Ribeirão Pires tem se destacado na região pelo avanço de suas políticas públicas no que se refere ao bem-estar animal. A cidade, que antes realizava apenas ações pontuais, como castração e aplicação de vacinas em pets, agora conta com um departamento estruturado que atua tanto na proteção de animais domésticos, como cães e gatos, quanto no resgate de animais, como um todo, e preservação da fauna silvestre.
À frente do trabalho está o biólogo Marcus Leap, que também é subsecretário de Fauna da Secretaria de Clima, Meio Ambiente e Habitação no município. Em entrevista ao RDtv, o profissional comenta sobre a evolução dos serviços, os desafios enfrentados e a importância da conscientização da população para garantir uma convivência mais responsável e equilibrada com os animais.
“Antes de 2021, a atuação da cidade era basicamente limitada às campanhas de castração. Hoje, temos um departamento completo, com equipe técnica e protocolos definidos, que olha para o bem-estar animal de forma muito mais ampla”, explica Leap ao frisar que, neste momento, o trabalho do departamento vai muito além dos pets.
Com vastas áreas de vegetação nativa e um importante corredor ecológico, Ribeirão Pires também abriga uma fauna silvestre diversificada. Por isso, o município ampliou sua atuação para o resgate de animais como saruês, aves e serpentes. Para se ter ideia, apenas na temporada de primavera-verão, a média foi de uma serpente peçonhenta capturada por dia. “Nossa prioridade é agir com segurança e preservar a vida desses animais. Também trabalhamos para conscientizar a população a não agredir ou matar os bichos, que são parte do equilíbrio ambiental”, afirma o biólogo.
Para isso, o atendimento começa desde o primeiro contato da população. “A gente precisa entender o cenário em que o animal se encontra: se está ferido, acuado por um cão, se há crianças por perto. A partir disso, damos as orientações básicas até a equipe chegar”, explica. Em casos de urgência, o protocolo é isolar a área onde o animal está e aguardar os profissionais. “Por exemplo, se a pessoa encontrar um saruê no quintal, orientamos manter distância e evitar qualquer ação até que a equipe chegue ao local”, explica.
O contato pode ser feito por telefone fixo, WhatsApp ou pelo aplicativo Ribeirão Pires Digital. Segundo o subsecretário, o WhatsApp tem sido o meio mais ágil, uma vez que permite o envio de vídeos e fotos para análise imediata. Já o aplicativo municipal concentra não apenas os pedidos de resgate, mas também agendamentos para campanhas de castração, solicitações de palestras ambientais e outras demandas relacionadas ao bem-estar animal. “Tudo está centralizado ali, o que ajuda muito na organização e no atendimento das ocorrências”, acrescenta.
Comércio ilegal e adoção responsável
Um dos principais desafios que o departamento enfrenta atualmente é o de combate ao tráfico de animais silvestres. De acordo com Leap, muitas espécies ainda são mantidas irregularmente em cativeiro, o que exige maior fiscalização da equipe, esta feita em parceria com a Guarda Civil Municipal Ambiental. “Ainda há pessoas que capturam animais e os mantêm presos em gaiolas, e precisamos mudar essa cultura. Ribeirão tem uma fauna abundante, mas também vulnerável”, alerta o biólogo.
Além do cuidado com os silvestres, o município também se preocupa com o destino dos animais domésticos resgatados, uma vez que a adoção irresponsável também era um problema recorrente na cidade. Hoje, a adoção é feita com base em critérios que avaliam idade, perfil do adotante, espaço físico e condições financeiras.
“A prioridade é para pessoas com mais de 21 anos, que tenham como arcar com os custos veterinários e oferecer um ambiente seguro. A adoção precisa ser consciente”, frisa Leap ao alertar sobre os riscos de decisões impulsivas. “Muita gente adota por impulso e, quando surgem problemas de comportamento, como ataques a outros animais, acabam devolvendo ou abandonando o animal na rua”, comenta.
Tecnologia como aliada
Para ampliar o alcance das feiras de adoção e a comunicação com os munícipes, a cidade tem apostado na tecnologia como maior aliada. Segundo o subsecretário, 98% dos processos de adoção são feitos via celular, por meio de aplicativo, e das redes sociais. Além disso, a cidade também realiza feiras de adoção mensais para apresentar os animais disponíveis.
Para Marcus, mais do que punir, é preciso educar a população no que se refere ao cuidado animal. Em sua visão, a conscientização é o caminho mais eficaz para garantir o bem-estar dos animais e o equilíbrio ambiental. “Cuidar dos animais é cuidar da cidade. Não basta resgatar: é preciso transformar a relação da população com a fauna, seja ela doméstica ou silvestre”, diz.