De cada 10 cargos na Polícia Civil somente seis estão ocupados na região

Falta de policiais civis nos quadros das delegacias aumenta o estresse e os afastamentos por doenças, aumentando o tamanho do déficit. (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

O ABC deveria ter 1.948 policiais civis no âmbito das três delegacias seccionais da região, segundo os cargos criados em lei, mas tem apenas 1.195 em atuação. Faltam 753 policiais nas delegacias, um déficit de 39%. Os números são de levantamento feito pelo Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo) com base em informações coletadas nas delegacias.

Para a presidente da entidade, a delegada Jacqueline Valadares, esse déficit regional acompanha a média estadual o que compromete o trabalho policial, sobretudo as investigações.

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Os números do ABC apontam uma triste realidade; apesar de todas as categorias da Polícia Civil apresentarem um grau maior ou menor de claros no seu efetivo, a classe dos escrivães é a mais demandada de profissionais e é também a que tem o maior déficit. A presidente do Sindpesp aponta que o escrivão é o ponto nevrálgico de uma delegacia, pois é ele que movimenta e toca os inquéritos juntamente com o delegado, com menos profissionais o trabalho de investigação fica lento. “O Estado todo sofre com a falta de escrivães, com déficit perto de 50% e é justamente esse profissional que conduz os inquéritos junto ao delegado, é peça indispensável”, comenta.

A conclusão de que a falta de policiais civis não só causa uma sensação de falta de amparo pela população, mas também contribui para aumentar os índices de criminalidade, tem a concordância da delegada. “Os profissionais se desdobram, mas por mais que queiram fazer não têm como suprir a lacuna de três ou quatro pessoas, então a investigação demora mais, a celeridade e a eficiência ficam comprometidas e a população é prejudicada. Veja, qualquer empresa que tenha um déficit de 40% no seu pessoal vai ter problemas de produtividade, na polícia não é diferente”.

Afastamentos

Com a falta de pessoal vem a sobrecarga de trabalho em uma profissão que já é tida como muito estressante, já que o policial tem que lidar com situações de crises, crimes, pessoas descontroladas, enfim, com o clima tenso de uma delegacia. Isso aumenta o número de afastamentos, principalmente por problemas psíquicos, agravando ainda mais do déficit.

“Essa sobrecarga de trabalho gera um ciclo perigoso; o policial sofre com problemas físicos e psicológicos por causa dos horários de trabalho irregulares, plantões de 12 a 24 horas e isso causa pedidos de afastamentos por doença, pedidos de transferência para outros cargos e pedidos de exoneração. Por isso é preciso ter uma preocupação com a saúde do policial, não só quando ele já está doente, mas uma preocupação preventiva. Hoje o que se percebe é que temos mais quadros de depressão, de ansiedade e casos de Burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional”, conta a Jacqueline.

Negociação

A redução do déficit de pessoal na Polícia Civil é uma das pautas de reivindicação do Sindpesp junto ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) eleito sob a bandeira da segurança pública e que costuma se colocar como “amigo da polícia”. Algum avanço ocorreu em 2023, o primeiro ano da gestão do republicano no governo paulista, mas ainda há muitas pendências e o sindicato prepara estudos pormenorizados com dados para colocar na mesa de negociação, entre elas está também a reposição das perdas salariais, a realização de concursos públicos e a imediata nomeação dos aprovados.

Jaqueline Valadares é delegada e presidente do Sindpesp. (Foto: Divulgação)

“O governador se elegeu com essa bandeira da segurança pública, que é uma questão muito sensível. É bom que se diga que ele trouxe um reajuste para a polícia, que foi até polêmico porque o aumento para a Polícia Militar foi maior, mas mesmo assim houve um aumento. Ele traz uma sinalização positiva já que há concurso em andamento, porém queremos negociar um plano de recomposição salarial, pois o aumento do ano passado não recupera as perdas da categoria e que os aprovados nos concursos sejam imediatamente nomeados, o que outros governos não fizeram. Nó vamos comprovar essas necessidades de forma técnica através dos estudos que estamos fazendo”, completa a presidente do Sindpesp, Jacqueline Valadares.

Recomposição

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública reconhece o déficit e diz que vai adotar medidas para resolver a situação. “A SSP esclarece que a recomposição e valorização do efetivo policial são prioridades da pasta, que reconhece o atual déficit da Polícia Civil, que se encontra em 34,6%, e está empenhada em implementar uma série de ações para reverter essa situação”.

A pasta estadual da segurança também relatou que estão em andamento concursos para preenchimento de mais de 14,7 mil vagas em diversas carreiras, incluindo policiais civis, delegados de polícia, escrivães e investigadores. “Essa iniciativa visa fortalecer e revitalizar os quadros, promovendo uma atuação mais eficaz e eficiente no combate à criminalidade. A solução desse desafio ocorrerá de forma gradual, mas a pasta está comprometida com o processo de revitalização do efetivo policial. A SSP permanece atenta às necessidades das polícias, buscando constantemente estratégias e ações que contribuam para a segurança e bem-estar da sociedade”, diz a nota.

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