O ABC chegou a 2,9 mil óbitos pela Covid-19 no último domingo (22/11), e segue com aumento de casos do vírus, com média móvel de 511,29 registros, variação de 141,82% (alta) em comparação à média de 14 dias atrás. Em São Paulo, o crescimento de mortos está em alta há pelo menos três semanas, o que na visão do professor da Faculdade de Medicina do ABC e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Juvencio Furtado, é reflexo do relaxamento da população, que deixou de se cuidar adequadamente desde a última etapa de flexibilização, imposta pelo Governo do Estado.
Para o médico, o Brasil tecnicamente ainda não está em uma segunda onda da doença, pois ainda sequer saiu da primeira. “Tivemos apenas um pico, muito por conta do descuido da população após a quarta etapa de flexibilização, mas ainda é cedo para se falar em uma segunda onda”, diz. De acordo com o infectologista, só se começa uma segunda onda, após uma brusca queda na primeira, o que no Brasil ainda não ocorreu. “O que tivemos nos últimos meses foi uma ligeira sensação de queda de registros, justificada pela defasagem de repasse nos dados, mas não houve uma melhora no cenário”, explica.
Ao contrário disso, com as festas de fim de ano, o infectologista acredita que o número de diagnósticos pode crescer consideravelmente, apesar de que é o período ao qual o cuidado deve ser redobrado. “Por ser um período tradicional ao qual as pessoas se reúnem, sabemos que o número de diagnósticos deve crescer, mas alertamos que é o momento ao qual as pessoas não podem esquecer de usar a máscara de proteção, intensificar o uso do álcool em gel e ter em mente que o vírus não foi embora”, diz.
A orientação é que as pessoas mantenham as orientações médicas e respeitem o uso de acessórios de segurança, assim como respeitem o distanciamento social. “Quem puder evitar o contato pessoal com familiares mais velhos e/ou com algum tipo de comorbidade e manter o distanciamento de, no mínimo 1,5 metro, melhor ainda, pois irá garantir a segurança e dificultará a transmissão do vírus”, orienta.
Vacina e flexibilização
Em entrevista ao RDtv, o infectologista levanta outro ponto em relação ao aumento de casos nas últimas semanas: a possibilidade do surgimento de uma vacina eficaz. Atualmente são mais de 200 imunizantes em estudo, sendo que 11 estão em fase final de testes, o que fez com que parte da população abrisse mão dos cuidados básicos. “Estamos em um período de averiguação e testagem dos efeitos colaterais, mas isso já fez com que muitos abrissem mão da máscara e pensasse que tivesse vacina, o que é mentira. Os cuidados básicos devem permanecer”, enfatiza o médico.
No Brasil, existem acordos de parcelas com vacinas de covid-19. O Estado de São Paulo, por meio do Instituto Butantan, participa dos testes da Coronavac, elaborada em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, que está na fase 3 de testes. “A qualquer momento podem sair os resultados para que seja produzido o imunizante, mas é um processo lento e que deve perdurar durante muitos meses, inclusive tomar boa parte do próximo ano”, lembra o médico.
Enquanto não há um imunizante disponível, o médico orienta que as pessoas permaneçam em casa e saiam somente para o que for necessário. “Enquanto a flexibilização não é revista, a orientação é para que as pessoas fiquem dentro de casa e saiam somente para o necessário. Não se arrisquem. Lembrem, a pandemia ainda não acabou e vírus está à solta”, diz.