A pesquisa realizada pela CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de São Caetano com dados do SPC, mostra que a inadimplência caiu no ABC no mês de janeiro, se comparado com o mesmo período do ano passado. A queda foi sutil, de 0,77% porém representativa, se comparada com os dados da região Sudeste do país que registrou alta de 1,09% e é também mais de três vezes e meia menor do que o índice nacional que subiu 2,76%. A pesquisa mostra que grande parte das dívidas, quase 40%, não passa de R$ 1 mil e que quatro em cada dez endividados está inadimplente há mais de três anos. A estimativa é a de que o número de consumidores com nome negativado esteja entre 200 mil e 250 mil pessoas nas sete cidades, o que equivale a população de São Caetano e de Rio Grande da Serra juntas.
Em 2023 o número de inadimplentes no ABC era muito maior, passava dos 350 mil consumidores, o que equivale a população de uma cidade como Diadema. Segundo o presidente da CDL de São Caetano, Alexandre Damasio, há uma explicação para o resultado mais positivo do ABC na comparação com outras regiões; a atividade econômica e a empregabilidade maior da região que estimulam o consumo e o crédito. “De 2023 para 2024 tivemos um acréscimo de quase 10% na inadimplência então essa queda é bem vinda, embora ela ainda some um patamar ainda bastante grande, mas ela tem uma tendência de queda. Uma coisa importante é que a inadimplência é um efeito da concessão de crédito; só consegue gerar inadimplência quando se oferta crédito, então a gente entende que a nossa região é rica, com renda per capita alta, com empregabilidade e, portanto, ela consegue crédito mais do que outras regiões”.
Para Damasio, a falta de conhecimento e a necessidade do crédito rápido, principalmente pelos pequenos empreendedores. “O nicho de mercado do empreendedor é de um tíquete médio mais baixo. Esse empreendedor é um consumidor de crédito, seja pelo cheque especial ou no CDC. Esse empreendedor vai ficar inadimplente na faixa de banco porque ele vai, para conseguir vender mais, se endividar mais e ali ele vai encontrar um crédito caro, mas fácil de ser tomado. Isso é um dado importante porque quanto mais fácil é o crédito, mais caro ele é. O modelo de mercado faz com que não se percebam os juros embutidos no crédito, mas se atém a parcela que se tem que saldar mês a mês, se esquecendo que, a longo do prazo, vai pagar mais que o dobro do valor tomado”, analisa o economista presidente da CDL de São Caetano.
Os números mostram que historicamente janeiro tem uma queda na inadimplência, porque se vem de um período de consumo alto, das festas de fim de ano, e se entra em início de ano com as despesas como IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores), IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e material escolar. “A inadimplência demora a refletir no mercado em até 60 dias, então janeiro sempre tem queda, mas no primeiro trimestre tem aumento. A região gasta bastante, tem um tíquete médio grande de Natal, e tem dificuldade com as contas de início de ano, as contas habituais como IPTU, material escolar e o crédito, principalmente do cartão, vão estourar em fevereiro ou março”, analisa Damasio.
Perfil
A pesquisa CDL São Caetano/SPC mostra que o inadimplente típico do ABC deve há mais de 20 meses, mas continua se endividando, o que revela a falta de uma educação financeira. “Ele foi negativado e faz 20 meses que ele continua negativado. Se junta esse a esse dado que quase 60% das dívidas estão no patamar de até dois salários mínimos, numa região de alta empregabilidade como a gente tem, de industrialização e de uma parcela importante da economia regulamentada. Falta organização para ele que consiga quitar suas dívidas uma vez que o tíquete médio de inadimplência é baixo. Se em 20 meses se organiza com R$ 100 ao mês, consegue fazer uma boa negociação. A educação financeira é um elemento importantíssimo na virada de chave que estamos vivendo historicamente, que é a nova matriz tributária. O ABC vai viver do tributo sobre o consumo, uma população que consome mais, que tem capacidade de pagamento é o que vai garantir que nossas cidades continuem ricas”, aponta Alexandre Damasio.

Algumas ações podem ter contribuído para o índice menor de inadimplência do ABC do que apenas a capacidade da economia local. Além da educação financeira ter ganho mais espaço o ABC tem uma renda per capita maior. “Temos falado muito sobre educação financeira, tivemos o projeto Financeiramente que rodou entre novembro e dezembro nos modais de ônibus de São Caetano, impactando 1,6 milhão de pessoas e a CDL começa a medir esse efeito. Analisando a queda no ABC e o aumento no sudeste percebe-se esta parte do país acumula consumidores com menor renda per capita então, sem condição de fazer essa troca de dívida. No ano passado tivemos o Feirão SPC, Feirão Serasa, o Financeiramente, a Associação Brasileira de Educação Financeira também teve uma ação. A gente entende que esse conjunto pode ser relevante nesta diferenciação”.
A pesquisa mostra a persistência da reincidência do inadimplente. Damasio explica que depois da dívida quitada, num período de 12 meses mais de 36% dos consumidores voltam a ficar inadimplentes. As dívidas pequenas e resultantes do consumo de serviços essenciais como água e luz são mais preocupantes. Esse tipo de consumo registra 14,93% dos inadimplentes. “Isso nos preocupa porque o tíquete médio é muito pequeno, de R$ 70, R$ 100, até R$ 150. Esse índice já chegou, em 2024, a quase 17% e está nessa média há muitos meses e a gente não percebe as concessionárias de água e de luz tendo atividades proativas para diminuir esse percentual”, completa.