ABC - segunda-feira , 29 de abril de 2024

Ibovespa cai 0,36%, a 129,9 mil pontos, com pressão sobre ações do Bradesco

A reação do mercado ao nível de provisões e ao fraco lucro do Bradesco no quarto trimestre de 2023 derrubou as ações do segundo maior banco privado brasileiro nesta quarta-feira, em queda de 13,02% (ON) e de 15,90% (PN) no fechamento, levando o Ibovespa a terreno negativo na sessão. Em sentido contrário ao de Nova York, o índice da B3 caiu hoje 0,36%, aos 129.949,90 pontos, entre mínima de 129.426,40 e máxima de 130.551.96, tendo saído de abertura a 130.412,20 pontos. Vindo de ganhos nas duas sessões anteriores – ontem, de 2,21%, quando retomou os 130 mil e fechou praticamente na máxima do dia -, ainda sobe 2,18% na semana e 1,72% no mês. No ano, o Ibovespa cede 3,16% – mas, em 12 meses, o avanço é de 20,51%.

O giro financeiro foi a R$ 27,9 bilhões na sessão da B3 em que as ações do Bradesco registraram uma de suas maiores perdas da história. A ação preferencial do banco tem peso de quase 4% na composição do Ibovespa (3,84%), superada apenas por Vale ON, Petrobras PN, Itaú PN e Petrobras ON entre as maiores participações relativas na carteira teórica do índice. Em 9 de novembro de 2022, Bradesco PN havia caído 17,38% e a ON, 16,01% – ocasião em que o banco tinha perdido R$ 31 bilhões em valor de mercado, também após uma divulgação de resultado trimestral. Aquela havia sido a queda mais intensa para o papel desde 10 de setembro de 1998, um período marcado pela forte volatilidade em torno da crise cambial da Rússia.

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“O Bradesco apresentou lucro fraco no quarto trimestre, abaixo da estimativa de consenso, impactado por provisões e despesas operacionais, mais altas. O banco também apresentou um guidance para 2024 que, estimamos, implica lucro de cerca de R$ 17 bilhões, abaixo do consenso de R$ 22,5 bilhões – mostrando alguma recuperação, mas em base muito deprimida, e ainda com nível muito elevado de despesas com provisões”, observa em relatório a equipe de Research do Citi. “Embora consideremos que as expectativas já eram baixas para os resultados e o guidance, vemos esses números como um grande revés.”

O setor financeiro como um todo, que havia reagido bem aos números sólidos apresentados nesta semana pelo Itaú (PN -0,72%) no trimestre outubro-dezembro de 2023, caiu hoje em bloco com o Bradesco – destaque também para Santander (Unit -2,35%) e para Banco do Brasil (ON -0,27%), entre as maiores instituições financeiras listadas na B3. Na ponta perdedora do Ibovespa na sessão, além das duas ações do Bradesco, apareceram também Hapvida (-4,19%), Azul (-2,91%) e Pão de Açúcar (-2,70%), logo à frente de Santander Brasil. Do lado ganhador, destaque para Petz (+9,49%), Locaweb (+4,95%) e Carrefour Brasil (+4,39%).

A perda do Ibovespa não foi maior porque as gigantes das commodities Vale (ON +0,19%) e Petrobras (ON +0,95%; PN +1,47%, na máxima do dia no fechamento) deram contribuição positiva na sessão.

“As ações do Bradesco sofreram bastante, com o banco mostrando números bem diferentes dos de Itaú, uma discrepância que chama atenção especialmente em relação ao RoE uma métrica de rentabilidade, o retorno sobre patrimônio líquido, com o Itaú entregando 21% e o Bradesco, apenas 6,9% – uma diferença muito grande”, diz Ramon Coser, especialista da Valor Investimentos, acrescentando que o Bradesco já tinha reconhecido, anteriormente, que durante a pandemia o banco emprestou “muito mal”. “A inadimplência do Bradesco é de 5,1% e a do Itaú, cerca da metade disso 2,8%”, aponta o analista, em referência a um índice em baixa de 0,1 ponto porcentual em 12 meses, no caso do Itaú, e em alta de 0,8 ponto, para o Bradesco.

“O Bradesco busca agora inovação tecnológica, algo positivo se de fato acontecer, bem como reestruturação e corte de gastos” para melhorar a eficiência, acrescenta o analista. “O novo CEO Marcelo Noronha disse que o pior já passou com relação à inadimplência. Pode ser o momento oportuno para comprar uma ação que já vinha acumulando perdas, com trimestres ruins”, diz Coser, observando que, de todos os números, a inadimplência é ainda o que assusta mais.

No ano, Bradesco ON acumula perda de 17,18% e a PN, de 18,17%, até o fechamento desta quarta-feira – comparadas a -8,99% para Santander Unit, +1,77% para Itaú PN e +7,31% para Banco do Brasil ON no mesmo intervalo. Neste começo de fevereiro, a ação do banco cede 7,61% (ON) e 8,94% (PN), contra ganhos de 1,43% para Santander, 5,43% para Itaú e 5,30% para Banco do Brasil.

“A reestruturação do Bradesco é um processo de médio a longo prazo. O Bradesco de certa forma perdeu um pouco da credibilidade por apresentar resultados ano após ano abaixo do esperado. Então, o mercado vai esperar que a gestão do banco mostre bons resultados. No curtíssimo prazo, eu não vejo upside muito grande, mesmo com o fechamento da OPA da Cielo. Precisará apresentar resultados mais consistentes para recuperar a confiança dos investidores”, diz Dierson Richetti, sócio da GT Capital.

“Bradesco veio ainda bem ruim após uma série de resultados negativos. O que ajudou hoje o Ibovespa foram as ações de commodities, com recuperação de valor na semana vindo de quedas relevantes, seguindo fluxo de dias passados”, diz Lucca Ramos, sócio da One Investimentos.

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