O projeto de reforma do ensino médio, apresentado pelo presidente Michel Temer (PMDB), no mês de setembro deste ano, tem causado debates em todo o Brasil. Desde a semana passada, estudantes ocupam escolas em todo o país, como forma de protestar contra a medida provisória relacionada ao ciclo fundamental II. Para tratar sobre o tema, o RDtv entrevistou o professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e coordenador do Observatório de Educação do ABC, Paulo Sérgio Garcia.
O professor afirma que no ABC, em 2015, a cada uma hora um aluno abandona a escola no ensino médio. “Veja, o fracasso escolar ainda é um grande problema no Brasil. E o fracasso escolar ainda é um problema no ABC, uma das regiões mais ricas no Brasil”, diz Garcia. Os dados são de pesquisa do Observatório de Educação do ABC.
Para o docente, ninguém é contra uma reforma no ensino médio, já que alterações são necessárias. Porém, “hoje em dia, sobretudo reformas curriculares não são suficientes pra mexer com a essência da educação”. O projeto apresentado por Temer, ainda segundo Garcia, foi colocado em pauta de maneira urgente e sem ter sido debatido a contento. “As reformas educacionais impostas e apressadas nem sempre dão certo. […] Muita gente acredita que está sendo uma canetada”, diz.
Também há estudos no ABC que mostram que o jovem aprende mais quando estuda no ano correto da sua idade, já quando “passa do tempo correto, a tendência é que ele aprenda menos”, segundo Garcia. “A essência da reforma me parece interessante, a flexibilização do currículo e a especialização. Ou seja, ao mesmo tempo em que você flexibiliza um pouco o currículo você cria percursos em que o aluno possa seguir, isso não é uma coisa nova”, diz.
Um ponto que precisa de atenção do governo, na opinião de Paulo Garcia, é a infraestrutura escolar, além disso, o nível socioeconômico tem sido determinantes para avaliação do desempenho escolar. “A gente sabe que hoje no Brasil, a partir de avaliações em larga escala, Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), provinha Brasil e o próprio ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) os alunos que têm os melhores resultados são de famílias mais abastadas”, explica.
Vale ressaltar que, as cidades do ABC, não alcançaram a nota do Ideb prevista para o período entre 2013 e 2015, dos alunos da 8ª série / 9º ano. Rio Grande da Serra foi a única cidade que não teve nenhum resultado para a série informado.
Garcia acredita que a infraestrutura da escola influencia o desempenho do aluno, sendo que ele classifica como infraestrutura instalações, bibliotecas, equipamentos, computadores, internet, materiais, serviços de manutenção, entre outros. “Quando você fala só de uma reforma curricular você acaba beneficiando os já beneficiados. Ou seja, as escolas que não têm uma boa infraestrutura, que terão que criar novos percursos, evidentemente, serão mais limitadas”, afirma.
Um laboratório de ciências com microscópio possibilita um ensinamento diferenciado do que apenas uma lousa, exemplifica Garcia. “O que eu quero dizer com tudo isso é que a reforma curricular se não estiver acompanhada de um investimento grande na infraestrutura do Brasil, digo o mesmo para a base nacional comum, é um fator que pode potencializar para uns e para outros acaba sendo um fator limitante”, pontua.