Apesar da importância do debate sobre diversidades e direitos humanos, a pauta enfrenta resistência para ganhar espaço e se consolidar como demanda da sociedade. Neste contexto, a arte cumpre papel indispensável ao lançar luz sobre questões que, muitas vezes, ficam esquecidas, como a exposição de arte do Instituto Cervantes que, todo ano, seleciona um tema para confecção das obras na Capital.
Em 2019, o tema é o Ano Internacional das Línguas Indígenas, sobre a preservação dos costumes e cultura dos povos originários que, a cada ano, veem as populações diminuírem. A abertura da mostra acontece no dia 12, às 19h, e conta com obras de 17 artistas, entre os quais Andréia de Alcantara, de Diadema, e Ricardo Amadasi, argentino e morador em São Bernardo há 32 anos.
Esta é a primeira vez que a artista plástica, educadora e designer Andréia de Alcantara participa. Isso graças à abertura desde 2018 para artistas de toda América Latina, mas residentes no Brasil. Até então, eram só para argentinos.
Para debater o tema, Andreia faz uso de duas imagens de Nossa Senhora e uma cruz de madeira, que foram encontrados e passaram por intervenções da artista. Colocadas em pequenos oratórios e misturados com elementos da natureza, as peças geram discussão crítica quanto ao colonialismo, à religiosidade e como uma cultura impactou a existência de outra. “Quis mostrar como a cultura europeia, vinda para o Brasil, contribuiu para o extermínio. Quando a língua indígena morre, a cultura morre junto”, afirma.
Debater a diversidade cultural e as diferenças sociais tem importância primordial, especialmente em tempos de intolerância. “Chamar a atenção para isso é importante para debater essas questões que são ignoradas”, diz. Andréia conta que a exposição marca momento importante de sua vida, pois simboliza a retomada do fazer artístico após pausa para o mestrado.
Direitos humanos
Com painel de gravura sobre resina, Ricardo Amadasi homenageia os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, celebrado em 2018. O tema tem grande valor para o artista que, em 1976, saiu da Argentina, fugido da ditadura e da repressão. Preso e torturado na época, Amadasi conta que o fato impacta a obra até hoje. “Isso foi algo que me marcou e mudou minha vida. É uma injustiça grande, que eu não aceito”, declara.
O argentino filho de artistas munido de tintas e pincéis crê que a arte é um dos caminhos que podem ajudar a mudar o mundo e a realidade de discriminações, opressões e desigualdades. “De arte entendo muito e de política gosto bastante. Acredito que a arte é uma ferramenta poderosíssima para falarmos sobre injustiça”, afirma.
A mostra tem curadoria de Oscar D’Ambrosio e conta com obras de Alejandra Dawi, Damiana Suriani, Diego Pallardó, Giuliana Sommantico, Guido Bogetti (in memoriam), Juan Ojea, Julia Aguilar, Julio Basle, Kurt Federico Ruger, Maria Estela Ripa, Máyy Koffler, Nora Rodrigo, Osvaldo Raul Perez, Teresa Stengel, Viviana Giampaoli, além de Amadasi e Andréia. A exposição vai até 7 de dezembro e é gratuita.