Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que haja entre 9 e 10 milhões de pessoas infectadas pelo HPV (papilomavírus humano) no Brasil e que surjam 700 mil novos casos de infecção por ano. Essa estatística traz à tona a importância da vacinação não somente para mulheres, mas também para homens, assim como explica ao RDtv, Marcia Terra Cardeal, ginecologista e professora da Faculdade de Medicina ABC, e presidente da Abptgic (Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia).
O HPV, especificamente dois tipos deles (tipo 16 e tipo 18), estão envolvidos em quase 90% dos casos de câncer de colo de útero, também chamado de câncer cervical, mas também pode levar a outros tipos de câncer, como anal, de vulva, de vagina, de pênis e de orofaringe. O câncer de colo do útero é uma doença grave e pode ser uma ameaça à vida. É o segundo tipo de câncer mais frequente em mulheres.
Diferente de outros vírus mais ativos, o HPV se manifesta silenciosamente e por vezes gradual. Geralmente, a contaminação do agente ocorre por meio de relações sexuais, porém Marcia explica que basta um contato pele com pele, ou pele com mucosa (como a saliva, por exemplo), são suficientes para se infectar. “Se as pessoas de fato entenderem que não é só na relação sexual que esse vírus é transmitido, provavelmente não teríamos tantos casos como temos hoje”, diz. Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), a estimativa é de que 8 em cada 10 pessoas serão infectadas por HPV em algum momento da vida.
Apesar de ser um vírus de fácil transmissão, a vacina oferecida hoje nos hospitais públicos e privados combate o HPV em sua totalidade. Atualmente, os serviços de saúde disponibilizam duas vacinas: a quadrivalente e a nonavalente. A vacina quadrivalente, oferecida em hospitais da rede pública, oferece proteção contra os quatro tipos de complicações geradas pelo HPV, sendo eles o 6 e 11, que inibem o desenvolvimento de verruga genital (posteriormente câncer), e os 16 e 18, responsáveis pelo câncer de cólon de útero. Já no caso da nonavalente, oferecida em hospitais privados, age integralmente contra o vírus.
Tanto a vacina quadrivalente quanto a nonavalente têm como público-alvo jovens dos 9 aos 14 anos, sendo a primeira vacina, a qual é mais acessível à população, requer ao menos duas doses em um intervalo de 6 meses. “Estudos mostram que, em um futuro próximo, esses jovens só precisarão tomar uma dose, pois seu sistema imunológico novo e em desenvolvimento já conseguirá combater o vírus com apenas uma vacina”, explica Marcia.
A vacinação é recomenda para todos os públicos. O diagnóstico do vírus ocorre por meio de uma consulta com o ginecologista, em que, através do papanicolau ou do teste específico para o HPV.
“A realidade é que esse assunto foi tratado por muito tempo como tabu, por ser ligado diretamente a relações sexuais. Por isso, é importante que as gestões públicas promovam ações de conscientização para que tanto os jovens quanto os pais deles entendam que essa vacina não é uma liberação para o sexo, mas sim uma prevenção contra o câncer”, comenta Marcia.