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Com o exército de desocupados no Brasil chega a 12% da população, segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) entre os meses de novembro e janeiro, e dos 62 milhões de brasileiros empregados, 4,4 milhões trabalham informalmente, ou seja, fazem pequenos trabalhos ou atuam por conta própria sem, contudo, oficializar a atividade. Não há estatísticas sobre o que esse trabalhador informal tem de renda, como paga despesas e nem o grau de dependência dos serviços públicos. O problema é grave, mas não é novo, segundo o professor Jefferson José da Conceição, coordenador do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul). Para o economista, o trabalho informal onera os cofres públicos de uma forma acentuada.
A cuidadora Cleusa Ribeiro da Silva, de 65 anos, é exemplo. Entrega panfletos na rua Coronel Oliveira Lima, em Santo André, mas já trabalhou em hospitais. Faz tempo que não consegue voltar ao mercado e também cumprir o tempo de contribuição, por isso não pode se aposentar. Cleusa relata que é ruim não ter trabalho formal, mas ainda agradece a oportunidade. “É um bico, mas ajuda muito”, diz. Afirma que o pior é não ter direitos, como seguro, 13º salário, férias e convênio médico. “A gente tem de ficar nas filas do hospital”, conta a cuidadora que conta com a ajuda do filho para complementar a renda.
Custo social
O professor da USCS chama atenção para o custo social do emprego informal e dos empregos formais, mas com precarização de direitos. “Os impactos são muito grandes para os municípios, que são os primeiros a receber demandas, sobretudo na saúde”, diz. As pessoas que perdem o emprego e passam a atuar no mercado informal reduzem o consumo, e aquelas que têm a situação de renda mais agravada começam a deixar de pagar os impostos, segundo o economista. A pressão causa problemas de saúde, que sobrecarrega o SUS (Sistema Único de Saúde). O desemprego e a renda informal também refletem na educação e habitação, já que os desempregados tiram filhos de escolas particulares, ou vão morar em regiões mais sujeitas a riscos e problemas de saúde.
Emanuel tem loja imaginária
Como nas dificuldades é que se enxergam as oportunidades, há quem aproveite o período ‘sem patrão’ para mudar de ramo ou tentar algo, como investir em negócio próprio. É o caso do vendedor de balas e doces, Emanuel Edson Ávila do Nascimento, 32 anos, que recorreu à atividade por conta do desemprego e hoje faz curso de tecnólogo em marketing, além de se aperfeiçoar em informática. O vendedor é exemplo do aperto financeiro de quem não consegue emprego. Antes morava em uma casa de aluguel, hoje vive em uma área invadida, conhecida como Morro do Macaco, na divisa com São Paulo.
Emanuel consegue pagar o curso de Marketing com venda de produtos no semáforo da avenida Dr. Ulisses Guimarães esquina com a rua do Tanque, em Diadema. Apesar de iniciante, já usa ferramentas do curso nas vendas. Todos os dias abre a ‘Edson Doces’, sua loja imaginária e oferece os produtos sempre com um sorriso. “Temos atendimento delivery, a taxa de entrega é um sorriso”, diz o vendedor para os motoristas, que abrem os vidros dos carros e cumprimentam o vendedor.
“Tenho o projeto de me formar e me tornar profissional em marketing com um bom salário”, planeja. Emanuel diz que sempre passava em frente de uma universidade com ensino a distância, a Unicesumar, em Diadema, mas tinha vergonha de entrar, mas um dia arriscou. “Fui bem atendido e vi que eu podia pagar. Antes eu trabalhava a manhã inteira até as 13h e tirava R$ 1,2 mil por mês, agora com a faculdade eu reduzi o tempo, tiro R$ 800”, conta o vendedor que paga R$ 180 de mensalidade no curso de tecnologia. Para isso, mora numa pequena casa que divide com amigo, em área invadida. “Meu curso vai até 2020, depois quero fazer pós-graduação”, relata Nascimento, que sonha com uma boa colocação para comprar a casa própria.