Ambulantes com licença para trabalhar no terminal de ônibus urbano de São Caetano estão indignados com notificação da Prefeitura, feita no dia 10 de outubro, para que deixassem seus espaços sob argumento de que a mudança para locais próximos era necessária para continuidade da reforma que está em curso. No entanto, questionam o fato de usuários e veículos circularem normalmente pelo local, e reclamam que a transferência prejudica o movimento dos cerca de 30 comerciantes regularizados, já que o fluxo de clientes diminuiu drasticamente.
Para os ambulantes, o fato de ônibus e usuários continuarem a circular pelo terminal, enquanto eles foram obrigados a buscar outros pontos, pode ser indicativo de que o objetivo da administração possa ser uma possível privatização. “Os pedestres e os ônibus não saem dali, só os ambulantes retirados, e alguns estão ali há 20, 25, 30 anos. Então a questão é: o que está por trás disso? Será que é realmente a reforma para retirar os ambulantes ou é só para privatização do terminal?”, questiona um dos ambulantes, que não se identifica por medo de represálias.
Segundo o vendedor, os ambulantes também estariam sendo ameaçados para caso de desrespeitarem a ordem da Prefeitura e permanecerem no terminal, ainda que nem todos tomem tal decisão. “Agora também estão dizendo que se alguns afrontarem a decisão e permanecerem ali, todos serão punidos. Ou seja, uma ameaça que pode colocar ambulante contra ambulante. O que estão fazendo é totalmente desumano, porque todos ali somos moradores da cidade, pagadores de impostos, e estamos ali só para levar o pão de cada dia, sem muita garantia, porque a gente depende de série de fatores, como o tempo, o dia do pagamento do pessoal. E ainda dizem que quem insistir vai perder a licença e o direito de trabalhar”, reclama.
A situação dos ambulantes foi uma das pautas levadas à tribuna da Câmara pela vereadora reeleita Bruna Biondi (Psol), campeã de votos na eleição do dia 6 de outubro e que faz oposição ao governo do prefeito José Auricchio Júnior (PSD). A parlamentar criticou o fato de a notificação ter sido emitida quatro dias depois de o então candidato governista à Prefeitura, Tite Campanella (PL), ter vencido a disputa à sucessão de Auricchio, e indicava que a retirada seria para ‘proteger’ os ambulantes em razão das obras de reforma.
Assim como os ambulantes, a vereadora entende que a justificativa da Prefeitura “não se sustenta” porque a circulação de ônibus e pedestres segue normal. Em sua fala na tribuna, Bruna disse que “essa ação é uma perseguição nítida ao trabalho dos ambulantes e abre espaço para uma ofensiva de privatização da estação, que quer expulsar trabalhadores sem diálogo e sem nenhuma alternativa de mediação, apenas para abrir espaço para pontos de vendas que possam ser comercializados pela Prefeitura, ou pela empresa que vier a operar a concessão”.
Questionada na última quinta-feira (31/10) sobre a retirada dos ambulantes, a Prefeitura não retornou até o fechamento desta reportagem.