Se grandes produções culturais já estão ameaçadas por conta da pouca oferta de espaços em Diadema e São Caetano, artistas independentes, que vivem de shows e mostras para públicos menores, perdem a vez. Ao RD, conselheiros de Cultura criticam a falta de funcionamento de equipamentos públicos e pedem olhar mais cuidadoso no que se refere a investimentos e manutenções periódicas.
Rondinelly Lima, conselheiro de São Caetano, relata que a Estação Cultura, no Centro, é exemplo de sucateamento de equipamento público na cidade. Na época da inauguração, ainda na gestão anterior, o equipamento viveu seu “período de ouro”, com atividades a todo instante, inclusive aos finais de semana. “Tínhamos oficinas culturais, atividades artísticas, esportivas, mas aos poucos tudo foi caindo no esquecimento, até que a pandemia chegou e interrompeu 100% das atividades”, explica o conselheiro.
Após este período e com a retomada de atividades, esperava-se que o equipamento recebesse investimentos e voltasse à ativa, mas a projeção foi em vão. Rondinelly conta que, certa vez, enquanto almoçava, se deparou com a cena de um artista dentro da Estação Cultura, que tinha um projeto cultural e pedia para utilizar as salas de ensaio para fazer o projeto acontecer, mas acabou impedido após a negativa de um funcionário local. “Ali, quando o funcionário deu a resposta, vi que o sucateamento continuava”, relata.
Em outubro de 2023, o espaço entrou oficialmente em reformas, e os conselheiros de cultura cobram, até o momento, a reinauguração do local, principalmente para atender artistas menores que não conseguem espaço em grandes equipamentos, como os teatros municipais. “A promessa que temos é que com a reforma, a Estação Cultura seja um novo equipamento com bastante potência, semelhante a um centro cultural que São Caetano nunca teve. Acontece que as obras começaram, e até agora nada”, diz.
O Teatro Paulo Machado de Carvalho, com capacidade de 1.122 lugares, e que permite grandes montagens de shows, dança, óperas e musicais, também seria opção para artistas menores, mas segundo o conselheiro, para o pequeno fazedor de cultura, o espaço não é oferecido, isso porque, com exceções, só atende artistas maiores. “O que temos é a Fundação das Artes, mas com aquele antigo histórico que exige, a todo momento, intervenções internas e externas”, diz Rondinelly ao frisar que, em 2024, o pequeno artista não tem espaço em São Caetano. “Sem espaço para ensaio e sem apresentações”, afirma.
Centros culturais desativados
Em Diadema, historicamente, a cidade sempre se valeu centros culturais para realização e expansão das atividades culturais, tendo como característica um centro cultural em cada bairro. Acontece que, com o passar do tempo, os conselheiros de cultura afirmam que isso tem se perdido. “Equipamentos que antes eram para oficinas e apresentações artísticas foram sendo cooptados para outros fins, como o Centro Cultural Eldorado, do qual parte foi integrado para uma base da GCM (Guarda Civil Municipal)”, diz a conselheira Renata Reis.
Segundo Renata, o Centro Cultural Promissão é outro exemplo. “Ele teve seu espaço cedido para a construção do Quarteirão da Educação, enquanto o Centro Cultural Inamar teve o Observatório Astronômico, monumento histórico da cidade, demolido”, comenta a conselheira ao exemplificar a desativação de espaços culturais na cidade.
De acordo com Renata, os equipamentos que permanecem ativos na cidade não são utilizados na plenitude, pois falta programação, apresentações, palestras, workshops e atividades para o pequeno e grande artista. “Como tem pouca atividade, os espaços acabam sendo esquecidos pela gestão e também pela população”, lamenta a conselheira. Renato Verso, outro conselheiro da cidade, cita que, em alguns casos, os próprios artistas têm dificuldades de se apresentar. “Devido à falta de estrutura dentro dos centros culturais”, diz.
Em nota, a Prefeitura de Diadema informa que a cidade possui nove centros culturais, sete bibliotecas e duas salas de leitura, além de um circo-escola e uma escola municipal de música, e nenhum centro cultural foi desativado ou tem previsão de ser no próximo período. Segundo a Prefeitura, um único centro cultural, no bairro Promissão, teve suas atividades interrompidas para construção do Quarteirão da Educação e as atividades culturais serão absorvidas por esse novo equipamento ainda este ano.
No Centro Cultural Eldorado, citado pela conselheira, a administração informa que uma ala do edifício passou a abrigar uma base da GCM, o que trouxe maior segurança à região e aos frequentadores do equipamento sem comprometer as atividades e as oficinas culturais disponíveis ali. “Não se trata, de forma alguma, de construção de outro equipamento em espaço que antes era centro cultural”, informa a administração.
Investimentos
Segundo a Prefeitura, além do novo teatro e da nova biblioteca inseridos no projeto do Quarteirão da Educação, Diadema ganhará ainda este ano o Laboratório Digital da Cultura, em março no Centro Cultural Diadema (no centro), e um estúdio de gravação adequado também para oficinas de podcast, locução, dublagem e produção musical, previsto para agosto na Casa do Hip Hop.
Além disso, um dos projetos contemplados pela Lei Paulo Gustavo no município consiste em readequar e modernizar o Cine Eldorado e o Teatro Clara Nunes para que voltem a oferecer uma programação regular de filmes, funcionando também como salas de cinema, ainda em 2024.