Em entrevista ao RDTv, nesta sexta-feira (12/03) o médico imunologista e pesquisador Eduardo Finger falou sobre lockdown e sobre o medicamento Rendesivir, que teve autorização para uso em pacientes com covid-19 que estão internados. Segundo o especialista o remédio, que foi utilizado contra o vírus Ebola, ajuda os pacientes a ficarem menos tempo na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), o que daria fôlego aos hospitais, porém ele avalia que a medicação pode não chegar ao Brasil.
“Apesar de ser um evento favorável não vai ter um grande impacto, primeiro porque os EUA já compraram toda a produção do Rendesivir do ano inteiro, então vai ter muito pouco ou nenhum para ser exportado para outros países; segundo que o Rendesivir, consegue reduzir em até cinco dias o tempo de internação em UTI, isso é importante porque se consegue tirar uma pessoa que ficaria 21 dias em UTI no décimo sexto, então ele ajuda, mas a gente acha que não vai ter acesso a essa medicação. Mas o Rendesivir não mudou a mortalidade, então ainda é muito sério se você for pegar covid e ir para uma UTI, o negócio é se proteger”, disse o médico.
Eduardo Finger derrubou por terra as teses de resistência imunológica sendo aumentada por alimentos ou medicamentos, o que foi muito disseminado em redes sociais como forma de se prevenir da covid-19. “Trabalho com imunologia desde 1.992 e não entendo o que quer dizer essa frase ‘aumentar a imunidade’. Como imunologista eu posso aumentar ou diminuir a imunidade, nos dois casos você vai parar na UTI. Se aumentar você vai atacar a si próprio e vai para a UTI, se diminuir vem os bichos e te comem vivo. Imunidade equilibrada é a que dá a resposta imune adequada proporcional a agressão e autolimitada. Isso você só consegue com hábitos de vida, não tem nenhuma medicação que se possa tomar que regule isso, muito pelo contrário, a única que sabe regular isso é a mãe natureza”, analisa o médico.
O imunologista relatou o que foi feito na Coréia do Sul em que todos os contatos da pessoa infectada foram levantados e eles se isolaram, assim se controlou a doença. “O que acontece no Brasil é que tem muita gente brigando para vender as mais diversas ideologias, cada uma em proveito próprio, e o bom senso, a ciência e o bem comum foram perdidos. Caso demonstrado é o de Araraquara, foi feito um lockdown eficiente e o número de infecções caiu 37%, o Reino Unido que tem a variante B1-7 que fez um lockdown, e conseguiu conter a pandemia. Então o lockdown funciona, tem problemas, eu concordo, as pessoas têm que viver, é aí que entra o bem comum, se as pessoas precisam de comida, precisa fornecer comida, se precisa de atendimento, precisa fornecer atendimento, se ficar cada um brigando pelo seu não vamos a lugar nenhum e é o que está acontecendo. Se não for feito nada vão vir outras mutações, melhores para o vírus e não para nós”, explica Finger.
Esperança
O médico disse que há sinais de que o vírus esteja reduzindo seu potencial de mortalidade, num ciclo que já foi estudado em outros vírus, mas diz que o Brasil ainda está muito longe de ter variantes menos fatais. “O vírus Herpes, por exemplo, encontramos vestígios dele nos australoptecos que 6 milhões de anos atrás que deram origem a nossa espécie. A gente já convive com ele há muito tempo e depois de tanto se espancar um ao outro chegamos a um equilíbrio, ele consegue nos infectar, mas não mata mais. Com o coronavírus a gente vê sinais desse cansaço, tem uma cepa em Cingapura que infecta, mas não mata. Para isso acontecer o vírus tem que estar em dificuldades, tem que ser obrigado a aceitar esse compromisso, e aqui ele não está em dificuldades, ele tem portas abertas para fazer o que quiser e esse é o nosso problema”.
Fake News
O médico imunologista disse que um ano de notícias falsas chegando pela internet e a falta de sintonia entre os governos para o combate à pandemia levaram ao cenário que afeta o país neste momento em que diariamente se batem recordes de infecções e mortes. “Eu não quero puxar isso para um lado partidário, mas no estado de São Paulo, pelo menos as pessoas se preocuparam em tentar evitar chegar nesse ponto. A gente está assim porque o governo federal dissipou um monte de energia com medicações que não funcionam. Nós testamos e temos dados para comprovar que elas não fazem diferença, ou se faz é para pior. Gastou-se muito tempo brigando por causa da máscara e agora estamos colhendo o resultado disso. As pessoas estão confusas, não sabem em quem acreditar”, aponta para em seguida falar dos males trazidos pelas fake news. “Muitas pessoas com títulos chegam nas redes sociais falando as coisas mais absurdas que já vi na vida, outro dia vi um vídeo de um médico e advogado dizendo que máscaras aumentam em 5% o gás carbônico e isso leva a infarto e derrame, gente isso é um absurdo, se fosse assim não existiria um anestesista na face da Terra porque eles passam a vida inteira com máscara”.
Por fim, o especialista reforça o pedido para que as pessoas respeitem o isolamento social e diz ainda que o governo deveria adotar o lockdown. “Ou se faz um lockdown pra valer ou não adianta. Eu me solidarizo com quem passa dificuldade, mas não sei o que é pior se é ficar em casa ou ver o pai ou a mãe morrendo numa UTI, se eles tiverem a sorte de ir para um UTI. A gente pode parar isso agora, fica quem casa não sai dali por 3 ou 4 semanas que se quebra a cadeia de transmissão”, conclui.