
O preço das proteínas, como carne bovina, frango e ovos, disparou nos últimos meses, com aumentos de até 20%, e tem pesado no orçamento dos brasileiros. Especialistas apontam que a alta em si não tem um único culpado, mas resulta de uma combinação de fatores econômicos e climáticos, como secas, variações cambiais e aumento nos custos de produção e transporte. Com esse cenário desafiador, a expectativa é de que os preços continuem elevados, com alívio real apenas a partir de 2026.
Fábio Vezza de Benedetto, engenheiro agrônomo da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), afirma que a elevação dos preços ocorre em um contexto de oscilações econômicas e desafios na produção, especialmente devido ao calor extremo desde o final de 2024. “A carne bovina sofre com a entressafra e eventos climáticos extremos, que elevam os custos de produção e transporte”, explica.
Entre as proteínas mais procuradas e consumidas no verão estão frango e ovo, que também foram significativamente impactados por esses fatores externos. “O custo da ração animal, composta por milho e soja, sofreu impacto da desvalorização do real em relação ao dólar e elevou o preço final ao consumidor. O aumento no preço do milho, essencial para a alimentação das aves, reflete diretamente nos custos de produção do frango e, consequentemente, dos ovos. Como esses são alternativas mais acessíveis à carne bovina, a alta demanda também contribui para a elevação dos preços”, comenta Benedetto.
Outro fator que também tem contribuído para o aumento dos preços são os custos logísticos e energéticos. “O preço dos combustíveis impacta o transporte de alimentos, e a conta de energia elétrica interfere diretamente na produção, o que eleva os custos operacionais para pecuaristas e agricultores”, acrescenta o engenheiro agrônomo.
Consumo excessivo pode trazer problemas
No verão e em épocas mais quentes do ano, é comum que as pessoas iniciem algum tipo de atividade física que peça maior ingestão de proteínas para garantir o crescimento muscular, a recuperação pós-exercício e a manutenção da saciedade – o que contribui também para o controle do peso. No entanto, Valéria Machado, mestre e doutora em Ciências pela Unifesp e CEO das marcas Nutrir Corphus e Nutrir Company, alerta que o consumo excessivo de proteínas pode trazer riscos à saúde.
“Consumir proteína em excesso pode sobrecarregar os rins, desequilibrar a ingestão de macronutrientes e elevar o colesterol, principalmente quando se trata de proteína de origem animal, que vem acompanhada de gordura saturada”, ressalta a nutricionista.
O tema ganha ainda mais visibilidade com a participação da influenciadora e fisiculturista Gracyanne Barbosa no BBB 25, já que seu alto consumo de ovos reacendeu debates sobre o uso descontrolado de proteínas e seus possíveis impactos à saúde. Diante do fato a nutricionista desmistifica a ideia de que “quanto mais proteína, melhor” e explica que o organismo possui um limite para absorver e utilizar esses nutrientes de forma eficiente; o excesso pode ser armazenado como gordura ou excretado, o que representa um risco sério à saúde.
Alternativas
Com os preços das proteínas em alta, buscar alternativas mais acessíveis pode ser essencial para manter a alimentação equilibrada sem comprometer o orçamento. Segundo Valéria Machado, cortes magros de frango, sardinha enlatada e carne moída podem oferecer melhor custo-benefício ao consumidor, especialmente no período de alta de preços.

Na Grande São Paulo, por exemplo, o preço da caixa com 30 dúzias de ovos brancos passou de R$ 172,49 em fevereiro de 2024 para R$ 203,57 em fevereiro de 2025, um aumento de 18%. Já para os ovos vermelhos, o valor subiu de R$ 200,25 para R$ 229,78 no mesmo período, representando um incremento de 14,7%.
Em relação ao quilo do peito de frango, enquanto a opção sem osso pode ser encontrada por aproximadamente R$ 21,50 em alguns estabelecimentos, cortes como a coxa do frango apresentam preços mais acessíveis, variando entre R$ 8,90 e R$ 11,90 por quilo. A sardinha enlatada pode ser encontrada por valores entre R$ 4,90 e R$ 8,90, enquanto o quilo da carne moída gira em torno de R$ 25,90 a R$ 27,90.
Optar por essas alternativas pode gerar uma economia significativa. Por exemplo, substituir o peito de frango por cortes mais baratos e diversificar as fontes de proteína, um consumidor que compra 5 kg de peito de frango por mês poderia economizar cerca de R$ 60 ao optar por coxa e sobrecoxa. Além disso, a sardinha enlatada, além de ser uma opção acessível, é rica em ômega-3, oferece benefícios adicionais à saúde.
Quaresma terá preços altos
Outro período que preocupa especialistas é a Quaresma, que tradicionalmente eleva a demanda por ovos, tanto para consumo direto quanto para a indústria, o que pode pressionar ainda mais os preços. Na visão de Benedetto, é importante que as famílias comecem a considerar alternativas desde já. “Não temos algo no curto prazo que possa reverter essa tendência de alta, mas é fundamental investir em alimentos ricos em nutrientes que possam ser opções viáveis”, sugere o engenheiro agrônomo.