O nível das represas que abastecem a Grande São Paulo está comparável com as crises hídricas de 2014 e 2021, porém apesar da continuidade do calor e da falta de chuvas que podem agravar ainda mais o problema, não há mobilização do governo e nem campanhas de uso consciente da água. A Sabesp, responsável pelo abastecimento, minimiza o problema e diz que a operação integrada do sistema está mais robusta que em outras épocas de estiagem.
O Sistema Rio Grande, do qual faz parte a represa Billings e que abastece Diadema, São Bernardo e parte de Santo André chegou nesta terça-feira (24/09) 65,87% da sua capacidade, o pior nível desde julho de 2021 quando marcou 64,16%, e muito perto de dezembro de 2014 em plena crise hídrica quando alcançou a marca de 61,82%. O sistema abastece 1,4 milhão de usuários segundo a Sabesp.
As demais represas que abastecem cidades da região estão em condições igualmente preocupantes. O sistema Cantareira, que abastece Santo André e São Caetano, está com 57,80% da sua capacidade, o pior desde janeiro de 2023 quando marcou 57,85%. O sistema Rio Claro que abastece parte de Ribeirão Pires, Mauá e Santo André chegou nesta terça-feira (24/09) a 26,33% da sua capacidade, que é o pior número desde janeiro de 2015, quando marcou 25,67%. O Alto Tietê estava apenas com 32,10% da capacidade segundo o mapa dos mananciais da Sabesp desta terça-feira. Índice como esse só em janeiro de 2022 quando esteve com 32,08%.
Se considerado somente o braço do Rio Grande onde a Sabesp capta água, próximo à rodovia Anchieta, em São Bernardo, o volume é o pior já registrado em 10 anos. Veja quadro.
Para a bióloga e coordenadora do IPH-USCS (Índice de Poluentes Hídricos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marta Marcondes, é estranha a posição da Sabesp em não criar campanhas visando o uso consciente da água. “O mais terrível é que em fevereiro o sistema Rio Grande estava em 100% da capacidade e de lá para cá mudou tudo. Isso está nitidamente ligado às mudanças climáticas e às ações do homem sobre o meio ambiente. Em Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e São Bernardo é crescente o movimento pela supressão de vegetação e são nestes locais onde estão as principais nascentes. As nuvens que trazem chuva para a região metropolitana de São Paulo, não estão se formando na Amazônia”, diz a professora ao refletir sobre a combinação de fatores que está fazendo as represas secarem.
“Estranhamente em outras situações de crise houve grande mobilização, campanhas, obras até contestáveis, mas houve uma ação. Em agosto de 2014 quando foi feita a obra de transposição para levar água do Rio Grande para o Alto Tietê, as condições não eram tão críticas como as de hoje. Mas agora não está se falando nada”, comenta a bióloga que também é ambientalista e integra o MDV (Movimento em Defesa da Vida do ABC).
Sabesp considera a situação normal para a época
Apesar dos níveis das represas estarem mais baixos do que em épocas onde medidas mais drásticas foram adotadas para contornar o período de seca, a Sabesp considera que o que a operação está dentro da normalidade. Em nota, a companhia recentemente passada para a privada, diz que o SIM (Sistema Integrado Metropolitano) está mais robusto e opera melhor os recursos disponíveis.
“A Sabesp informa que o Sistema Integrado Metropolitano (SIM) opera nesta terça-feira (24) com 50,4%, índice semelhante à média dos últimos cinco anos: 50,0%. O SIM é composto por 7 mananciais, o que permite abastecer áreas diferentes da metrópole com mais de um sistema. Anualmente, a Companhia adota o plano de operação de estiagem, acionando a integração para priorizar o uso de sistemas com maior volume e poupar aqueles com menor nível. Desde a crise hídrica, investimentos como a interligação entre as represas Jaguari e Atibainha e o Sistema São Lourenço tornaram o SIM mais robusto e flexível. A Sabesp mantém estudos e investimentos para ampliar a segurança hídrica, levando em conta as alterações climáticas, a demanda futura por água, séries históricas de vazões e chuvas, entre outros. A Interligação Itapanhaú-Alto Tietê, que vai captar até 2,5 m³/s de água, entra em operação em 2025”, detalha a companhia.
A Sabesp diz que não há desabastecimento e sustenta que faz campanhas de conscientização. “Não há desabastecimento, mas, como mostra a estiagem severa, o uso consciente da água é essencial em qualquer época. A Sabesp realiza permanentemente campanhas e divulgações sobre uso consciente. Ações simples, como usar balde e vassoura para limpar áreas externas, não usar água corrente para descongelar alimentos e estar atento a vazamentos, podem fazer grande diferença, beneficiando toda a população. Mais informações no link: https://site.sabesp.com.br/site/sociedade-meioambiente/dicas.aspx”, diz nota da companhia.
Os sistemas produtores de água abastecem perto de 19 milhões de pessoas. O Cantareira atende 7,3 milhões de pessoas, o Alto Tietê, 4 milhões; Guarapiranga, 3,7 milhões; Rio Grande, 1,4 milhão; Rio Claro: 1,2 milhão; São Lourenço, 740 mil e Alto Cotia atende 253 mil.