ABC - sábado , 18 de maio de 2024

‘Nenhum país está preparado’, diz FHC ao defender regulação das drogas

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu nesta terça-feira, 4, a regulação das drogas como forma de evitar mortes de inocentes em decorrência da guerra ao tráfico. “A guerra ao tráfico está afetando todo mundo. É claro que não vai deixar o bandido solto, tem que prender. Mas não pode, na violência, matar o inocente. O Brasil tem que estar mais alerta a isso. Tem que ter outro paradigma”, disse, ao comentar as mortes de duas adolescentes em Acari, na zona norte do Rio, nos últimos dias.

Ele ressaltou que “nenhum país nunca está preparado” para o debate sobre a descriminalização de drogas, mas todos precisam encarar o problema de forma mais “aberta e franca”. “As drogas fazem mal, todas, mas não adianta só reprimir, e sim educar. Nenhum país nunca está preparado. Tem que fazer. Tem que ensinar. Tem que criar o estado de espírito que leve a isso”.

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FHC deu as declarações ao participar do ciclo de conferências “Segurança pública em debate”, na Academia Brasileira de Letras, da qual é membro desde 2013. O tema foi “As políticas sobre drogas e a crise carcerária no Brasil”. Ele preside a Comissão Global de Política sobre Drogas, instituída pelas Nações Unidas e integrada também pelos ex-presidentes do México Ernesto Zedillo e da Colômbia César Gaviria, além do ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, entre outras autoridades.

Em sua fala na ABL, em um auditório cheio de acadêmicos e público em geral, ele foi porta-voz da posição da Comissão Global sobre o tema. “Em vez de se falar de proibição ou legalização, vamos falar em regulação. Pessoalmente, eu sou careta, tenho horror a cigarro, maconha, mas a gente tem que entender os processos. O Brasil é um dos países com menor índice de consumo de tabaco no mundo, e isso porque houve proibição, campanha. Houve uma rejeição e regulação social.”

Além da repercussão na segurança pública, ele mencionou a “penetração dos cartéis de drogas” no financiamento de políticos. “Daqui a pouco não tem democracia possível. Pode haver tal deturpação da vontade popular que haja distorção muito grande.” Ele acredita na necessidade de se desmistificar o debate sobre entorpecentes. “O medo de usar a palavra legalização é o significado de ‘liberou geral’. Não adianta tapar o sol com a peneira. Eu me exponho, não tenho nada a perder mais. Nós temos que inserir grãos de racionalidade nessa questão da droga. Essa guerra não deu certo.”

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