Carros novos e blitzes frequentes, isso é o que se vê do governo do Estado como investimento na segurança. Falta o principal, gente para investigar e coibir o avanço do crime. Quem já precisou ir a uma delegacia de polícia – e quem não foi? – sabe bem como anda a estrutura das nossas polícias. Paredes sujas, poucos funcionários para atender e espera, muita espera. Tal é o descaso, e já ciente da insatisfação, que sempre está afixado nas paredes o artigo 331 do Código Penal, aquele que fala que é crime desacatar funcionário público. Quem reclama pode até ter razão, mas se falar com o funcionário, além de se arriscar a ser processado, vai bater no balcão errado. A culpa não é do servidor concursado, mas do governo que não investe.
Rasgar a roupa em um banco destruído e cheio de pregos e perder horas nos distritos policiais é o menor dos problemas. A parte da Polícia Civil que se vê é um detalhe apenas da crise da segurança pública. A falta de funcionários prejudica a investigação, favorece o crime organizado e estimula a impunidade.
O levantamento do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), publicado nesta edição, revela a verdadeira raiz do problema, a falta de pessoal. O ABC sofre, neste caso, igual ao restante do Estado, com déficit de 34% no número de policiais civis.
O cenário é ainda pior se olhar para as poucas unidades de Delegacia de Defesa da Mulher, as chamadas DDMs. São apenas quatro na região e abertas somente durante a semana e das 9h às 19h. Nenhuma à noite e aos finais de semana, quando os valentões enchem a cara e se acham no direito de espancar as companheiras. “Mas que adiantaria funcionar 24 horas? Para onde vou mandar a mulher depois do boletim de ocorrência”, questiona a delegada Renata Cruppi ao chamar atenção para outra deficiência, dar assistência às vítimas, que também precisa ser ampliada em horário e profissionais.
O quadro desenhado é feio e não deve melhorar tão cedo. O Estado nada diz sobre instalar mais DDMs na região, nem repor os 664 policiais civis. Tem um concurso em andamento, mas na distribuição por todo Estado pouco virá para a região, já que pelo Interior o déficit é maior. O governador foi eleito com promessa de pulso firme contra o crime. Está na hora de cumprir.