial. Acontece que estamos em uma pandemia, nem todos foram vacinados e é um verdadeiro crime fazer com que os profissionais voltem sem vacina”, afirma.
A professora conta que terá de voltar a trabalhar no formato presencial antes mesmo de completar os 21 dias que tomou a segunda dose contra a covid-19, o que assusta ainda mais. “Não tem nem 15 dias que tomei a segunda dose da vacina e já estão querendo que a gente volte”, diz. “Para piorar a situação, moro com outras cinco pessoas em casa, que não foram imunizadas. E se eu trouxer o vírus, quem irá arcar com a responsabilidade?”, questiona.
Sindserv repudia volta
O professor da rede pública estadual e diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais e Autárquicos de São Bernardo (Sindserv), Dinailton Cerqueira, diz que o sindicato repudia a volta dos profissionais da educação para as instituições de ensino neste momento. Segundo o dirigente, desde o início da pandemia, entre as mais de 40 escolas públicas do município, cerca de nove profissionais da educação faleceram em decorrência da covid-19. “Já perdemos muitas vidas e não queremos perder outras mais”, defende.
Cerqueira conta que com a medida da Prefeitura, cerca de 8 mil profissionais deverão voltar a atuar nas escolas, no entanto, nem todos receberam as duas doses da vacina contra a covid. “Nem todos receberam as duas doses de imunização contra a covid-19. Além do que, temos profissionais afastados com comorbidade, fora os demais que estão com muito temor de voltar e não têm escolha”, lembra.
Ministério Público
Nesta sexta-feira (14/05), como forma de repúdio às decisões a Prefeitura, cerca de 250 profissionais da educação se uniram em frente ao Paço para manifestar a volta às aulas. A decisão foi tomada após recusa da secretária de Educação, Silvia Donnini, atender a categoria. “Entramos com representação no Ministério Público sobre a medida da volta às aulas e, junto a isso, viemos conversar sobre a decisão com a secretária, mas demos com a cara na porta, ninguém nos atendeu, por isso o ato”, justifica o advogado Welington Rebeque.
Também participaram do movimento os representantes do Sindserv e a vereadora Ana Nice de Carvalho (PT).