Dados do Censo da Educação Superior divulgados pelo MEC (Ministério da Educação) mostram uma explosão da educação a distância no Brasil. Segundo as estatísticas, o número de cursos na modalidade ofertados no País aumentou 700% nos últimos 10 anos, saindo de 1.148 em 2012 para 9.186 no ano passado.
O EaD (ensino a distância) promove com o recurso da tecnologia, a inclusão de pessoas que, seja por tempo ou questões financeiras, não poderiam realizar o curso presencialmente. Em entrevista ao RD, o presidente da ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância), João Mattar, comenta sobre o aumento da procura por cursos de tecnólogos na modalidade, bem como desafios enfrentados para fiscalização do modelo de ensino.
Geralmente, o perfil do aluno que se submete ao ensino a distância é de idade avançada, com família construída e que trabalha mais de 40 horas semanais. “Esse estudante não tem tempo para o ensino presencial, e acredita na qualidade do EaD para completar o seu curso”, explica Mattar ao citar que, com a pandemia, o modelo se sobressaiu como alternativa para adentrar ao ensino superior.
Dentre os cursos mais procurados, está o de Pedagogia. Em contrapartida, cursos de Direito, Medicina, Psicologia, Odontologia e, mais recentemente, Enfermagem e cursos de licenciaturas são proibidos no ensino a distância.
Porém, a maior demanda no EaD vem do ensino técnico, que oferece cursos de menor duração. Com olhar para o ABC, Mattar explica que, por ser uma região de alta demanda no setor industrial, o tecnólogo encaixa nas buscas de profissionais que buscam se qualificar para o mercado de trabalho de forma rápida, e abre mão do presencial.
Para o presidente da ABED, o ponto forte do EaD é a acessibilidade, que beneficia estudo de PcD (Pessoas com Deficiência). “A tecnologia desenvolveu diversas ferramentas que beneficiam essas pessoas, com deficiência visual ou auditiva, utilizar o recurso tecnológico no ensino remete à inclusão do PcD”, diz. Mattar reforça a questão financeira como um dos elementos que também favorecem o crescimento da modalidade, que oferece mensalidades mais baratas em relação aos cursos presenciais.
Estigma
Apesar da acessibilidade financeira e inclusiva, Mattar afirma que o EaD ainda luta contra alguns estigmas impostos pela sociedade que prejudicam a sua amplitude. Exemplo são os cursos de saúde, como Enfermagem, Farmácia e Educação Física. Nesta segunda-feira (13/5), a Cctes (Comissão de Ciência, Tecnologia e Educação Superior) da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará recebeu representantes de conselhos profissionais e professores para debater sobre o ensino à distância na área da saúde e seus possíveis impactos. Nos debates, foi criticada a falta de fiscalização desses cursos e o crescimento elevado da modalidade de ensino no segmento.
“A realidade é que o governo toma decisões contrárias, envolvendo diretamente a suspensão de cursos na modalidade. Entendemos haver necessidade da criação de um projeto, que seja parceiro do MEC, que seja responsável pela fiscalização do EaD”, diz Mattar. Em comparação com outros países, o executivo diz que há pouco investimento na expansão do ensino EaD no Brasil, que visa somente atender brasileiros, evita assim gerar renda no exterior.
Garantir a sequência dos cursos de licenciatura no País é o maior desafio para a ABED. “Estão tirando todos os cursos de licenciatura do EaD. É difícil entender o porquê do aumento do interesse de ser professor, mas independente do que seja, não é tirando os cursos que resolverá a situação”, critica Mattar.