Gianlucca Trevellin, de 12 anos, morador de Santo André e aluno da rede estadual está sem professor especial para atendê-lo em casa. O jovem é portador de AME (Atrofia Muscular Espinhal) que limita seus movimentos e por isso ele tem aulas em casa e, uma vez por semana, nas terças-feiras ele vai a escola estadual José Augusto de Azevedo Antunes, que fica no bairro Casa Branca. Ocorre que já houve três trocas de professores em cinco meses de aulas e o último educador deu sua última aula na sexta-feira (06/09) e ainda não há um substituto. O Estado diz que vai resolver o problema na próxima semana.
A família relata que não há na rede estadual profissionais preparados e s que são designados, na primeira oportunidade, trocam a aula atribuída a Gianlucca por outra. O pai, Renato Trevellin, diz que os professores que foram designados para atendimento do filho não tinham o preparo necessário para o atendimento das necessidades do aluno. “A primeira professora não conseguia interagir com ele porque o Gianlucca, desde quando estava na rede municipal, interage através do computador que lê o movimento dos olhos para emitir uma resposta, mas a professora não tinha nenhum conhecimento de computadores, nem o básico. Aí ela saiu e o outro professor que já dava aula para o Gianlucca assumiu as duas matérias, só que agora ele saiu. Isso foi na sexta-feira passada e até agora nenhuma posição da Diretoria de Ensino. O que nos parece é que não tem professor para esse tipo de atendimento e o Estado faz esse quebra-galho colocando qualquer um que aceite a função” relata.
Antes da saída destes dois professores, já foi uma batalha para os pais conseguirem que o Estado garantisse o atendimento a Gianlucca, que só começou a ter aula presencial na escola em abril, dois meses após o início do ano letivo.
Para Cristiane Alves Teixeira, professora do curso de Psicologia do Centro Universitário Fundação Santo André, mestranda da Unesp na área educação inclusiva, há falta de profissionais capacitados para lidar com alunos que tenham diferentes condições de aprendizado. “O Estado vem fornecendo capacitações, mas temos um número de professores habilitados que não atende a necessidade dos alunos. De fato falta capacitação e necessidade de levar o conhecimento para o professor de como ele precisa trabalhar com esses alunos”, disse em entrevista ao RDTv nesta sexta-feira (13/09).
Segundo Cristiane é preciso capacitar toda uma equipe, o colégio e a diretoria de ensino para atender a esses estudantes. “Não é o professor regente somente, precisa de uma equipe maior. Esse professor tem que entender, perceber esse ambiente e que a realidade mudou. Ao falar com aluno cego e por algo na lousa, é preciso descrever o que está colocado. Tudo isso tem que ser realmente trabalhado nas unidades, preparar o professor para evitar o capacitismo”, diz a professora da FSA.
Na FSA, foi implantado uma coordenadoria para inclusão de PCDs (Pessoas com Deficiência) que criou alguns protocolos. “Cria-se uma cartilha para pensar a inclusão. A FSA tem um ambiente que recepciona esses alunos, que vai tratar os alunos quando identifica a dificuldade dele. Há um conjunto de professores que vai tratar a demanda desse aluno de uma forma bem específica. São ferramentas que precisamos usar para reconhecer quem é esse aluno. Pensar como fazer, com base nas legislações, e o que e possível fazer com a estrutura que se tem. Só o acesso não é o suficiente, mas pensar como será a permanência dele no curso superior, o que ele vai precisar, trazendo ele para a realidade da escola”, explica a professora.
Na análise de Cristiane o mecanismo precisa mudar, ou seja, não fazer o aluno aprender como os demais, mas perguntar para ele como ele aprende. “Faltam cursos superiores voltados especificamente para a educação especial. Precisa estrutura para acompanhar o aluno não é só capacitação, tem que estruturar a instituição. Vejo que temos muitas legislações, que vêm para suprir essa necessidade, temos um movimento da sociedade exigindo que ocorra, mas temos entraves, o próprio entendimento do que seria a inclusão é um deles. Precisamos ter estruturas para dar conta dessa demanda, paradigmas que precisam ser quebrados, não é só capacitar”, completa.
Sobre o caso de Gianlucca, a Secretaria Estadual de Educação, diz que só foi informada da saída do professor que fazia o atendimento domiciliar no dia 11/09 e que um novo professor deve ser definido na próxima semana. A pasta também nega contratar professores não preparados para a função.
“A Diretoria de Ensino (DE) de Santo André esclarece que todos os professores designados para atender ao estudante mencionado foram contratados exclusivamente para esta função, de acordo com a resolução SE 25 de 2016. O docente que o atendia pediu a finalização do contrato na última quarta-feira (11). Um novo processo de contratação já foi iniciado e deverá ser concluído na próxima semana. A DE e a unidade escolar seguem à disposição da família para mais esclarecimentos”, informou a secretaria e nota. A pasta informa ainda que os professores que são encaminhados para essa função são precisam atender a resolução e, portanto, estariam capacitados.