O Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo) e o Hospital do Coração, em parceria, desenvolvem uma vacina para combater o glioblastoma, tipo mais comum de tumor cerebral maligno e ocorre na neuróglia, estrutura responsável pela sustentação do sistema nervoso. Chega ocupar metade do volume do tecido nervoso. Apenas no Estado de São Paulo, cerca de três mil novos casos da doença são diagnosticados anualmente e é o oitavo tumor com maior taxa de mortalidade no País.
Em entrevista ao RDtv, o neurocirurgião, pesquisador e diretor do Instituto de Neurocirurgia da USP, Guilherme Lepski, explica que a vacina utiliza células dendríticas para ativar uma resposta mais eficaz do próprio sistema de defesa do paciente. “Os testes desta vacina passaram por uma série de fases até que nós nos envolvemos para tratar do câncer cerebral em uma fase de testes com 37 doentes com glioblastoma ou astrocitoma grau IV, ambos considerados tumores graves”, destaca.
Os pacientes receberam injeções mensais de vacinas e, ao compará-los com pacientes que não receberam a vacina, foi observado aumento significativo na sobrevida “Os integrantes do estudo tiveram um aumento de 75% no tempo de sobrevida no grupo com glioblastoma e de 200% no grupo com astrocitoma grau 4. Além disso, sete pacientes vacinados permanecem vivos até hoje, três anos depois do fim do tratamento”, diz o neurocirurgião.
Lepski conta que a próxima fase consiste na implementação da vacina no hall de protocolos do tratamento da doença. “Caso seja incorporada, essa vacina poderá ser utilizada como complemento para procedimentos como cirurgia, quimioterapia e radioterapia, normalmente utilizados no tratamento do tumor”, expõe.
O especialista acrescenta, ainda, que a falta de investimentos na área de pesquisa tira a possibilidade da elaboração de novos avanços como a vacina para combater o glioblastoma. “O orçamento para pesquisas em São Paulo é feito pelo ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e, no atual momento com a discussão de uma reforma tributária em que esse imposto pode ser encerrado, não existe nenhum debate sobre como a pesquisa nas universidades será fomentada sem esse incentivo, o que preocupa todos os pesquisadores universitários”, afirma.