
Ao menos 769 casos de ataques de cães foram registrados no ABC nos seis primeiros meses de 2025. Os dados, fornecidos pelas prefeituras a pedido do RD, mostram que o problema afeta tanto cães de rua quanto animais com tutor identificado. Em Diadema, os registros superam 250 casos. A situação acende alerta sobre a guarda responsável, a fiscalização e a prevenção de ataques, muitos deles em ruas, praças e parques.
Segundo Gustavo Campelo, aluno de Medicina Veterinária na USCS (Universidade de São Caetano do Sul), adestrador de cães e diretor técnico da Cão Ideal Educação de Animais, a agressividade canina tem diferentes causas. “A agressividade pode ter causas genéticas, ambientais ou uma combinação das duas. Algumas raças apresentam maior predisposição, mas o ambiente, a socialização inadequada, a ausência de limites claros e a falta de educação desde filhote influenciam diretamente. Nenhum cão nasce ‘do mal’, mas certas condições favorecem o tipo de comportamento”, explica.
Notificações de mordidas
Rio Grande da Serra registra 40 notificações de mordidas em 2025, contra 55 no mesmo período de 2024. Segundo a Prefeitura, os dados incluem animais de rua e cães com tutor. O município realiza ações de educação e fiscalização, e recolhe animais ao canil municipal sempre que há vagas. Denúncias podem ser feitas ao Centro de Controle de Zoonoses (11 2770-0205) ou à Ouvidoria (11 2770-0212). Cães recolhidos sem tutor vão para o canil público.
Já Diadema soma 264 casos de agressão por animais entre janeiro e junho de 2025, contra 867 registros no mesmo período de 2024. A maioria envolve cães com tutor conhecido ou animais comunitários. A Prefeitura atua com campanhas de guarda responsável, atendimento médico às vítimas, observação dos animais e investigação dos casos. A Unidade de Vigilância de Zoonoses recebe denúncias pelos telefones 4055-5812 e 4059-589. Animais agressivos sem tutor podem ser recolhidos conforme avaliação técnica. A legislação prevê responsabilização penal e civil para tutores negligentes.
Em São Bernardo, 348 casos de mordedura canina ocorreram em 2025, contra 217 no mesmo período de 2024. O município mantém ações de vacinação antirrábica, controle populacional e fiscalização zoossanitária. Cães sem tutor envolvidos em ataques são recolhidos pelo Centro de Controle de Zoonoses, onde passam por avaliação, vacinação, castração e ficam disponíveis para adoção responsável. O canal Atende Bem recebe as denúncias.
Santo André registrou 117 ocorrências de mordidas entre janeiro e junho contra 133 casos registrados no mesmo período de 2024. A Prefeitura promove campanhas de posse responsável, vacinação e castração. Cães observáveis permanecem em seus locais de origem por dez dias. Animais de raças consideradas perigosas, sem possibilidade de observação e sem tutor identificado, são encaminhados à Gerência de Controle de Zoonoses. Os canais para denúncia incluem o número 0800 019 1944 e o aplicativo/site Colab.
As prefeituras de São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires não responderam ao RD.
Casos recente na Praça Maria Quitéria, em Santo André

Em junho, dois ataques com cães da raça pitbull ocorreram em menos de uma semana em Santo André. O mais grave aconteceu no dia 10, quando uma adolescente de 16 anos sofreu um ataque de dois cães na Praça Maria Quitéria, no bairro Camilópolis, ao voltar da escola. Os animais estavam sem focinheira, e a tutora fugiu do local após o ocorrido. A vítima teve ferimentos graves no tórax e nos braços e foi socorrida por populares à UPA Bangu. Após o atendimento, a família optou por seguir para uma unidade de saúde particular.
Dias antes, uma mulher foi mordida por um pitbull na Praça Kennedy, enquanto passeava com sua cachorra de pequeno porte no espaço pet. O cão também estava sem focinheira e coleira, em desacordo com a legislação paulista, que exige o uso de guia curta, coleira, enforcador e focinheira para raças como pitbull e rottweiler em locais públicos.
De acordo com o Código Civil (art. 936), o tutor deve indenizar a vítima, salvo em caso de culpa exclusiva da vítima ou força maior. Já o Código Penal prevê penalidades por exposição ao perigo (art. 132), lesão corporal (art. 129) e, nos casos mais graves, homicídio culposo (art. 121, §3º).
Como agir e se prevenir
Campelo afirma que há formas claras de reconhecer um cão prestes a atacar. “Os sinais mais comuns são rosnado, dentes à mostra, pelos do dorso arrepiados, corpo rígido, olhar fixo e cauda travada. Esses sinais mostram que o cão se sente desconfortável, com medo ou em posição defensiva”.
Ao se deparar com um cão agressivo, a orientação é manter a calma. “Evite gritar ou correr. Não encare o animal diretamente nos olhos. Afaste-se com movimentos lentos e evite virar as costas”, diz Campelo. Caso esteja com outro cão, o ideal é separá-los sem puxões bruscos. Em caso de mordida, o indicado é lavar imediatamente a ferida com água e sabão. “Mesmo se for leve, a pessoa deve procurar atendimento médico e tentar identificar o cão e seu tutor, para checar a vacinação antirrábica”, afirma. A depender da gravidade, a notificação à Vigilância Sanitária pode ser necessária.
Segundo Campelo, cães agressivos podem passar por reabilitação a partir de avaliação adequada, acompanhamento profissional e engajamento da família, sendo necessário paciência, técnica e compromisso.