Com pandemia e o trabalho em formato home office, os aparelhos eletrônicos, como tablets e celulares, se tornaram instrumentos de trabalho, criando assim um desafio para a sociedade: o controle do uso excessivo de telas. Além dos malefícios para a visão e até para a saúde mental, passar muito tempo no celular pode pressionar a coluna cervical e causar danos e lesões graves. É o que afirma Fabio Lucas Rodrigues, membro da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico e coordenador do grupo de Trauma e Reconstrução Óssea da disciplina de Ortopedia da Faculdade de Medicina do ABC.
Em entrevista ao RDtv, Rodrigues destaca que a postura que se fica ao utilizar o celular e o tempo que se passa com o aparelho tem potencial para causar problemas sérios na coluna e no pescoço. “Ninguém utiliza o celular em um posição reta e, ficar com a cabeça para baixo por um longo período de tempo pode gerar um desconforto ou dores corriqueiras na região a curto prazo, mas se estendido por muitos meses, pode ocasionar problemas de saúde e danos sérios na coluna, até mesmo evoluir para casos mais crônicos”, afirma.
O ortopedista acrescenta também que o uso constante de celulares reflete no crescimento no número de acidentes, seja no trânsito ou até caminhando na rua. “O celular é algo que acaba distraindo as pessoas, então vimos um aumento nos casos de pessoas que caem na calçada e machucam o tornozelo porque estão olhando para o celular. Também recebemos casos de motoqueiros que se machucam por errarem a entrada para uma rua e, ao tentar fazer o movimento de virar rapidamente, acabam caindo e tendo uma lesão ortopédica”, diz.
Lesões ortopédicas estão entre principais causas de afastamento
Em levantamento feito pelo Ministério da Previdência, as lesões ortopédicas lideram o ranking de causas de afastamento no trabalho. As lesões por dores na lombar foram as que registraram o maior número em todo o Brasil, já que mais de 50 mil pessoas, da 2,5 milhões de pessoas que se afastaram do trabalho em 2023, apresentaram a condição de saúde. Já no Estado de São Paulo, a maior incidência de afastamentos foram por fraturas no punho.
Fabio explica que os afastamentos por fratura no punho podem ocorrer em dois casos: em pessoas mais velhas que usam a mão para se apoiar em uma queda e acabam fraturando o membro, ou em pessoas mais jovens que trabalham em profissões mais arriscadas, como entregadores, que fraturam o punho em uma pancada.
“Toda fratura está relacionada a um trauma, seja uma queda simples de baixa energia, como ocorre com idosos ou em colisões de alta energia como as que ocorrem no trânsito. No caso das dores na lombar, por exemplo, é necessário que a própria empresa pense em estratégias para evitar que esse tipo de problema seja recorrente, investindo em equipamentos como cadeira e mesas que não se tornem riscos ergonômicos, ou seja, que podem afetar a integridade física ou mental do trabalhador, proporcionando-lhe desconforto ou doença”, finaliza.