Os juros futuros fecharam a sessão perto da estabilidade, depois de chegar a firmar trajetória de queda moderada à tarde, descolando-se do sinal de cautela que prevaleceu no exterior e do viés negativo exibido pelo câmbio e nas ações. No fim da segunda etapa o ambiente internacional mais carregado acabou reconduzindo as taxas para perto ajustes. O avanço da pauta econômica no Congresso colaborou para esfriar a tentativa de realização de lucros, assim como também ajustes técnicos de posições típicos de fim de ano num mercado amplamente vendido em taxas. Na semana em que o Federal Reserve fez a festa dos ativos, a curva devolveu entre 25 e 35 pontos-base nos principais contratos.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou a 10,090%, de 10,109% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 fechou estável em 9,71% ontem. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 9,80%, de 9,81%, e a do DI para janeiro de 2029 fechou a 10,21%, de 10,24%.
Ainda que não tenham conseguido sustentar o movimento de baixa até o fim, as taxas tiveram comportamento mais benigno comparado aos demais ativos domésticos, que partiram para uma realização de lucros mais firme. Mesmo com a forte queima de prêmios durante a semana, o mercado de juros adiou um ajuste consistente – nas máximas do dia os principais contratos não chegaram a subir 10 pontos-base.
“Hoje é um dia difícil para analisar o DI. Tudo levava a crer que haveria abertura, com a curva nos EUA recuperando taxas após os discursos de diretores do Federal Reserve”, afirmou a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. Tanto o presidente da distrital de Nova York, John Williams, quanto o líder da regional de Atlanta, Raphael Bostic, tentaram corrigir o excesso de otimismo sobre corte de juros no primeiro semestre de 2024. “A curva americana reagiu, mas aqui não estamos acompanhando”, constatou a economista, ponderando porém que o movimento de queda dos DIs foi limitado a um certo intervalo no período da tarde.
A virada para baixo começou após o anúncio da Fitch sobre a afirmação da nota de crédito soberana do Brasil com manutenção da perspectiva estável. Mas nas mesas de operação os profissionais questionam se tal fato teria mesmo potencial de engatilhar a melhora, uma vez que não houve alterações nem na nota nem no outlook. Mais do que isso, a Fitch fez uma série de ponderações negativas que, em tese, serviriam para estimular uma piora da curva, alertando, por exemplo, que o cumprimento da meta de primário zero em 2024 parece “cada vez mais duvidoso”.
Nesse contexto, a percepção é de que a notícia da Fitch serviu de argumento para montagem de posições vendidas nos ajustes de carteira nesta reta final do ano. “O mercado todo está aplicado. Os fundos estão desesperados por cortes de juros para se salvarem em 2023”, afirma um economista.
Em outra frente, a força tarefa do Congresso para aprovar a pauta fiscal antes do recesso parlamentar serviu como contraponto ao exterior negativo. “Parece que o governo terá algumas vitórias”, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
A Câmara aprovou hoje a Medida Provisória (MP) da subvenção do ICMS, que vai agora para análise do plenário do Senado. É a principal aposta da equipe econômica para garantir o déficit zero nas contas públicas no ano que vem, com potencial de arrecadação em torno de R$ 35 bilhões. Aprovou ainda a reforma tributária em primeiro turno, o que traz alívio ao mercado mais pelo fato de se ter mais uma matéria fiscal endossada pelos parlamentares do que pelo texto em si.