ABC - sábado , 1 de junho de 2024

Porto Alegre tenta resgatar remanescentes antes de volta das chuvas

Com previsão de chuvas intensas até o início da semana, brigadistas que trabalham no centro histórico de Porto Alegre, uma das regiões mais atingidas pela enchente, tentam convencer últimas pessoas a deixarem a região antes que o nível da água volte a subir. A reportagem acompanhou uma patrulha das Guardas Municipais de Porto Alegre e de São Paulo na manhã deste sábado, 11, pelas ruas da capital gaúcha.

De acordo com o Climatempo, até segunda-feira, 13, deve chover cerca de 300 mm no Estado. A média varia de 140 mm a 180 mm. A concentração dos maiores volumes de chuva na Serra Gaúcha preocupa, já que é onde nascem os rios que deságuam, por exemplo, no Guaíba. Até o momento, o Estado registra 136 mortos em decorrência das inundações.

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Neste sábado, sob uma forte chuva, Alex Bittencourt, descia um balde amarrado em uma corda para receber doação de água, entregue por voluntários. O morador está em um prédio no centro histórico junto com outras seis pessoas, que se recusam a deixar o local com a justificativa de que ir para abrigos seria um opção pior do que ficar cercado por água, próximo às margens do Rio Guaíba.

“A previsão é de 20 dias para baixar a água. Vai subir agora de novo, porque vai dar uma chuva na serra. Tem barco para sair”, afirmava o guarda Alessandro Silva, da Guarda Metropolitana de São Paulo, que está no Sul desde o início da semana auxiliando nos salvamentos.

Apesar do alerta, Bittencourt insistiu que as outras pessoas não queriam deixar o local. Segundo ele, ainda há mantimentos como arroz, feijão, e ainda há gás para cozinhar. Os moradores também conseguiram uma bateria para carregar o celular.

“Tem pessoas se arriscando para trazer coisas para vocês. A orientação é todo mundo sair. A gente está entrando aqui todo dia se arriscando. O pessoal tem que sair o quanto antes”, pediu o guarda Pedro Grangeiro.

Apesar da tentativa de convencimento dos brigadistas, o morador resistiu no prédio cercado pelas águas: “Tem muita coisa aqui dentro”, afirmou, justificando ainda que não queria deixar os bens sob risco.

Nas escadas de um banco, dois seguranças espremidos entre a água e o teto também guardavam o local. No trajeto pelo centro, uma embarcação com quatro homens foi interpelada pela guarda. Um dos integrantes do grupo afirmou que eram comerciantes locais e criaram o grupo autointitulado “Segurança Centro” para patrulhar o local.

A enchente no centro de Porto Alegre, mesmo após a baixa temporária da água, ainda chega a dois metros em alguns pontos. O vazio destoa das ruas movimentadas do centro em dias normais. Palácios históricos, como o Mercado Público, estão cercados pela água. Na rodoviária e na estação de trem, a paisagem, com vagões em meio às águas, mostra como o cotidiano dos gaúchos foi totalmente interrompido pelas cheias. O centro da capital expõe a fragilidade das grandes cidades diante da natureza impactada pelas mudanças climáticas.

Nesse cenário, um idoso e uma mulher acenavam da janela. Diante da aproximação dos brigadistas, no entanto, recusaram o resgate e diziam estar seguros no prédio, sobretudo no próprio apartamento. “Há vários comandantes do Exército aqui. Não se preocupe”, brincou o idoso, que não quis dar o nome e saiu da varanda quando a reportagem se identificou.

Na mesma rua, sob uma chuva ininterrupta e relevando o risco da inundação, uma mulher em um bote, acompanhada por dois homens, tentava entrar em um prédio abaixando a cabeça para passar por um espaço de menos de meio metro entre as águas e o teto. “Sou proprietária, vim ver como está o apartamento”, disse.

Apesar da incredulidade diante das pessoas que recusavam o resgate, a equipe de socorro mantinha a resiliência:

“Muita gente já foi resgatada, mas muita gente deixa para última hora. A ideia é sempre ir passando até as pessoas entenderem que a água não vai baixar, com essa chuva, vai aumentar. Às vezes, passando em outro horário, tenham a decisão de sair”, disse o guarda Alessandro Silva.

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