Especialista defende uso de drones para combater dengue, mas ABC não tem

Drone usado pela prefeitura de São Paulo para identificar criadouros e aplicar veneno. (Foto: Divulgação Prefeitura de São Paulo)

A prefeitura de São Paulo anunciou nesta semana o uso de drones para a verificação e aplicação de veneno em imóveis fechados, como uma estratégia de combate à dengue. A parasitologista Alaide Mader Braga Vidal professora de parasitologia e integrante da comissão de combate e prevenção ao Aedes aegypti do Centro Universitário da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) considera o uso dessa nova tecnologia acertada, bem como o uso de novas tecnologias capazes de frear a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, vetor da doença. No entanto as prefeituras do ABC seguem métodos tradicionais.

Segundo o último levantamento o número de casos de dengue no na região, 417, está 137% acima do registrado no mesmo período do ano passado que teve 176 casos confirmado. Na Capital, com o crescimento exponencial do número de casos, a prefeitura começou na Vila Jaguara, o uso dos drones. Esse bairro paulistano é o que tem a maior concentração proporcional de casos da doença.

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Somente a prefeitura de São Bernardo informou que estuda usar drones na fiscalização, mas ainda não tem nada definido. “A prefeitura informa que está em tratativas com a secretaria de Segurança Urbana para possível parceria na utilização dos drones da Guarda Civil Municipal para reforço nas operações do combate à dengue, neste momento de força tarefa, no município. Além dos drones, o aplicativo SISAMOB auxilia na coleta dos dados das visitas aos imóveis, in loco por meio de tablets utilizados pelos agentes”, diz a administração, em nota. Na cidade quando os imóveis estão fechados a prefeitura notifica o proprietário ou solicita informações a vizinhos ou imobiliária. Só este ano 120 imóveis fechados foram vistoriados pelas equipes.

Em Santo André, Diadema, Mauá e Rio Grande da Serra, as prefeituras disseram que não usam os drones e também não citaram a intenção de usar. Ribeirão Pires e São Caetano não responderam. São mais de 1.100 agentes nessas cinco cidades (exceto Diadema que não especificou o número) que percorrem imóveis particulares e logradouros públicos em busca de focos do mosquito. Nestas cidades pelo menos 536 imóveis fechados ou abandonados foram vistoriados pelas equipes somente este ano.

As vistorias poderiam ser potencializadas com o equipamento que pode sobrevoar grandes áreas e ainda aplicar o veneno, tal qual já é feito em lavouras. Os imóveis fechados ou inacessíveis são os maiores problemas. A falta de conscientização quanto à limpeza de quintais também é grave segundo a especialista.

“Os focos de dengue em casa vêm aumentando, ou seja, não está se tomando os devidos cuidados. Segundo estudo do Ministério da Saúde três em cada quatro focos do mosquito estão dentro de casa, para ser mais preciso 74,8% dos criadouros do Aedes estão nas casas então deve-se tomar mais cuidado com os vasos, as garrafas, recipientes de degelo em geladeiras, bebedouros, ou seja, tudo que armazena água e é deixado nos quintais vira criadouro de mosquito”, orienta.

Alaide Mader Braga Vidal é professora de parasitologia e integrante da comissão de combate e prevenção ao Aedes aegypti do Centro Universitário da FMABC. (Foto: Divulgação)

Alaide diz que as pesquisas avançam no sentido de tornar o veneno mais eficiente. “As pesquisas de inseticidas e larvicidas não páram. Existem também plantas com potencial inseticida inclusive; tem uma pesquisa da universidade federal fluminense e da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz) que usa uma pindaíba, uma plantinha que é muito comum na restinga da costa brasileira”, diz a parasitologista.

Mesmo com novidades químicas, o veneno precisa chegar onde estão os criadouros e os grandes obstáculos são os imóveis inacessíveis, desabitados ou abandonados que estão fechados, por isso Alaide defende o uso de drones. “A utilização de drones é a mesma técnica já usada na área de agronomia. Na minha opinião é um aliado, uma forma da gente controlar e deveria ser, o quanto possível, ampliado para todas as prefeituras. Eles devem ser usados em imóveis inacessíveis ou fechados, e é um aliado para o técnico da vigilância sanitária”, defende.
“Existem novas armadilhas para a captura do Aedes, e também a tecnologia da bactéria Wolbachia que é introduzida no mosquito e possibilita a redução da transmissão da dengue, zika e chikungunya. Existem também repelentes novos e inseticidas, ou seja, são várias inovações, mas o que vale é a conscientização”, aponta.

Campanhas

Para a especialista as campanhas não estão surtindo efeito prova que a pesquisa do ministério aponta que a maior parte dos criadouros poderia ser combatida facilmente pela própria população. “As pessoas, se não tomarem os devidos cuidados, se os municípios não cuidarem da população, não houver conscientização, os focos não aumentar e o mosquito se adapta muito fácil, a fêmea vai estar sempre próxima do ser humano porque ela é hematófaga e os descendentes dela dependem dessa alimentação, do sangue”.

A professora da FMABC diz que a única forma de frear o avanço da doença e quebrar a cadeia de reprodução do Aedes Aegypti, e para isso deve-se acabar com os criadouros. “Na minha opinião o que falta é conscientização, as pessoas precisam ficar atentas aos riscos da dengue e também cuidar do ambiente em que elas vivem, serem responsáveis por esse ambiente. Uma vez por semana, em dez minutos, se faz a vistoria da casa, como tampar as caixas de água, olhar as calhas que devem ser limpas, higienizar os bebedouros dos animais, limpar os quintais recolhendo pneus, não deixar plásticos acumulando água e o lixo também tem que ser removido. Tudo que acumula água pode ser um criadouro”, completa Alaide Mader Braga Vidal.

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