De olho no início do governo, Ibovespa inicia primeiro pregão do ano em queda

Índice Bovespa cai mais de 3%, após terminar 2022 com alta (Foto: Shutterstock)

O Ibovespa começou o primeiro pregão de 2023 pressionado pelos sinais intervencionistas do novo governo. O recuo na carteira do índice, que agora conta com 89 ações é quase geral, e o indicador já perdeu cerca de 3.700 pontos em relação à abertura (109.733,88 pontos) e a mínima intradia (106.032,21 pontos, em queda de 3,37%). Além disso, o arrefecimento da atividade da economia chinesa segue no radar, mas os papéis da Vale tentam alta moderada.

O índice Bovespa cai mais de 3%, após terminar 2022 com alta de 4,69%, mas amargou perdas de 2,45% em dezembro.

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A aversão a risco interna – dólar e juros futuros sobem – reflete o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ontem em sua posse, que disse que pretende revogar o teto de gastos. Além disso, manteve a desoneração de redução de impostos para combustível e determinou a ministros de seu governo a retirada da Petrobras do processo de desestatização iniciado por ex-presidente Jair Bolsonaro.

“O discurso reforçou a preocupação forte com o fiscal, e já colocou cimento nas privatizações”, analisa Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos.

A ausência das bolsas americanas e de outros mercados dos Estados Unidos tende a deixar a liquidez reduzida, fazendo com que o Ibovespa reaja com firmeza às pretensões da nova gestão.

“E ainda desagrada a possibilidade de mudança no PPI política de preços da Petrobras. Além disso, estamos em um cenário de volta da inflação e de juros mais altos. Para piorar, é feriado lá fora, o que tira a liquidez”, completa Mastromonico.

Para a MCM Consultores, a decisão da revogação dos combustíveis é um “revés” para Fernando Haddad (ministro da Fazenda), que contava com essa receita para reduzir o déficit fiscal deste ano. “Na verdade, para a inflação o que importa é a coordenação das políticas fiscal e monetária. Assim, qualquer esforço para conter a expansão fiscal quer via menores gastos, quer através de maiores impostos seria de grande valia para os objetivos do Banco Central. Em suma, a prorrogação da desoneração é um mal sinal para os investidores” avalia a consultoria em relatório.

Com menos dinheiro nos cofres públicos, as contas públicas devem continuar pressionadas à frente, sendo uma ‘dor de cabeça’ para Haddad. O assunto ainda tende a ser motivo de queda de braço dentro do governo Lula 3. As isenções foram concedidas pelo governo Bolsonaro, que colocou no Orçamento R$ 80,2 bilhões adicionais de incentivos fiscais e desonerações, incluindo a prorrogação da isenção do PIS e Cofins sobre os combustíveis.

“Desoneração é um sinal ruim para o fiscal. A ideia do Haddad de não prorrogação estava agradando, mas agora essa vitória política é péssima. Só reforça que o fiscal pode piorar. Além do mais, tem a intenção de mudar a política de preços da Petrobras”, avalia Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos.

Além da indicação de que os preços da gasolina seguirão contando com alívio dos tributos, os papéis da Petrobras ainda tendem a sofrer influências da possibilidade de alteração na política de preços.

Recentemente, o indicado para presidir a estatal, Jean Paul Prates (PT-RN), classificou a política de preços adotada atualmente pela Petrobras, o chamado Preço de Paridade Internacional (PPI), como uma espécie de “abstração”. Hoje, disse não ver motivos para alta nos preços.

“Em suma, a Petrobras e seus acionistas minoritários arcarão com o custo de termos preços mais baixos dos combustíveis. Por sua vez, o governo federal renunciará a uma maior arrecadação de impostos e dividendos”, completa a MCM.

Às 11h23, o Ibovespa caía 3,14%, aos 106.293,95 pontos, após 105.980,66 pontos, na mínima (-3,42%). Petrobras cedia 5,71% (PN) e -6,35% (ON), enquanto Banco do Brasil recuava 3,86%. Só Meliuz, CSN, Suzano e Vale subiam 1,69%, 1,17%, 0,91% e 0,36%, respectivamente.

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