
Em minha adolescência fui militante e entusiasta, naquele momento, do recém-parido Partido dos Trabalhadores. Acreditava que a sigla se constituía no instrumento perfeito para realização das transformações sociais, econômicas e políticas que a Nação tanto ansiava. Em 1988, estive nas ruas pedindo voto e posteriormente, comemorando a vitória de Luíza Erundina à Prefeitura de São Paulo. No ano de 2002, mesmo não tendo sufragado o voto na legenda, considerei que a conquista de Lula, se tornaria marco na consolidação definitiva de uma república plural e democrática. Porém, nesse espaço, não tripudiarei sobre a imagem da agremiação que se apresentava como baluarte na luta pela moralidade pública, que posteriormente aderiu ao jogo e práticas do tradicionalismo oligarca e, desde então, abandonou o Estado brasileiro à mercê de todos os tipos de hienas, abutres e demais devoradores de carniça.
Em minha opinião, o PT se transformará num agente de pouca expressividade na reconstrução dos fundamentos republicanos, principalmente pela incapacidade em ampliar o diálogo para além de suas fileiras. Agarrou-se à tese do “golpe” com o afinco de uma criança birrenta que perdeu o brinquedo por mau comportamento. A militância se colocou na posição fetal, ao buscar o reconforto no útero materno da luta de classe, com desfile de adereços com imagens de Fidel Castro e Ernesto Che Guevara, sem se dar conta do mundo revolucionário cunhado por Bill Gates, Steve Jobs, Mark Zuckerberg, Larry Page e outros.
Seus intelectuais permanecem a publicar defesas desinteressantes e enfadonhas, em razão da completa ausência de ineditismo ou insights. Presentemente, os petistas conseguem apenas confabular com outros de sua espécie, pois não há qualquer segmento na sociedade, que se predisponha a seguir Lula, nos mesmos moldes e obstinação daqueles que idolatravam Jim Jones, o pastor messiânico que levou ao suicídio 918 membros de sua seita.
O Partido dos Trabalhadores, diante da crise, recupera os contornos de matilha, ao avançar sobre as instituições e rosnar para parceiros com a qual dividia o poder. Ainda, mais notadamente nas redes sociais, estabelece embates furiosos, ao classificar de coxinhas alienados todos os indivíduos que não comungam da lógica ensandecida. Tal como no bolivarianismo, inexiste na agenda petista a pretensão de construir proposituras universais, a partir da incorporação de postulados e valores de outras correntes ideológicas e programáticas, e negar até mesmo os ditames de José Genoino, quando afirmava que as “práticas e ações que nos trouxeram até aqui, não garantirão a jornada daqui para frente”.
Não existe saída para sobrevivência das esquerdas que não passe pela modernização da visão de mundo. O messianismo marxista, não resiste à elegância de Barack Obama. A imbecilidade putrefata de Maduro não pode ser referencial quando postada diante da inteligência e sagacidade de Macron. O Partido dos Trabalhadores necessita parar de fundamentar a sua existência, justificada a partir de si mesmo. Para tanto, deve abrir mão da arrogância, petulância e autoritarismo que admite o outro, desde que esse negue suas convicções. A obstinação em propagar o discurso da asserção do “golpismo” impediu a realização de uma autocrítica honesta e redentora. Assim sendo, não será o desvio ético que matará o PT, mas a incapacidade de dialogar para além de suas muralhas, sem a imposição obtusa de paradigmas do período vitoriano.
Nilton Cesar Tristão é cientista político e diretor do Instituto Opinião Pesquisa.