
O prefeito de São Caetano, Tite Campanella (PL), revogou a nomeação de Rodrigo Toscano, aliado próximo ao antecessor José Auricchio Júnior (PSD), no cargo de assessor de gabinete da assessoria técnica legislativa, vinculada à chefia de Gabinete, segundo o Diário Oficial desta segunda-feira (17/02). De acordo com o governo, a exoneração se trata apenas de uma transferência de ocupação, mas aliados comentam que se vier a ocorrer, é para uma função ainda não existe na prática.
Segundo nota apresentada pela Prefeitura de São Caetano, de forma bastante resumida, Toscano “será direcionado para uma outra função no governo, que será anunciada oportunamente”. A designação seria para a vice-presidência da Agência Reguladora de Serviços Públicos Municipais, denominada de Regula São Caetano, criada no fim de 2023, conforme lei municipal sancionada pelo próprio Auricchio.
A indicação de Toscano foi para o cargo de vice-presidente do Regula São Caetano aprovada no fim do ano passado pela Câmara dos Vereadores, mas a instituição ainda não saiu do papel pela nova gestão, por motivos orçamentários, segundo aliados de Tite. O prefeito aplicou um contingenciamento de 12% sobre a planilha de despesas no exercício 2024 e, por ora, não há qualquer anúncio para o pontapé da agência.
Toscano é pessoa de grande proximidade de Auricchio, exercendo durante os seus quatro mandatos de prefeito as funções de assessor de gabinete, secretário municipal de Governo, de Mobilidade Urbana e superintendente do Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental), muitas vezes acumulando funções. Por indicação de Auricchio, ele também esteve presente no governo interino de Tite, em 2021, no comando da mesma autarquia.
Justamente naquele ano, Toscano foi alvo de denúncia do MPE (Ministério Público Eleitoral), por contribuir como tesoureiro, segundo a Promotoria, pelas as ilegalidades na campanha eleitoral em 2016, que conduziu Aurichio para o terceiro mandato de prefeito. A acusação se baseou na formação de caixa dois, por doações que teriam como origem a empresa Globo Contábil, contratada para aquela eleição, e que teria usado pessoas físicas para mascarar recursos empresariais, de natureza proibida pela Justiça Eleitoral.
Por conta desse imbróglio, Auricchio esteve quase um ano impedido de assumir o quarto mandato no comando do Palácio da Cerâmica, enquanto Tite governava interinamente. A decisão somente foi revertida em dezembro de 2021, pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que optou por sete votos a zero, ao garantir sua posse no governo que se encerrou no fim do ano passado, passando a vez para Tite, vencedor do último pleito municipal.
Sem muito espaço
De certa forma, a exoneração de Toscano na administração direta não deixa de ser um indício de um possível afastamento de Tite às indicações apontadas por Auricchio. Um exemplo disso é o caso da vice-prefeita Regina Maura (PSD). Aliada de linha de frente do ex-prefeito e secretária de Saúde na gestão dele, a número dois do Palácio da Cerâmica, hoje, não tem cargos e muito menos influência em qualquer secretaria no atual governo.
Caso doadoras
O caso das doações eleitorais, que envolveu Auricchio e Toscano no epicentro de denúncias, teve ampla cobertura do RD, que chegou a ir nas casas das duas maiores doadoras da campanha do então prefeiturável em 2016. Mãe de uma funcionária da Globo Contábil, Ana Maria Comparini Silva morava em uma residência simples e humilde em Jundiaí e teve repasse em seu nome em R$ 293 mil. À reportagem, ela negou que tivesse tal quantia em seu poder.
Já Maria Alzira Garcia Correia Abrantes era avó do então sócio-administrador da empresa, Eduardo Abrantes, com doação de R$ 350 mil à campanha do hoje pessedista (na ocasião, era filiado ao PSDB). Segundo apuração da reportagem na época, ela estava internada por problemas de saúde, durante o processo eleitoral, que resultou na vitória que consolidou o terceiro mandato de Auricchio.