Encerrou no último dia 10 o prazo para que médicos brasileiros, com registro no Conselho Nacional de Medicina (CRM), se apresentassem para atuar no lugar dos cubanos, que deixaram o programa Mais Médicos. Com lenta reposição, as unidades de saúde de Mauá, Santo André e São Bernardo se tornaram alvos de queixas dos pacientes, que não conseguem agendar consultas, fazer exames e até mesmo retirar medicamentos.
Exemplo é a aposentada Tereza Gomes de Lima, 68, que além de não conseguir retirar os remédios para pressão na Unidade do Jardim Primavera, em Mauá, aguarda desde dezembro agendamento de consulta e exames para avaliar as frequentes dores na bexiga. “Dizem que não tem médico e que devo esperar uma nova agenda abrir, mas isso nunca acontece”, conta.
Mauá dispõe de 47 vagas elegíveis para suprir o programa – 34 por meio do Termo de Cooperação com Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) -, entretanto apenas 79% foram preenchidas. Dez vagas estão em aberto e aguardam próxima chamada do edital de convocação do Ministério da Saúde.
A defasagem em Mauá afeta também a auxiliar de produção Daniela Rocha de Almeida, que desde agosto espera para fazer exame de sangue e urina, também na unidade do Primavera. “Logo vence a guia e eu não consegui fazer os exames”, diz indignada. A moradora reclama que a unidade atende somente casos específicos de emergência e os outros pacientes são mandados para casa por falta de profissionais na rede. “Minha mãe tem diabetes, pressão alta, já teve AVC e mesmo assim não consegue fazer exame. O que precisa acontecer para que nos atendam?”, questiona.
Enfermeira
Em Santo André a situação é parecida. Apesar de restar apenas uma vaga para que os 18 médicos sejam restabelecidos no Mais Médicos, os usuários apontam problemas no atendimento. A dona de casa Conceição Sanches demorou mais de um mês para conseguir agendar consulta na US Jardim Alvorada, quando voltou com os exames não havia médicos para avaliar a sua condição de saúde. “Uma enfermeira quis abrir o exame e me passar o resultado, mas me recusei a mostrar, pois tenho direito de ser atendida por um médico”, reclama a moradora, que ainda espera por atendimento.
Também em Santo André, desta vez na unidade do Bangu, Anderson Rodrigo Ribeiro conta que sua mãe, Ivete, esperou mais de 7 horas para ser atendida na unidade e, mesmo assim, é raro conseguir atendimento. “Ela toma um remédio para asma e precisa fazer um novo exame para retirar o medicamento, mas não consegue sequer vaga para consulta”, reclama indignado.
Em São Bernardo, mesmo com realocação de profissionais para que não faltasse atendimento e com a contratação de 15 novos médicos para repor as 17 vagas em aberto, a operadora de máquinas Adriana Sousa de Oliveira diz ter esperado pelo menos três meses para agendar consulta, e mesmo assim, ainda enfrenta problemas para marcar cirurgia. “Fui diagnosticada com calázio nos olhos e desde novembro me enrolam para marcar a cirurgia. Foi quando liguei na ouvidoria do SUS para entender a demora e disseram que o pedido nem havia sido enviado. Quantos meses terei de esperar agora?”, pergunta.
Em Diadema, o quadro de defasagem de dois médicos cubanos já foi reposto com a contratação de dois profissionais generalistas, sendo um na região central e outro na região norte da cidade. Em Ribeirão Pires, no lugar dos sete profissionais que saíram, outros seis já foram repostos e uma vaga está em aberto e deve ser disponibilizada pelo Ministério da Saúde em novo edital. Rio Grande da Serra não informou o número do desfalque na rede. São Caetano não possui médicos do programa.