Parte da alegria diária de donos de pet, os cachorros são seres que por muito tempo foram considerados apenas um animal de estimação, mas que com o tempo, foi tomando o lugar de membro nas famílias. Essa humanização por vezes reflete pela perspectiva do dono que, assim como explica ao RDtv o estudante de Medicina Veterinária da USCS (Universidade de São Caetano) e especialista em comportamento animal, Gustavo Campelo, pode causar consequências severas aos cães.
Humanizar o modo como se trata um animal, segundo Campelo, é acreditar que todos os sentimentos e necessidades que temos refletirão nos cães, como, por exemplo, na alimentação, nos hábitos, entre outros. “Vejo que essa aproximação do dono com o pet apresenta pontos positivos e negativos. Ao mesmo tempo que vemos as pessoas respeitando mais os direitos dos animais, bem como o próprio avanço da medicina veterinária, percebe-se que muitos donos de pets tiram do cão o que é ‘ser canino’, e não permite que ele tenha autonomia”, explica.
Alguns momentos para os donos parecem ser inofensivos, mas por vezes simbolizam grande estresse aos animais. Um deles é quando o pet está esperando o dono chegar, e assim que o encontra, pula e se anima. Segundo o especialista, através da ótica humana, esse momento se torna algo voltado a felicidade. Porém, para alguns animais, esse momento pode ser de extrema ansiedade, gerando complicações como a Síndrome de Ansiedade e Separação, que envolve a ansiedade persistente e intensa sobre se estar longe de casa ou separado de pessoas com as quais o pet tem apego.
Há casos em que os tutores mudam a rotina, seja por passarem mais tempo longe de casa ou mesmo com a chegada de um novo membro na família. Campelo indica que, no primeiro caso, é importante que o dono do pet eduque desde sempre o cão a ter independência, para que quando ocorra a ausência ele saiba o que fazer, como tomar banho e fechar a porta do banheiro e ficar mais tempo ausente para o cachorro se acostumar.
Já nos casos em que a família ganha um bebê, por vezes os pets podem se sentir abandonados por não serem mais o destaque naquele momento. “Nesse caso, é importante que o cachorro saiba que ele não está sozinho. Gradativamente, o dono pode ensinar que existem outras pessoas com quem ele pode se relacionar e que mesmo ele não sendo mais o ‘reizinho’, ainda é importante para aquela família”, diz o especialista.
Acima de qualquer orientação, Campelo sugere que o dono entenda o valor de sua relação com o pet. “Claro que é divertido ter um membro na família como um cachorro para nos alegrar. Porém, temos que ser cautelosos para entender que os cães têm seus próprios sentimentos, desejos e hábitos, que devem ser respeitados a fim de preservar sua natureza canina”, comenta.