Denúncias de agressão contra os idosos disparam 64% no ABC

ABC contabilizou 10,5 mil violações contra os direitos humanos em 2023 (Foto: banco de imagens)

Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos revelam que entre 2022 e 2023 o ABC teve alta de 64% nas denúncias de violência contra os idosos. Foram registradas 1.084 queixas na plataforma Disque 100 (Disque Direitos Humanos) no ano retrasado, enquanto em 2023 o número saltou para 1.780. Ainda conforme levantamento, foram 10,5 mil violações contra os direitos humanos no ano passado, e outras 6,3 mil em 2022, variação de 66,8%.

Entre os grupos vulneráveis com mais registros de denúncias, os idosos aparecem em segundo lugar, perdem apenas para violência contra crianças e adolescentes. Na região, das 1.780 denúncias de violência contra o idoso registradas no ano passado, 564 estão em Santo André, que contabilizou, ainda, 3.423 violações contra os direitos humanos.

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São Bernardo aparece em seguida, com 535 denúncias contra o idoso registradas no ano passado e 3.183 violações; Mauá em terceiro, com 244 denúncias e 1.473 violações; e Diadema com 188 denúncias e 1.059 violações. São Caetano registrou 110 denúncias e 607 violações, seguido de Ribeirão Pires, com 107 denúncias e 597 violações e, por último, Rio Grande da Serra, com 32 denúncias e 211 violações.

No Brasil, o índice segue, e também é assustador. Somente no primeiro semestre de 2023, foram 65,3 mil denúncias de violência contra os idosos contabilizadas via Disque 100, enquanto no segundo semestre, a estatística mostra que foram 78,2 mil denúncias. Já no que se refere às violações contra os direitos humanos, foram registradas ao longo do ano, 841,6 mil violações.

Cuidado com o idoso

Na visão da geriatra dos hospitais Brasil e Ribeirão Pires, da Rede D’Or, Vanessa Silva Morais, o número reflete, principalmente, a negligência do cuidado com o idoso, em especial àquele que necessita de cuidados contínuos, com algum tipo de dependência física ou cognitiva. “Os idosos que possuem alguma síndrome demencial, sequela de derrame ou algo que comprometeu sua capacidade mental de decisão, escolha ou comunicação, são os mais afetados com as violências, tanto físicas quanto verbais”, aponta a médica.

Segundo a geriatra, as alterações cognitivas também podem contribuir para outro crime que, atualmente, está em bastante evidência: a violência contra recursos financeiros ou patrimoniais. Apesar de ocorrer bastante por meio de trotes e golpes, é comum que este tipo de crime ocorra, sobretudo, no âmbito familiar, sendo mais frequente contra idosas, mulheres e deficientes. “É uma modalidade que abre brecha para que o idoso seja explorado pela família e por cuidadores(as) que usam o dinheiro sem seu consentimento”, explica.

A enfermeira Ana Paula Guarnieri, vice-presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) e docente do curso de enfermagem do Centro Universitário FMABC, aconselha a importância de observar o idoso, especialmente no que remete a violência física, em que o idoso sempre encontrará uma desculpa para não culpar o familiar. “Me lembro bem de uma situação que vivi, em que cheguei para fazer visita domiciliar, e a senhora estava acamada com uma latinha de comida e uma de água, e o familiar disse que ‘estava bom, suficiente’, mas era tudo que ela tinha. Qual a dignidade disso?”, questiona.

Nos casos em que se vive com o familiar agressor, Ana Paula comenta que dificilmente o idoso entregará que sofre algum tipo de violência, mas é importante se atentar aos sinais, ainda que singelos. “Às vezes o idoso te conta sem falar nada. Ele vai mostrar qualquer coisa relacionada à família e vai arranjar uma desculpa para que o familiar não apareça”, afirma. Outra questão que mostra os sinais, segundo Ana Paula, é a mudança de humor, que também pode entregar que algo não vai bem”, afirma.

Denúncia

Pode ser definida como violência contra a pessoa idosa a violência física, psicológica; institucional, patrimonial e sexual, além da negligência, o abuso financeiro e discriminação. Para denunciar de forma anônima qualquer tipo de violação contra o idoso, é possível acessar o Disque 110, que recebe denúncias 24 horas, todos os dias, através do telefone. Além disso, outra opção é buscar uma delegacia mais próxima e/ou a especializada no atendimento ao idoso.

“Ao realizar a denúncia presencialmente, a pessoa comparece à delegacia e participa de toda apuração dos fatos. É um serviço em que a polícia age rápido na questão da investigação e a situação se resolve, tendo ocorrido dentro de casa ou não”, explica Darci Freitas, delegado de polícia titular da Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso de Santo André.

Assim como a geriatra Vanessa Morais, o delegado considera que a violência patrimonial tem crescido, e isso reflete nos atendimentos na delegacia. “Em razão da fragilidade, o idoso infelizmente é considerado uma ‘presa fácil’ para quem quer aplicar golpes. E esse número tem crescido, assim como as situações de negligência contra incapaz, ao qual o familiar deixa de dar assistência às necessidades do idoso”, afirma. Nestes casos, o delegado considera essencial o olhar de amigos, familiares e vizinhos quanto ao cuidado com o idoso. “Se observar qualquer cenário de negligência ou exploração, denuncie”, afirma.

Cuidados básicos

Na presença de cuidadores de idosos, a geriatra da Rede D’Or aconselha a instalação de câmeras de monitoramento onde o idoso vive, a fim de observar os cuidados físicos, com a higiene e administração de medicações. “Já é algo bastante comum nas casas de repouso, mas implementar isso dentro de casa também é essencial, desde que seja combinado com o(a) cuidador(a)”, sugere.

Nos atendimentos em consultório, Vanessa aponta que alteração no comportamento, sinal de depressão e queixas de problemas familiares podem mostrar que algo não vai bem. Já para pacientes que não têm capacidade de cognição, os sinais são através do corpo, como desnutrição, úlceras, sinais físicos a exemplo de hematomas, ferimentos na pele, fraturas, tudo que mostra que algo não vai bem. A partir disso, além da denúncia, o Creas (Centro de Referência de Assistência Social) também pode ser acionado.

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