A Coreia do Norte realizou uma cerimônia no domingo, 4, para marcar a entrega de 250 lançadores de mísseis com capacidade nuclear. O evento contou com a presença do ditador Kim Jong-un, que determinou a constante expansão do programa nuclear de seu exército para “contrapor às ameaças percebidas dos EUA”, segundo informou a mídia estatal norte-coreana nesta segunda-feira, 5.
As preocupações com o programa nuclear de Kim Jong-un cresceram à medida que ele demonstrou a intenção de implantar armas nucleares de campo de batalha ao longo da fronteira do Norte com a Coreia do Sul, e autorizou seu exército a responder com ataques nucleares preventivos se perceber a liderança sob ameaça.
A estatal Agência Central de Notícias da Coreia informou que os lançadores foram recém-produzidos pelas fábricas de munições do país e projetados para disparar mísseis balísticos “táticos”, um termo que descreve sistemas capazes de entregar armas nucleares de menor rendimento. No evento, realizado em Pyongyang, Kim Jong-un disse que os novos lançadores dariam às suas unidades de linha de frente um poder de fogo “esmagador” sobre a Coreia do Sul, e tornariam a operação de armas nucleares táticas mais práticas e eficientes.
Fotos da mídia estatal mostraram linhas de caminhões lançadores ocupando uma grande rua com aparentemente milhares de espectadores presentes no evento, que incluiu fogos de artifício. A Coreia do Norte tem expandido sua linha de armas móveis de curto alcance projetadas para sobrecarregar as defesas de mísseis na Coreia do Sul, enquanto também persegue mísseis balísticos intercontinentais projetados para alcançar o continente dos EUA.
Os testes de armas e ameaças que vêm sendo intensificadas por Kim Jong-un são amplamente vistos como uma tentativa de pressionar os Estados Unidos a aceitar a ideia da Coreia do Norte como uma potência nuclear. A intenção também é a de acabar com as sanções impostas à Coreia do Norte por seu programa nuclear, que são lideradas pelos EUA.
Expansão de exercícios militares
A Coreia do Norte também busca aumentar as tensões em um ano de eleições nos EUA, dizem os especialistas. Ultimamente, Kim usou a guerra da Rússia na Ucrânia omo uma distração para acelerar ainda mais seu desenvolvimento de armas. Em resposta, os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão têm expandido seus exercícios militares combinados e aprimorando suas estratégias de dissuasão nuclear construídas em torno de ativos militares estratégicos dos EUA.
Lee Sung Joon, porta-voz do Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul, disse que os militares sul-coreanos e dos EUA estavam analisando de perto o desenvolvimento de armas da Coreia do Norte e que mais monitoramento era necessário para confirmar a prontidão operacional dos sistemas de mísseis apresentados no domingo.
Lee disse que os mísseis apresentados no domingo provavelmente têm um alcance menor do que alguns dos mísseis balísticos de curto alcance mais poderosos da Coreia do Norte, que demonstraram a capacidade de viajar mais de 600 quilômetros.
O Norte revelou nos últimos meses um novo míssil chamado Hwasong-11, que, segundo analistas, pode viajar até 100 quilômetros. Se implantados em áreas de linha de frente, os mísseis teoricamente seriam capazes de cobrir grandes áreas da maior região de Seul, a capital da Coreia do Sul, local onde cerca de 25 milhões de pessoas moram. O número é quase a metade dos 51 milhões de habitantes do país.
Em seu discurso no evento de domingo, Kim Jong-un pediu que seu país se preparasse para um confronto prolongado com os Estados Unidos e insistiu para que a força militar seja expandida cada vez mais. Ele justificou sua ordem como uma contramedida à cooperação militar “cada vez mais selvagem” entre os Estados Unidos e seus aliados regionais, que ele classificou como um “bloco militar baseado em força nuclear”.
“Seria nossa escolha buscar diálogo ou confronto, mas nossa lição e conclusão dos últimos 30 anos… é que o confronto é pelo qual devemos estar mais completamente preparados”, disse Kim. “Os Estados Unidos com os quais estamos lidando não são apenas uma administração que vem e vai após alguns anos, mas uma nação hostil com a qual nossos filhos e netos lidarão por gerações vindouras e isso também ilustra a necessidade de melhorar continuamente nossas capacidades de autodefesa”, complementou.
Kim Jong-un afirmou ainda que a decisão de realizar a cerimônia de armas enquanto o país tentava se recuperar de inundações desastrosas, mostra sua determinação de prosseguir com o fortalecimento das capacidades de defesa nacional sem estagnação sob quaisquer circunstâncias, segundo disse. As inundações no final de julho submergiram milhares de casas e grandes extensões de terras agrícolas em regiões próximas à fronteira com a China.
A Rússia ofereceu ajuda contra inundações à Coreia do Norte, em mais um sinal de relações em expansão entre as duas nações. Kim Jong-un tem feito da Rússia sua prioridade nos últimos meses enquanto promove uma política externa voltada para expandir relações com países que confrontam Washington, abraçando a ideia de uma “nova Guerra Fria” e tentando exibir uma frente unida nos conflitos mais amplos de Putin com o Ocidente.