ABC - segunda-feira , 29 de abril de 2024

Bueiros são termômetros de enchentes na rua Álvares de Azevedo

Tiago Rodrigues reclama da falta de atenção da Prefeitura (Foto: Pedro Diogo)

Enchente é um tema que desperta o interesse e a indignação dos funcionários e proprietários dos estabelecimentos da Rua Álvares de Azevedo, em Santo André. Os lojistas até desenvolveram uma técnica para saber se haverá ou não alagamento na via: eles observam a água que retorna dos bueiros quando o córrego Carapetuba, que passa sob a rua, começa a transbordar. É a forma mais eficaz de saber se é o momento para instalar as comportas que protegerão o interior das lojas. Entre os entrevistados, há um consenso: o apoio da Prefeitura é irrisório.

Para piorar, o DST (Departamento de Segurança de Trânsito) de Santo André, instalou uma lombada no cruzamento com a Rua Elisa Fláquer, que impede o escoamento da água e transforma a Álvares de Azevedo numa verdadeira piscina. Tiago Rodrigues, funcionário do estacionamento Carinhoso, cita que o único procedimento para minimizar os danos dos excessos de água é fechar as comportas na entrada do estabelecimento.

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“Não há como prever o quanto irá chover, o jeito é ficar de olho no bueiro, mesmo”, diz o manobrista. Segundo Rodrigues, o estacionamento precisou construir um segundo espaço na propriedade para acomodar os carros dos clientes caso o nível da água suba. A vendedora Amanda Aparecida, da loja S.W.A.T., trabalha bem em frente a um bueiro e confirma a informação de Rodrigues. “Quando começa a escapar água do córrego, é só fechar a comporta e esperar. Não há o que fazer”, afirma a lojista.

Galerias

O córrego Carapetuba, que nasce no bairro do Paraíso e segue até o Rio Tamanduateí, foi canalizado na década de 1970. Como a canalização foi construída em sistema de galerias, as fortes chuvas fazem com que a água escape pelos bueiros e causem prejuízos aos trabalhadores e moradores. As comportas colocadas para proteger as lojas ajudam, mas segundo Arlene Teodoro e Alessandra Araújo, cabeleireiras do salão L.A. Beauty, não são suficientes para sanar o problema.

“Quando os carros passam pela rua, formam ondas e a água invade o salão”, conta Arlene. Alessandra afirma que, quando as lojas têm prejuízos, podem recorrer à Prefeitura e ganhar um “descontinho” na conta de água. “Mas tem que insistir muito, caso contrário, nem isso temos”, reclama a funcionária do salão.

Edson Correia, vendedor de artigos de festas na loja Kit Lembra Festa, recorda que na enchente do dia 5 de março de 2015 a água subiu num curto período de dez minutos. “Não tem como a gente se preparar para uma enchente que vem tão rápido”, lamenta o funcionário. O risco de prejuízo para o estabelecimento é alto, pois os materiais frágeis que são comercializados estragam facilmente. Correia reclama ainda que o valor do IPTU cobrado pela Prefeitura é muito alto, e tal valor não é retornado para o contribuinte por meio de serviços de segurança contra os alagamentos. O vendedor sugere que o valor do imposto seja reduzido e que as estações secas como o inverno sejam usadas para limpar as galerias do córrego. “Não sei quando foi a última limpeza que fizeram”, diz o lojista.

Quanto à lombada construída pela Prefeitura, Eduardo Brasil, proprietário do sebo Pacobello diz que a estrutura tem sido muito útil para o tráfego, mas a água acaba retida na Álvares de Azevedo, atrapalhando o comércio. “A lombada deveria ser planejada para não impedir tanto o escoamento da água. Do jeito que está é muito ruim”, comenta o livreiro. Brasil traz ainda reclamações quanto ao lixo e o chorume acumulado na região depois que a enchente cessa. O não recolhimento dos resíduos, segundo o lojista, é um dos maiores problemas durante as chuvas, pois entopem os bueiros. “É anti-higiêncio. A Prefeitura é aqui do lado, basta o prefeito por a cara na janela que ele vê o problema”, reivindica o vendedor.

A Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) foi procurada pela equipe de reportagem, mas, até o fechamento da matéria, não apresentou resposta quanto aos questionamentos levantados. (Colaborou: Victor Hugo Felix)

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