
A decisão do Governo do Estado de restringir a circulação das 23h as 5h até 14 de março, afetou diretamente quem atua no período noturno, como os serviços de hotelaria e motelaria. O Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC) estima que na região – onde a medida entra em vigor neste sábado (27/2) – com lockdown noturno a partir das 21h, o setor terá queda no faturamento em mais de 50%.
Para a advogada da rede hoteleira do ABC e diretora jurídica do Sehal, Denize Tonelotto, a restrição de circulação, ou toque de recolher, vai condenar as empresas da região a uma situação quase que irreversível, uma vez que os motéis trabalham em esquema de turnos. “Se hoje, que os motéis trabalham com três turnos já estão em uma situação complicada, pense fadados a dois, com horário de encerramento condenado? Vale lembrar que as despesas continuam”, comenta.
Desde que a pandemia iniciou, em meados de março de 2020, os motéis acumulam prejuízos e dívidas, segundo a advogada. “Muitos estão atolados em empréstimos há mais de um ano, sem nem saber como vão pagar. Agora nessa situação, como ficam?”, questiona. Diante das situações e condições dos mantenedores, a diretoria jurídica diz que o Sehal ingressou com diversas ações contra os decretos, desde o ano passado – todas sem sucesso.
Em São Bernardo, a proprietária do Vyss Motel, Rosana Zucon, conta que desde o início da pandemia, houve uma queda no faturamento entre 30% a 50%, e com as restrições impostas pelo Estado, a situação tende a piorar. “Nosso segmento é o único que não gera aglomerações, uma vez que há somente um casal por quarto. […] Teremos que arcar com esse ônus pesado desta restrição sem que haja irregularidades?”, questiona.
O proprietário dos motéis Estoril e Panters, Carlos Alberto Sobrinho, estima que com o toque de recolher, o prejuízo passe de 50%. “A pandemia fez com que tivéssemos uma baixa de clientes, agora querem atingir o horário de maior fluxo?”, questiona. Segundo Sobrinho, a madrugada tem o maior movimento, com pelo menos 30% dos clientes. “Por estarmos localizados perto de uma rodovia, recebemos muitos viajantes que fazem paradas de poucas horas. Mas agora isso não poderá mais acontecer, o que vamos fazer?”, questiona.
A diretora jurídica diz que os impactos podem ir além, e afetar, ainda, os trabalhadores que atuam no setor. “Precisamos pensar, ainda, que não haverá transporte público para os trabalhadores. Não pensam na questão, mas muitos saem de madrugada. Agora, como chegarão em suas casas? Teremos que dispensá-los antes”, lembra. Diante do cenário em que se deve honrar folhas de pagamento, encargos, despesas fixas e outros, Denize afirma que o setor pode dispensar pelo menos 20% do quadro de funcionários. “Não conseguirão manter”, diz.
Em nota, a Prefeitura de São Bernardo informa que, a partir de sábado (27/02), a rede moteleira e hoteleira está autorizada a receber clientes até às 22h. De acordo com o decreto 21.464/2021, haverá restrição de circulação até às 5h. A fiscalização será feita pelas unidades administrativas competentes e pelas forças policiais, com sanções administrativas e até criminais.
De acordo com dados do Cadastro Fiscal Municipal, a cidade contava com 42 estabelecimentos de hospedagem em hotéis e motéis em 2019. No ano passado, o número caiu para 40.