A Delegacia Eletrônica de Proteção Animal (DEPA) revelou dados preocupantes sobre maus tratos a animais na região. Somente nos primeiros nove meses do ano passado foram 1.287 casos, enquanto no mesmo período deste ano foram 1.214 ocorrências. Apesar da leve redução nos índices entre um ano e outro, alguns municípios apresentaram variações significativas nos registros.
Ribeirão Pires mais do que dobrou os números entre 2023 e 2024 ao saltar de 15 ocorrências de maus tratos para 34, conforme aponta a DEPA. Rio Grande da Serra também teve um leve crescimento, de 12 para 17 casos. Em Diadema, os casos de abuso permanecem estáveis, com 172 ocorrências tanto em 2023 quanto em 2024.
Santo André, por outro lado, reportou queda de 407 casos em 2023 para 394 este ano. Mauá também viu uma diminuição, de 124 para 89 casos, e São Bernardo, por sua vez, observou redução significativa, de 490 para 299 casos. São Caetano fecha a lista com diminuição de 67 para 53 registros.
Segundo o levantamento da DEPA, os crimes mais comuns estão relacionados a cães e gatos, sendo a negligência e o abandono os principais motivos. Em entrevista ao RD, o veterinário em Rio Grande da Serra, Jefferson Vilela, comenta casos vistos no dia-a-dia do consultório médico. “Às vezes nos deparamos com situações absurdas, como cães com tumores cujos tutores alegam não querer operar porque o animal está velho e pode não sobreviver à anestesia”, relata.
Além destes casos, Jefferson aponta que é frequente observar situações de maus-tratos, como a falta de espaço adequado para cães e gatos, que compromete seu bem-estar, e a manutenção em ambientes não enriquecidos, privando-os de estímulos essenciais. O médico também menciona a alimentação inadequada, animais afetados por “miasi” (infestação de larvas de moscas em feridas), cavalos abandonados nas ruas e cães agredidos, que muitas vezes chegam ao consultório com fraturas.
De forma geral, as denúncias são encaminhadas às Delegacias de Investigações Criminais de Meio Ambiente e de Saúde (Dicmas) para investigação e posterior encaminhamento ao Poder Judiciário, e a pena para os responsáveis pode variar de 2 a 5 anos de prisão, além da proibição de ter animais e a aplicação de multas.
Como denunciar?
Em casos de maus-tratos, recomenda-se que as denúncias sejam encaminhadas às autoridades para que o resgate do animal seja realizado e as sanções cabíveis aplicadas ao infrator. De acordo com a gravidade do caso, ações como o fechamento de canis clandestinos ou o tratamento médico dos animais resgatados podem ser tomadas imediatamente.
Ribeirão Pires: os munícipes podem fazer denúncias diretamente pelo telefone (11) 4824-4197 ou pelo WhatsApp (11) 97211-1112. Denúncias também podem ser feitas pessoalmente na base do Departamento de Proteção à Fauna, no Centro.
Rio Grande da Serra: o cidadão pode fazer a denúncia por meio da ouvidoria do município: (11) 2770-0212; e-mail: ouvidoria@riograndedaserra.sp.
São Caetano: o munícipe pode denunciar diretamente no site da Prefeitura, de maneira online, ou através do CGE 0800 7000156.
Diadema: as denúncias devem ser feitas pelo telefone (11) 4059-7604 ou e-mail: meioambiente@diadema.sp.gov.br
Santo André: canal de denúncias (app Colab) e telefone 0800 019 19 44.
As prefeituras de São Bernardo e Mauá não responderam até o fechamento da reportagem.
Animais silvestres
Assim como ocorre com animais domésticos, os maus-tratos a animais silvestres são uma realidade comum. Fatores como urbanização, caça ilegal, comércio de animais e a falta de conscientização sobre a importância da fauna contribuem para essa situação.
Exemplo é o saruê, conhecido como gambá-de-orelha-preta, mamífero que frequentemente sofre maus-tratos, por atropelamentos acidentais ou falta de conhecimento em sua manipulação. Especialmente no ABC, o aparecimento do animal nas áreas urbanas é comum, atribuído à perda de habitat, poluição e à busca por alimentos em lixeiras e jardins.
“Infelizmente, o saruê pode ser alvo de maus-tratos, muitas vezes motivados por medo, preconceito ou falta de conhecimento sobre o animal. Muitas pessoas acreditam que são perigosos, mas, na verdade, desempenham um papel importante no ecossistema, ajudando no controle de pragas”, alerta Ronaldo Morais, biólogo e diretor do BioParque Macuco, em Mauá.
De acordo com o biólogo, o saruê é um animal predominantemente noturno e, quando avistado durante o dia, pode indicar que ele foi incomodado em seu habitat natural ou que está doente. “Quando se sente ameaçado ou estressado, o saruê pode emitir gritos altos e estridentes, o que pode assustar as pessoas ao seu redor. No entanto, é importante esclarecer que, apesar do barulho, o saruê geralmente não representa perigo para os humanos”, explica.
Nestes casos, a indicação é não tentar tocar ou pegar o animal e reportar a situação para autoridades locais ou organização de proteção animal, a fim de que o resgate seja feita de forma segura e sem riscos.