Doze mil cirurgias por ano, mais de 920 mil pacientes atendidos, 325 leitos e um orçamento de R$ 14,5 milhões. É com este perfil que o Hospital Estadual Mário Covas comemora 15 anos, nesta sexta-feira (18). Referência no País no atendimento médico de alta complexidade, o Mário Covas, além de Hospital Universitário e Escola, está sobrecarregado, no limite, mas com segurança. O médico anestesiologista Desiré Carlos Callegari, superintendente, conversou com o Repórter Diário e contou que entre os planos para desafogar o hospital estão a construção de um complexo administrativo e a entrega antecipada de medicamento pelo correio. Veja alguns trechos da entrevista.
O que o senhor destaca nestes 15 anos do Hospital Mário Covas?
Desiré Carlos Callegari – Atingimos o limite de atendimento, temos 325 leitos ativos e de alta complexidade principalmente. Temos uma rotatividade boa o que possibilita o atendimento de maior número de pessoas. O Mário Covas faz parte hoje da weekend, uma regionalização da urgência e emergência dos municípios da Grande SP e temos média de 120 encaminhamentos pela central de veiculação do Estado, de três vezes mais que o Hospital das Clínicas que atende em média 40. Atingimos todas as metas, somos o primeiro em orçamento e produtividade, e fazemos às vezes até em excesso, porque a situação da saúde é complicada, a saúde teve perda de empregos e também muita gente perdeu plano de saúde. Também os equipamentos municipais estão sem orçamento adequado. Então o Mário Covas está no limite fazendo o possível e dando conta ao orçamento que também não é fácil.
Em campanha todo político gostaria de prometer um padrão de saúde Mário Covas. O senhor crê que isso é possível?
Callegari – Sim, o Mário Covas tem uma qualidade determinante. Temos todo o material necessário pra fazer ótima medicina. Temos cerca de 1,8 mil coordenadores, o que nos permite ter qualidade e segurança. Mas quando chegamos ao limite ficamos preocupados com a manutenção e principalmente com a segurança.
Quando se fala em saúde, o pessoal diz que a qualidade é boa, pois tem as portas fechadas. É de fato fator de comparação?
Callegari – Eu acho que o termo portas fechadas é uma exigência que o Mário Covas tem de ter, é um equipamento de alta complexidade e vai servir de referência aos hospitais da região. Mas não é só a questão de portas fechadas, nós atendemos de vaga zero. A central de regulação nos manda um paciente que precisa de atendimento de alta complexidade e não pode recusar, estamos numa média hoje de 120 vagas zero ao mês. Pra fazer um paralelo ao Hospital das Clínicas que atende 40, estamos com 3 vezes mais. Então a porta fechada é uma ilusão. Necessariamente temos o porta fechada, mas não é o diferencial. Pelo contrário, o Mário Covas deve ser encarado pelos hospitais da região como equipamento que está lá para servi-los. Somos totalmente independentes de hospitais de referência de São Paulo, se a gente for pensar em pacientes cirúrgicos, neurológicos, politraumas, cirurgias cardíacas etc.
A entrega de medicamentos gera um fluxo enorme de pessoas e às vezes não tem remédio. Como resolver isso?
Callegari – A entrega é nossa responsabilidade, mas a compra do material é feita pela farmácia do Estado e nós somos apenas o distribuidor. Nós temos relações diárias com o recebimento de medicamento e os que estão em falta. Em média entregamos 150 produtos e sempre falta 20 a 30 por conta do estoque. A licitação do Estado tem trâmites, mas a nossa eficiência nossa está na distribuição. Temos lá 30 guichês que atendem de 1,5 mil a 1,7 mil pessoas por dia. Hoje temos o sistema informatizado. Existem trabalhos que eu mesmo sou autor de um pra essa distribuição descentralizar. Também existem estudos para compra antecipada. O que eu não consigo fazer é hora marcada, o paciente chegar e retirar a medicação. Na forma que está ele tem uma pré senha e se houver o medicamento eles esperam.
Entrega de medicamento de uso contínuo em casa ajudaria?
Callegari – Ajudaria. Temos planos em andamento. Na farmácia, a compra antecipada de medicamentos, a entrega também antecipada, parte dos medicamentos serem entregues via correio. Medidas que já deviam ter sido tomadas, mas não foram. Mas o Mário Covas é apenas um equipamento que distribui. E pra isso ocupamos os nossos servidores, 30 guichês que funcionam diariamente em dois turnos e que não vencem.
E o orçamento hoje?
Callegari – São R$ 14,5 milhões ao mês, tudo do Estado, atendimento 100% SUS. O dinheiro que entra no orçamento tem de atender a tudo, funcionários, atendimento e a compra de materiais, medicamentos.
Faltam especialistas?
Callegari – Não. Temos profissionais na casa. Outra vantagem é que temos muitos médicos com carteira assinada. Mas, a maioria é contratada pela faculdade, daí exerce a parte didática lá dentro do hospital. E por conta de ser escola, não temos falta de profissionais. Só que diminuímos os ambulatórios. Hoje praticamente temos os cirurgicos, alguns outros pra consulta e os AMES atendem clínicas e especialidades, Santo André e Mauá.
Tem espaço para crescer?
Callegari – Espaço pra crescer foi estudado por mim mesmo e equipe para construir um complexo administrativo que também já foi pra Secretaria de Saúde do Estado, um projeto horizontal, com 1,2 mil m2 de área para recurso que daria aí cerca de 2 a 3 enfermarias a mais. Esse é o crescimento que podemos ter no momento. Precisaríamos de mais um Mário Covas na região, porque são quase 3 milhões de atendidos na região.
O que seria da região sem o Mário Covas?
Callegari – Teríamos de devolver o doente para o hospital de origem, mas a grande dificuldade é que ele não quer voltar e a própria Prefeitura não quer aceitar, então ficamos só com a referência mas podia ter uma rotatividade maior, liberação de leito pra quem tem mais urgência.
Em Mauá, o prefeito Donisete Braga já demonstrou interesse de transformar o Nardini em estadual. O prefeito eleito em São Bernardo, Orlando Morando, também aventa transformar o Hospital de Clínicas em estadual. Isso está no radar?
Callegari – É uma questão orçamentária do Estado, mas sem dúvida nenhum precisa de mais um. E o prédio construído pode complementar, evidente que a forma orçamentária possui complicações.