Entre janeiro e novembro de 2023, foram emplacados 39.635 veículos no ABC, sendo 13.930 automóveis e 8.396 motos. No mesmo período de 2024, o total subiu para 48.831, com 16.485 automóveis e 10.552 motos, segundo o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP). O aumento de 23,2% na frota levanta preocupações sobre o agravamento dos congestionamentos, a piora nas emissões de poluentes e a sobrecarga da infraestrutura viária em uma região fortemente marcada pela presença da indústria automotiva.
“Estudos comprovam que o transporte coletivo de qualidade é a resposta para melhorar a mobilidade e reduzir as emissões de carbono, mas essa não tem sido uma preocupação integrada por parte dos governos”, alerta Enio Moro Junior, gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) ao enfatizar que o tema deveria ser tratado como prioridade nos níveis municipal, estadual e nacional.
Medidas equivocadas
O incentivo à mobilidade sustentável, com investimentos no transporte público, surge como uma das soluções apontadas por Enio Moro Junior para enfrentar os desafios impostos pelo aumento do número de veículos na região. “Não adianta criarmos uma faixa azul para motocicletas, por exemplo. Embora seja mais segura, essa ainda é uma medida equivocada, pois valoriza o transporte individual, o que não favorece o transporte coletivo e sustentável”, critica.
São Bernardo lidera os números
O levantamento do Detran-SP revela que, até novembro de 2024, São Bernardo liderou os emplacamentos no ABC, com 17.229 registros, seguida por Santo André, com 14.372. No mesmo período de 2023, as duas cidades também ocuparam as primeiras posições, com 13.480 e 11.949 emplacamentos, respectivamente.
O levantamento do Detran-SP também aponta que houve crescimento nas transferências de veículos na região. no ano passado, 235.074 veículos mudaram de proprietário, enquanto em 2024 o número subiu para 255.341, consideradas as transferências dentro do mesmo município, para outros municípios ou estados.
Diante dos índices, Moro alerta para os riscos de um crescimento descontrolado da frota de veículos, sem o devido planejamento. Em sua análise, a falta de alternativas de mobilidade pode levar a um colapso no sistema. “A malha viária está próxima do limite de exaustão. Já passou da hora de qualificarmos o transporte ativo e de investirmos em transporte público sustentável”, afirma o professor ao mencionar as ciclovias como solução acessível e viável que deve ser considerada.
Ciclovias sem estrutura
“A questão é que também precisamos repensar a ciclovia existente na região, uma vez que não há um local seguro para estacionar a bicicleta, beber água ou sequer pedalar por um trajeto arborizado e seguro”, observa. Nesse sentido, o professor destaca a importância de priorizar modais sustentáveis e reduzir a dependência de veículos motorizados individuais, que, em sua visão, deveriam ser uma exceção. “Nos países desenvolvidos, com sistemas de transporte bem integrados, o carro ocupa um papel secundário. Essa é a mentalidade que precisamos adotar aqui”, recomenda.
Linha 20-Rosa e VLT
A construção da Linha 20-Rosa no ABC é uma das alternativas que pode ajudar a desafogar o trânsito na região, assim como o projeto do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que, na visão do docente, também contribuiria para a solução. Com a implementação de um novo corredor de transporte, a expectativa é melhorar a mobilidade, reduzir o número de veículos nas ruas e, consequentemente, diminuir os congestionamentos.
No entanto, Moro avalia que, enquanto o projeto não sai do papel, seria importante que os governos avaliassem a possibilidade de subsidiar um transporte público de qualidade, a baixo custo ou até mesmo com tarifa zero.
“Precisamos romper a divisão que coloca o transporte sobre pneus como responsabilidade do município e o transporte sobre trilhos como responsabilidade do Estado. Os projetos de mobilidade precisam ser integrados, pensados em conjunto, para que a população seja beneficiada”, afirma o docente ao exemplificar que um projeto de VLT poderia ser concebido por concessão ou recursos próprios.
Quanto ao projeto da Linha 20-Rosa, Enio Moro Junior ainda chama a atenção para o fato de que, apesar de representar uma mudança importante para a região, é fundamental considerar por onde a linha irá passar, um trabalho que deveria já ter sido iniciado. “O projeto pode beneficiar a população como uma alternativa de transporte rápida e eficiente, especialmente se integrado a outras formas de mobilidade sustentável, como ciclovias e transporte público. Mas já paramos para estudar onde essa linha vai passar? Apesar de ser subterrânea, enfrentamos desafios como desapropriações e leis de zoneamento no entorno, questões que estão sendo deixadas para depois”, questiona o professor da USCS.