
Levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que, em 2023, foram realizados 12.956 casamentos no ABC, o que significa mais de mil casamentos mensais na região, porém o número está muito abaixo do registrado em anos anteriores. Em 2015, portanto oito anos antes, a região registrou 20.436 matrimônios celebrados em cartório, uma queda de 36,6%. Enquanto as pessoas estão casando menos, quem estava casado, está saindo da relação formal à dois. O mesmo estudo mostra que os divórcios no mesmo período subiram 108,85%, ou seja mais que dobraram em oito anos.
Em toda a região os divórcios alcançaram a marca de 8.168 em 2023. Em 2015 as separações oficializadas não chegavam à metade disso, foram 3.911 casais que se divorciaram naquele ano.
Na região Rio Grande da Serra teve a maior alta percentual de divórcios, na cidade, entre 2015 e 2023 o aumento das separações foi de 307,7%. O segundo lugar onde os divórcios mais aconteceram fica para São Bernardo, onde a alta foi de 175,2%, passando de 855 para 2.354 cidade com maior número absoluto de divórcios segundo o IBGE, feito com base em dados de 2023.
A cidade onde o divórcio cresceu menos, foi Diadema, mesmo assim, no município a alta foi de 15,07% em oito anos. passando de 1.128 para 1.298. Mas se o divórcio cresceu menos do que nas outras cidades, o número de casamentos oficializados no cartório de Diadema caiu importantes 41,36%, sendo a segunda maior queda no período; de 3.793 para 2.224 matrimônios no comparativo entre os anos de 2015 e 2023. Depois de Diadema, a cidade com maior variação negativa em casamentos é Rio Grande da Serra, com queda de 43,80%.
Para a socióloga Silmara Conchão, professora da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), os números refletem uma mudança profunda sobre o que a sociedade considera casamento, que nem sempre está ligada à oficialização em cartório. Para ela o país está experimentando novos modelos de formação familiar. “Tem muita gente que vive em união estável e não está nesse casamento tradicional do cartório. É tudo muito burocrático na hora de casar e também na hora de separar. A gente vem mudando as práticas sociais, se contraponto a esse modelo universal heteronormativo, buscando outras formas de se relacionar. Inclusive tem relações estáveis e até casamento formal em que as pessoas moram em casas separadas. Isso ocorre para que haja sustentabilidade, para que a rotina não leve esse casal ao esgotamento; o dia a dia é marcado por muita luta, pelos problemas do cotidiano, então muitas pessoas optam por essa revisão do que é casar. O casamento padrão ainda é uma realidade, mas os números estão apontando outras possibilidades”, analisa.
Segundo a socióloga, principalmente a mulher está se libertando de amarras sociais, culturais e religiosas, para optar se quer ou não ter marido e filhos. “Ainda tem muito romantismo em torno desse casamento heteronormativo, que vem da nossa educação, cultura e religião, que colocam a mulher como a princesa a espera de um príncipe, aquela mulher que é passada como um objeto da mão do pai para o marido. Essa é uma cultura que fez muito mal às mulheres. Hoje elas estão em uma sociedade onde é possível fazer escolhas sobre a vida, sem padrões impostos por cultura histórica e que parecia imutável. Vejo os números do IBGE como reflexo de um avanço do movimento de mulheres se contraponto a um modelo universal de casamento que é, na verdade, um contrato sexual. Esse modelo está falindo, porque as mulheres conquistaram maior autonomia. Essas conquistas, porém, não alcançaram todas as mulheres como as pobres e negras onde o feminicídio as vitima em maior em número. As conquistas precisam atingir todas as mulheres”, analisa Silmara Conchão.
A professora aponta para transformações não apenas sociais, mas econômicas também, como resultado de menos casamentos e mais divórcios. Segundo ela um reflexo é a comercialização de mais apartamentos de um dormitório e sem vagas de garagem, que atendem melhor a pessoas solteiras ou, no máximo, a casais sem filhos. “É uma transformação social e econômica o que vemos, não só com os apartamentos menores, mas isso também afeta um setor econômico muito importante que é o de festas de casamento”, completa a socióloga.