Prefeitos eleitos e reeleitos do ABC planejam transformar a mobilidade urbana a partir de 2025 com a ampliação da estrutura de ciclovias e a criação de uma inédita “política cicloviária”, cujo objetivo é promover o uso da bicicleta como meio de transporte sustentável nas cidades. A iniciativa busca integrar as cidades da região, desafogar o trânsito intenso nas cidades, reforçar a segurança dos ciclistas e ampliar as faixas de acesso.
O plano de governo o prefeito eleito em Santo André, Gilvan Júnior (PSDB), já prevê a criação de “rotas cicláveis”, implantação de infraestrutura cicloviária, ciclovias, ciclofaixas e paraciclos, a fim de incentivar o uso da bicicleta como modal de transporte sustentável. No entanto, a cidade que atualmente conta com mais de 5,6 mil quilômetros de ciclovia, prevê para 2025 a extensão de mais 57,31 km de ciclovias em calçadas, canteiro central e segregada, além de 69,9 km de ciclofaixa, através do PlanMob.
Quem pedala na cidade diz estar empolgado com a informação, mas assume o receio quanto ao investimento na infraestrutura para os ciclistas. “Nossa cidade sequer conta com pontos de apoio ou bicicletários municipais, então fica difícil acreditar que as promessas atenderão às demandas dos ciclistas”, afirma o estudante Ramon Moura Baptista, 27, morador da Vila Alpina. Segundo ele, as ciclofaixas existentes apresentam falhas. “Muitas começam e terminam no meio do caminho, estão apagadas ou mal conservadas”, critica.
Em São Bernardo, o prefeito eleito Marcelo Lima (Podemos) incluiu no plano de governo a criação de um sistema integrado e permanente de ciclovias a partir de 2025, com atualizações periódicas. Entre as metas, estão conectar empresas a grupos esportivos e mapear vias para a implantação de mais ciclovias. Hoje, a cidade possui 14 km de vias exclusivas para bicicletas, um avanço significativo em relação a 2018, quando havia apenas 1,5 km.
Já em Rio Grande da Serra, a previsão é de que mais 2 km de ciclovias sejam implantados a partir de 2026. Atualmente, o município dispõe de apenas 500 metros de extensão no Parque Linear. A prefeitura informou que a nova rodoviária contará com um bicicletário com 100 vagas para atender os ciclistas.
Rede de ciclovias se expande na região
Em São Caetano, o plano de governo do prefeito eleito Tite Campanella (PL) coloca a mobilidade urbana como prioridade, com ações voltadas à melhoria do transporte público, incentivo ao uso de bicicletas e modos alternativos, além da criação de uma rede cicloviária “segura e acessível”.
De acordo com a prefeitura, até o final do ano, a malha viária cicloviária local alcançará 30 km. “A implantação da Rede Cicloviária de São Caetano reorganiza o espaço urbano e incentiva o uso de modais alternativos, destacando a bicicleta como elemento sustentável para deslocamentos de curta e média distância”, diz uma nota oficial. A nova estrutura também permitirá a integração entre transporte não motorizado e o sistema público coletivo.
Diadema e Mauá carecem de projetos mais robustos
Em Diadema, o plano de governo do prefeito Taka Yamauchi (MDB) não prevê novos investimentos em ciclovias a partir de 2025. O único projeto citado é a integração de modais, com bicicletários nas estações de transporte coletivo e em pontos estratégicos. Atualmente, a cidade conta com 14,9 km de ciclofaixas sem separação física em relação ao tráfego de veículos.
Em nota, a prefeitura informou que a primeira ciclovia do município, com 3,8 km, está sendo construída na avenida Casa Grande. O Plano de Mobilidade Urbana prevê uma rede cicloviária de 110 km a ser implantada nos próximos 10 anos.
Em Mauá, onde Marcelo Oliveira (PT) foi reeleito, não há projetos de ciclovias no plano de governo. A prefeitura não se manifestou até o fechamento da reportagem. Ribeirão Pires também não respondeu às perguntas da reportagem dentro do prazo.
Mobilidade sustentável
Em entrevista ao RD, Enio Moro Junior, gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), avalia que o crescimento desordenado da frota de veículos no ABC, sem o devido planejamento, torna urgente a busca por alternativas de mobilidade para evitar um colapso no sistema viário. “Já passou da hora de qualificarmos o transporte ativo e investirmos em transporte público sustentável”, afirma o professor, destacando as ciclovias como uma solução acessível e viável a ser considerada.
O docente também enfatiza a importância de diferenciar ciclovias de ciclofaixas para garantir a eficácia dos planos de mobilidade na região. “É fundamental entender as diferenças, pois temos visto um foco maior nas ciclofaixas, enquanto as ciclovias estão sendo deixadas de lado”, pontua Moro. Ele explica que a principal distinção entre as duas é a separação física: “O ciclista precisa de uma via segura para pedalar com tranquilidade.”
Eduardo Monteiro Neto, educador físico e organizador de pedaladas noturnas em Ribeirão Pires, critica a falta de estrutura permanente para os ciclistas na cidade. Segundo ele, a segurança para pedalar só é garantida aos domingos, quando a prefeitura organiza as chamadas “ciclofaixas de lazer” nas vias centrais, delimitadas com cones. “Isso só acontece aos domingos. Não dá para ser assim. O ciclista precisa de vias específicas para pedalar com segurança durante toda a semana”, alerta.
Diante da carência de sinalização e infraestrutura apropriadas, os grupos de pedaladas noturnas acabam buscando alternativas em vias menos movimentadas ou até nos acostamentos de estradas. “Muitas vezes, escolhemos trajetos com faixas específicas para pedalar com mais tranquilidade, já que em Ribeirão Pires não há faixas permanentes para ciclistas”, acrescenta Eduardo.