Os comerciantes do ABC estão ansiosos para a reabertura de seus negócios depois de mais de dois meses com as portas cerradas, mas a negativa do governador João Doria (PSDB) de não incluir o ABC nas medidas de flexibilização trouxe mais preocupação, pois há estabelecimentos que já estão no limite da sobrevivência. De outro lado o número de doentes com a covid-19 continua aumentando, e os empresários ouvidos pelo RD relatam que, mesmo com a abertura, o movimento nas lojas não será mais o mesmo.
“Há uma pressão muito grande, o comerciante não aguenta, algumas empresas nem voltarão mais, mas a abertura simplesmente não vai resolver porque ninguém sabe como vai ser o comportamento do consumidor”, avalia Valter Moura presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo do Campo). “Nessa pandemia a economia terá uma perda incomensurável, foram perdidos o Dia das Mães, a Páscoa, vamos perder o Dia dos Namorados e quem sabe o Dia das Crianças, Black Friday e o Natal. O ano está perdido, com desemprego em massa, renda caindo e junto com ela o poder de compra”, continua Moura. “É preciso abrir, mas de forma gradual, seguindo os protocolos, porque quanto mais tempo demorar para a reabertura, mais tempo vai levar a recuperação. O comerciante também tem que pensar que o novo normal vai ter um novo patamar de vendas, porque as pessoas estão com medo de sair as ruas e também vão passar a comprar somente o necessário” analisa o dirigente da Acisbec.
O presidente da Aciam (Associação Comercial e Industrial de Mauá), José Eduardo Zago, reclama de disputa política entre o governador e o presidente Jair Bolsonaro. “É um terrorismo político. Na minha opinião não deveria ter fechado, deveria estar aberto (o comércio) com normas sanitárias. Porque supermercado pode e banco também? Lá tem aglomeração, temos condições para uma reabertura gradual”, diz.
Para Zago pelo menos metade das empresas poderia abrir com segurança. “As lojas de roupas e de calçados tem como higienizar as peças a cada prova e depois volta para a gôndola”, avalia o presidente da Aciam, que já tem pronto os protocolos para a reabertura dos comércios. “Estamos adiantados já fizemos isso há mais de um mês. Apresentamos isso ao prefeito (Atila Jacomussi – PSB) e ao presidente da Câmara (Vanderley Cavalcante da Silva, o Neycar -SD), mas eles não compraram a briga. Agora abre em São Paulo e não abre no ABC, aí o consumidor vai para São Paulo e ferra ainda mais o comércio daqui. Para mim a prefeitura deveria fazer barreira sanitárias nas divisas”, sugere.
Dono de uma loja de roupas masculinas em Diadema, que está na sua família há 55 anos, Filipe dos Anjos, está com as portas fechadas há 75 dias, manteve os empregos das duas funcionárias que estão com os contratos suspensos. Ele tem esperança de que possa abrir as portas a partir do dia 16 de junho, mas quer aguardar a posição das autoridades com base nos números da saúde. “Os empresários que não estão na linha de frente, que colocam outros para trabalhar é que estão pressionando para a volta imediata. Eu coloco a vida em primeiro lugar, eu não estava seguro de colocar meus funcionários em risco, senti que o lado comercial também perde, mas a vida em primeiro lugar”.
O comerciante, que já presidiu a ACE (Associação Comercial e Empresarial) de Diadema disse esperar que a curva de transmissão e de mortes pela covid-19 se estabilize até o dia 15 de junho para uma abertura mais tranquila. “O nosso novo normal vai ser loja com menos gente, todos de máscara e fornecendo álcool em gel”, comenta o lojista que também acredita que o comportamento do consumidor vai , mudar após a crise da saúde. “Vamos ter menos gente na rua e menos vendas. Como aprendizado a pandemia vai ser um novo normal na questão material e de consumo. O legado que vai ficar será uma reeducação sanitária, nos relacionamentos interpessoais, no consumo e na poupança”, conclui.