A economista e doutora em Arquitetura e Urbanismo, Gisele Yamauchi, publicou uma recente tese de doutorado sobre o processo de desindustrialização do ABC. Denominado ‘Esvaziamento Industrial, Financeirização e Território no Grande ABC Paulista à Luz das Shriking Cities (cidades em encolhimento)”, o estudo aponta o longo caminho que as sete cidades têm para retomar sua industrialização, comparando com o resultado obtido pela região de Paris (França) quando passou pelo mesmo problema.
Em seu mestrado, Gisele fez uma análise sobre os galpões disponíveis para a indústria no ABC, fato que segundo a especialista gerou “mais perguntas do que respostas”. “Quando eu falei que eu tinha terminado o meu mestrado com muito mais perguntas do que respostas. E uma delas, ela acendeu uma luzinha laranja, no sentido assim, amarela piscante para mim, em relação à obsolescência regional. Isso foi um ponto inicial, e aí eu cheguei no termo em declínio industrial que levou-me ao conceito da shrinking cities. A shrinking cities, num aspecto bem expandido, você tem uma ideia, ele envolve um conjunto de tipologias de encolhimento.”, explicou.
Após conseguir uma vaga na Escola Normal Superior de Paris, a economista migrou para as terras francesas e passou a estuar como a região metropolitana da Capital Francesa encarou a mudança de sua base econômica, assistindo as indústrias seguindo para o interior ou para outras nações no chamado “Sul Global” e focando no turismo. Algo semelhante com o que aconteceu no ABC nos últimos 30 anos, mas neste caso perdendo empresas para o interior paulista.
Gisele explica que outra diferença é que o ABC, apesar da queda do número de empresas no setor industrial, teve aumento de suas exportações. Tal contradição, em seu entendimento, abre uma brecha para a retomada. Mas para tal, é necessário um caminho longo e que envolvem diversas áreas e entes, pensando no longo prazo.
O primeiro ponto é levar os planos diretores à sério, principalmente para a garantia que as áreas industriais não sejam dedicadas para outros setores como comércio e serviços ou mesmo que sejam transformadas em áreas habitacionais. A região conta com dificuldades de encontrar espaços de 10 mil metros quadrados ou mais para oferecer para grandes indústrias.

“Eu reforço isso toda vez que eu tenho alguma reunião nas instâncias, tanto do Consórcio (Intermunicipal Grande ABC) quanto da Agência (de Desenvolvimento Econômico do ABC). A gente precisa, de uma forma, fazer a lição de casa. Fazer um plano diretor no sentido estratégico, econômico e ainda, eu falo ambiental. Eu compro bastante essa ideia da França, porque é uma maneira muito acertada, eles conseguiram abrir um mapa de toda a região metropolitana lá de Paris e colocar como se fosse um jogo de tabuleiro o que cada região, para você distribuir economicamente, que são as zonas econômicas que eles separam, são os polos econômicos que estão separados, eles dividiram algumas cidades que seriam estrategicamente, de uma forma que pudessem ser tanto geradores de empregos, mas, sobretudo, também de girar a economia em vários sentidos.”, disse Gisele.
Outro ponto é criar sua própria tecnologia, principalmente a chamada tecnologia verde, aproveitando o potencial nacional. O terceiro objetivo é focar na educação para ensinar a população, independente de idade, sobre esses novos processos industriais, assim gerando uma mão de obra qualificada para as novas revoluções tecnológicas.
Tudo isso, na visão de Gisele, deve contar com um plano de estado que possa ficar acima das disputas políticas ideológicas ou partidárias, que possam fazer com que a região evolua no longo prazo. E para isso, a Agência de Desenvolvimento Econômico seria o melhor caminho, porém, a entidade precisaria de uma renovação para ampliar o número de participantes e assim ter um entendimento amplo do que pode ser feito.