
Para passar uma rua dentro do Cemitério Municipal, num trecho onde antes haviam sepulturas, a Prefeitura de Rio Grande da Serra, realizou exumações sem a autorização de familiares dos falecidos. Moradora da cidade foi surpreendida ao fazer uma visita ao túmulo da sua mãe, nesta segunda-feira (21/10) e não mais encontrar o local do sepultamento. A família tem um contrato de locação de jazigo que garantia até sete anos de permanência no local até a exumação, porém os restos mortais foram retirados antes que se completassem quatro anos.
Ivanice Nunes Martins, sepultou o corpo de sua mãe, Helena Nunes Martins, que faleceu em 26 de outubro de 2019, vítima de uma infecção que agravou seu quadro se saúde já delicado por conta de 12 anos de luta contra a leucemia. Ela conta que, na época, a família não tinha condições de comprar um jazigo permanente e optou por fazer a locação por até sete anos de um jazigo temporário. Sua mãe foi sepultada no lote 163 do cemitério Municipal São Sebastião, o único de Rio Grande da Serra.
“No ano passado veio um pessoal na minha casa, dizendo que eram do cemitério. Me falaram que já fazia quatro anos e que eles iriam fazer a exumação da minha mãe. Eu disse que não podiam fazer isso, porque não tinha quatro anos, isso só vai se completar agora neste sábado, dia 26, e segundo porque o meu contrato fala em sete anos. Eles ainda ficaram com o meu telefone e foram embora. No ano passado eu fui lá no Dia de Finados e estava tudo em ordem. Agora nessa semana eu chego lá e não tem mais a sepultura da minha mãe. Me disseram que ela tinha sido exumada e fizeram isso em junho e sem nos comunicar e eles tinham meu endereço e telefone”, disse Ivanice revoltada com a situação.

Ivanice foi levada a um tipo de quarto, usado como ossário, onde estavam muitos sacos, alguns com identificação e outros não, com restos mortais. “O cemitério tem uma área onde são colocadas pessoas sem identificação, que depois são exumadas e os restos são levados para incineração, se eu não apareço lá poderiam ter feito isso com a minha mãe”, lamenta. A moradora disse ainda que suspeita que o que há no saco plástico entregue a ela, não sejam os restos mortais da sua genitora. “Os sacos estavam todos acumulados, havia muita sujeira e resíduos nos sacos, mas a etiqueta estava limpa, branquinha, como nova. Quem me garante que o pacote que nos apresentaram era o certo? E tem outras 17 famílias que tiveram os corpos exumados e ninguém da família apareceu”.
Na administração do cemitério Ivanice foi informada que foi publicado no diário oficial da cidade um informe sobre as exumações, mas ela destaca que essa publicação não tem amplo alcance. “Quem é que vê o diário oficial? Porque não entraram em contato?”, diz a moradora que registrou um boletim de ocorrência na delegacia eletrônica.

“Quero ter certeza de que a ossada entregue era realmente da minha mãe para termos paz”, disse Ivanice. Dona Helena deixou três filhos e netos. Pouco mais de um ano depois de sua morte um dos filhos faleceu vítima da covid-19. Em 2021 o marido de Ivanice também se infectou pelo novo coronavírus e teve complicações e, no ano passado, ele também faleceu. Ivanice diz que sua família já sofreu muito e precisa ter essa certeza sobre os restos mortais de sua mãe, para tanto ela deseja que a prefeitura comprove, através de exame de DNA, que os restos mortais que ela enterrou em uma gaveta permanente esta semana, são mesmo de dona Helena.
Procurada pelo RD, a prefeitura de Rio Grande da Serra não se manifestou até o fechamento desta matéria, que será atualizada