Municípios do ABC ainda seguem com dificuldades de zerar o déficit de vagas para alunos em creches públicas. As filas de espera em seis das sete cidades, neste ano, somam 15,7 mil crianças, de zero a três anos. Em 2017, o número total da região chegava a 21,6 mil. Apesar da aparente queda, mães ainda enfrentam dificuldades para trabalhar, sem se preocupar com quem deixar os filhos ou as filhas.
Segundo levantamento do RD junto às prefeituras da região, Santo André é a cidade que atualmente concentra o maior déficit de vagas. De acordo com o governo, a fila de espera neste ano letivo está em 5,4 mil crianças. O município é acompanhado de Diadema, que contabiliza 4,5 mil alunos a menos na rede pública, seguido de São Bernardo (3,4 mil), Mauá (2,2 mil), Ribeirão Pires (154) e Rio Grande da Serra (49).
Entre as sete cidades da região, apenas a Prefeitura de São Caetano não esclareceu o número real de fila. Por essa razão, a reportagem decidiu conversar com mães que encontram dificuldades e evidenciam que, apesar dos dados serem ocultados pelo governo municipal, o problema com a falta de vagas nas creches públicas é real, tira emprego e renda de famílias, e aparenta estar longe de uma situação ideal aos moradores da cidade.
Esse é o caso da auxiliar de acabamento Kaliana Ferreira Bandeira, 35 anos, que tenta matricular seu filho, de um ano e sete meses, em uma das creches municipais de São Caetano. No entanto, segundo a moradora, os transtornos começaram em outubro. “Foi quando as inscrições começaram, mas não fui informada. Fui à Secretaria de Educação e pediram para voltar em janeiro. Então voltei e levei os documentos”, diz.
Kaliana relata que recebeu a ligação da Secretaria de Educação no ambiente profissional, para dar continuidade na matrícula do filho, porém, não conseguiu atender na hora. Agora, ouve da Prefeitura de São Caetano que precisa aguardar de novo. Com faltas devido aos cuidados da criança, chegou a ter uma queda de 50% no salário. “Levo o meu filho ao trabalho e dou o celular para ele brincar”, completa.
A auxiliar de serviços Jessica dos Santos Grigoleto, 27 anos, também precisa levar o filho, de um ano e cinco meses, ao trabalho, enquanto espera por uma vaga de creche em São Caetano. “Levei todos os documentos. Aí ligamos em janeiro, quando esperávamos por uma carta de matrícula. Mas falaram que meu pedido estava indeferido, porque faltou comprovante de imobiliária para provar onde moro”, recorda.
Desempregada, Ana Luiza Ferreira Lucio voltava para casa com os dois filhos, como faz rotineiramente de segunda a sexta-feira, na Bairro São José. Em uma das mãos, segurava o filho de quatro anos, já na rede pública; na outra, a filha de quase dois anos, ainda na espera por creche. “Já fiz a matrícula para ela. Aí me deram protocolo. Mas quando fui na Secretaria de Educação, me informaram que estava vencida e tive de fazer tudo de novo”, cita.
Segundo moradores, outro problema em São Caetano é os casos matrículas de crianças longe da residência dos pais, o que eleva os gastos com transporte público ou escolar. O RD ligou para Secretaria de Educação, que orienta os pais a irem ao local (na avenida Goiás, 950, bairro Santo Antônio) para se informar da lista de documentos necessários. A exigência, segundo a Pasta, é que a família seja residente da cidade.
Santo André
De 2017 a 2018, Santo André reduziu o déficit de matrículas nas creches públicas de quase 6 mil vagas para 5,4 mil. O governo informa que a previsão é que sejam atendidas cerca de 8,7 mil crianças, de zero a três anos, pela rede pública até dezembro. A meta, segundo nota da Secretaria de Educação, é entregar 10 novas creches até 2020, o que geraria aproximadamente 3,5 mil vagas.
Diadema
Com a segunda maior fila de espera da região, a Prefeitura de Diadema diz que inaugurará neste ano as Emebs (Escolas Municipais de Ensino Básico) Irmã Dulce e Sagrado Coração de Jesus. No ano passado, o prefeito Lauro Michels (PV) chegou a dizer que o déficit era de 7 mil vagas, mas segundo a Pasta de Educação, o número deste ano está em 4,5 mil. Hoje, a rede atende 7 mil crianças.
São Bernardo
Com 3,4 mil crianças, de zero a três anos, à espera por vaga em uma unidade educacional – em 2017, o número era 4 mil –, a Prefeitura de São Bernardo garante que há duas novas creches em vias de inauguração neste ano, embora não diga os prazos de entrega. Neste ano letivo, o município tem matriculadas 9,4 mil crianças, entre as 35 creches públicas e mais 22 conveniadas.
Mauá
A Prefeitura de Mauá explica que espera ainda neste ano reduzir a fila de espera de 2,2 mil crianças, uma vez que ainda há matrículas em andamento. Em nota, a administração municipal afirma que está prevista para maio a inauguração de mais uma unidade escolar com capacidade de 330 vagas. No ano passado, o déficit estava em 3,6 mil.
Ribeirão Pires
Há um ano, Ribeirão Pires registrava déficit de 427 matrículas na rede pública, número que caiu para 154 em janeiro. A Secretaria de Educação, Inclusão, Cultura e Tecnologia informa que adotou critérios para cadastros com intuito de reduzir a fila de espera, como comprovação de residência na cidade; crianças em situação de vulnerabilidade social; menor renda per capita por família; e pais que trabalham fora do lar. A previsão é de 2,4 mil alunos nas unidades escolares em 2018.
Rio Grande
Rio Grande da Serra conta com 49 crianças na espera por vagas em creches no atual ano letivo, número que estava em 150 em 2017. A administração avisa que inaugurará brevemente a creche na Vila São João. Atualmente, a rede atende a 2,1 mil alunos.