Repetindo os resultados positivos verificados em todo o ano passado, Mauá se destaca novamente nos números do Previne Brasil, do Ministério da Saúde, que organiza as cidades de acordo com sete indicadores da atenção primária na saúde. Segundo o levantamento do primeiro quadrimestre deste ano, a cidade teve desempenho de 52,14 pontos, o melhor da região consagrando uma liderança desde os primeiros quatro meses de 2023.
O desempenho é a média das porcentagens de cobertura com consultas e exames de pré-natal, saúde bucal das gestantes, cobertura citopatológica (para verificação de câncer no colo do útero), de vacinação e de verificação de pressão arterial e diabetes.
Seis das sete cidades da região melhoraram a sua colocação, apenas Diadema piorou sua média. No primeiro quadrimestre do ano passado tinha índice de 39 e fechou os quatro meses iniciais deste ano ligeiramente abaixo, com 37,28. Mauá e Ribeirão Pires tiveram, inclusive notas melhores do que a do Estado, que ficou com 45,57.
“O fato de Mauá atingir as metas do Previne Brasil reflete o compromisso da prefeitura por uma saúde melhor, com maior acesso da população aos serviços da rede pública, e sempre em busca de bons indicadores que possam qualificar mais a vida dos munícipes”, comentou a secretária de Saúde, Celia Bortoletto.
Para a médica Vânia Barbosa do Nascimento, professora titular de Saúde Coletiva no Centro Universitário FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) a melhora das cidades é reflexo de um investimento importante do governo federal através do programa Mais Médicos que destinou para a região cerca de 300 profissionais, porém ela considera que há necessidade de um investimento muito maior na estruturação das equipes de saúde da família.
A FMABC monitora a aplicação do programa na região. “A atenção básica é estratégica no sistema e ela é pulverizada através das UBSs (Unidades Básicas de Saúde). A melhora da região se deu pela colocação destes 300 médicos de família e a tendência é aumentar, e precisa muito aumentar. Mas a saúde não é só médico, precisa ter mais agentes comunitários de saúde e enfermeiros e fazer uma análise dos riscos em saúde do território. O investimento federal tem sido muito grande, mas precisa também ter investimento do Estado”, avalia.
A especialista na saúde pública chama atenção para os baixos índices de Rio Grande da Serra, que segundo sua análise tem uma população muito dependente do sistema público de saúde, que recebeu profissionais do Mais Médicos, mas que precisaria estruturar melhor sua rede.
“Todas as cidades destinam mais do que os 15% dos seus orçamentos para a saúde, o problema é que cidades como Rio Grande da Serra têm uma arrecadação muito pequena, e mesmo nos municípios maiores, o orçamento não é suficiente”, diz.
Carência de pacto regional
Para a professora Vânia Nascimento, é preciso que seja feito um pacto regional pela melhora dos índices da atenção primária na saúde. “Não é possível uma região com uma identidade como a do ABC ter números tão díspares, é preciso que todos tenham índices bons. Por isso, é importante a estruturação da rede, principalmente com os agentes comunitários de saúde, são eles que vão atrás de quem não faz o pré-natal, quem não se vacina. Com melhor estrutura as filas de atendimento vão diminuir, as consultas não vão demorar tanto, as UBSs precisam ser mais acessíveis e oferecerem maior acolhimento”, completa.
Enquanto em algumas cidades com índices socioeconômicos melhores, parte dos pontos analisados pelo Previne Brasil, são influenciados pela população que não vai à UBS porque se trata na saúde privada, a vacinação é quase sempre pelo SUS. A professora da FMABC vê como preocupante que todas as cidades da região estejam com índice abaixo de 95%. O melhor índice de vacinação, que é o de Ribeirão Pires, está em 94%. E a cidade vizinha, Rio Grande da Serra, tem cobertura de apenas 11%. “É preciso que as prefeituras invistam muito mais em campanhas educativas, em incentivos para que a população vá até as unidades de saúde e atualizem as suas carteiras de vacinação. Com esses índices baixos corremos o risco de termos da volta de doenças já erradicadas, como a paralisia infantil, sarampo, coqueluche e difteria, o que seria uma tragédia para a saúde pública”, diz.
A médica destaca ainda a cobertura do diabetes e hipertensão, que são praticamente inexistentes em Rio Grande da Serra e bem baixos no restante do ABC. “Essas doenças vão levar a problemas mais sérios de saúde, longos tratamentos e internações”, adverte a professora da FMABC.