Autorizadas a funcionar desde que foram consideradas serviço essencial, as igrejas, para manterem seus rituais, estão desafiando as normas de prevenção à covid-19, o que é passível de autuação, multa e até fechamento do templo. A proximidade entre os fiéis, toque, abraços, compartilhamento de objetos e ingestão de alimentos servidos por outras pessoas e corais estão entre as situações que não são permitidas.
As normas do Plano São Paulo obrigam a medição de temperatura de todos na entrada, ocupar apenas 30% da capacidade da igreja, obrigatoriedade do uso de máscara o tempo todo da cerimônia; todas as pessoas devem estar sentadas e a pelo menos 1,5 metro uma da outra; o local deve estar ventilado e, sempre que possível eliminar rituais envolvendo toques e não compartilhar objetos. Os coros devem ser suspensos temporariamente durante a fase vermelha.
A igreja Católica optou por manter as missas presenciais, diferente da fase vermelha do ano passado quando as celebrações foram feitas somente pela internet. A Diocese de Santo André informou que está tomando todos os cuidados e que a presença de apenas 30% do público já vinha sendo adotada desde o ano passado. Porém a igreja não suprimiu do seu ritual a Eucaristia, onde a hóstia consagrada é dada pelo padre ao fiel, na mão ou diretamente na boca, o que exige a proximidade, retirada da máscara, além do contato.
“Desde o início da pandemia, em março de 2020, e principalmente quando foram retomadas as missas presenciais em junho do ano passado, a Diocese de Santo André toma todos os cuidados necessários respeitando sempre as autoridades civis e, principalmente, a vida. Mesmo quando o ABC passou para outras fases do Plano São Paulo, nosso cuidado e zelo pelas vidas de nossos diocesanos não mudou. Seguimos à risca as orientações do uso de máscara, álcool gel, distanciamento e isolamento social. Os itens do protocolo estadual são seguidos com cuidado em nossas comunidades. E diante do presente decreto estadual assinado pelo governador nesta segunda (01/03), que inclui atividades religiosas na lista de serviços essenciais, observará a melhor forma de proceder atuando na preservação de vidas em primeiro lugar”, informou a diocese em nota.
Apesar de afirmar cumprir os protocolos a Eucaristia que implica na retirada da máscara e proximidade com o sacerdote para que ele dê a hóstia ao fiel não foi suprimida das missas. A justificativa é a de que, se há missa a Eucaristia tem que ser oferecida e que é opção do fiel aceitar ou não.
No domingo (07/03) a Assembleia de Deus Fidelidade Central, no Centro de São Bernardo, celebrou o Culto da Família e a Ceia do Senhor Jesus e proporcionou aglomeração, com pessoas em pé ou sentadas ombro a ombro e partilha de pão entre os fiéis. As fotos da celebração religiosa foram publicadas nas redes sociais da igreja. O coral, outra atividade não recomendada pelo Plano São Paulo, também ocorreu e os celebrantes do culto em várias fotos aparecem sem máscara. Em nota, a prefeitura de São Bernardo informou que já tem conhecimento da prática da igreja que a mesma já foi notificada. “A Prefeitura de São Bernardo esclarece que a Igreja Evangélica AD Fidelidade Central, que fica na rua Ernesta Pelosini 196, já foi notificada pelas equipes de fiscalização da administração municipal. O não cumprimento das medidas voltadas à contenção da pandemia poderá acarretar em ações fiscais e demais sanções”.
O médico Elie Fiss, professor titular de Pneumologia da Faculdade de Medicina do ABC, comentou a situação de aglomeração nas igrejas apontadas pela reportagem e condenou a forma como as igrejas estão fazendo. “Não tem distanciamento nenhum, esse é um problema grande. O compartilhamento de objetos, também não dá. Deveria ter, no mínimo o distanciamento recomendado, e se for distribuir qualquer tipo de alimento que sejam os embalados individualmente. Compartilhar copos, talheres ou canudos jamais”, comentou o médico.
O RD tentou contato com representantes da igreja Assembleia de Deus Fidelidade Central no telefone informado na rede social, e também pela própria rede social, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem. O Repórter Diário continua a disposição para expor a posição da instituição religiosa. Após o contato da reportagem pela rede social, as fotos da celebração de domingo foram retiradas do Facebook.