
A partir do fim deste ano, Diadema passará a contar com uma farmácia de alto custo, no campus da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), situada na cidade. Acontece que, além de Santo André e São Bernardo, essa foi a única cidade do ABC a receber investimentos do gênero. Com isso, a população de Ribeirão Pires, Mauá e Rio Grande da Serra seguem com a necessidade de se deslocar entre cidades para a retirada de remédios.
Jandira Paz da Fonseca, moradora da Quarta Divisão, em Ribeirão Pires, conta que por cinco anos precisou retirar medicamentos em Santo André para controle do diabetes do pai, falecido em novembro de 2021, por covid-19. Para o deslocamento até Santo André eram gastos pelo menos R$ 38 toda vez que precisava de medicamentos. “Como não temos farmácia de alto custo em Ribeirão, precisava pegar transporte público, e era sempre: ônibus, trem e ônibus para ir e voltar, com um dinheiro que não tínhamos, principalmente com o desemprego em alta durante a pandemia”, relata.
Segundo Jandira, foram incansáveis as vezes que procurou dispensação de remédios e insumos, como Insulina Humana NPH e Glibenclamida e deu de cara com o estoque vazio na farmácia do Hospital Mário Covas, em Santo André. “Foram várias as vezes que fui buscar os remédios e já tinha acabado, porque muitas vezes esvaziava o estoque e não nos avisavam […] fora as vezes que ficávamos o dia inteiro na fila para retirar o remédio”, salienta. Jandira defende que se houvesse dispensação em sua cidade, ou até mesmo em um município mais próximo de casa, teria economizado tempo e dinheiro.
Elaine Cristina Franco de Godoi, de Santo André, enfrenta problemas até hoje para retirar medicamentos. Apesar de morar em Santo André, cidade que possui farmácia de alto custo, a falta de comunicação com pacientes que dependem de medicamentos afeta sua vida e da família. O pai, Rubens Franco de Godoi, utiliza o medicamento Quetiapina 25mg (antipsicótico atípico) e, apesar de retirar o medicamento há anos, é sempre um trabalho recebê-lo na farmácia. “Tem meses que não conseguimos retirar o remédio na farmácia porque dizem não ter em estoque. Agora precisamos comprar com o dinheiro do próprio bolso, coisa que não contávamos”, diz a filha do paciente.
Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado comenta que, em relação ao paciente citado, a última retirada do medicamento ocorreu em 26 de abril, e que o pedido está com status “finalizado”, e necessita de atualização da Lauda de Solicitação de Medicamentos Especializados (LME). Ainda de acordo com a Pasta, o medicamento em questão “é de responsabilidade de aquisição e distribuição do Ministério da Saúde, que entregou o item parcialmente no segundo trimestre”. A Saúde afirma que o órgão está sendo cobrado.
Nova unidade deve desafogar atendimento
O ABC conta com três unidades Farmácia de Medicamentos Especializados (FME). A unidade de São Bernardo realiza cerca de 18,8 mil atendimentos/mês, a unidade de São Caetano, 7 mil atendimentos/mês e a de Santo André, 33,8 mil atendimentos/mês. Já com a nova unidade em Diadema, a previsão é que mais 6 mil pacientes – que atualmente retiram seus medicamentos pela FME Santo André – sejam atendidos ao mês na cidade.
São Caetano informou que a farmácia do Componente Especializado atualmente atende somente moradores do município, portanto não existe projeto para ampliação e/ou outra unidade, uma vez que a administração avalia a “estrutura atual satisfatória”, para atendimento de moradores da cidade. Atualmente são 9 mil pacientes que fazem uso do serviço com média de 260 atendimentos presenciais ao dia e 160 entregas em residência, de acordo com a demanda de procura. O município faz, ainda, entrega em casa para minimizar a fila durante o atendimento presencial.
Ribeirão Pires, Mauá e Rio Grande da Serra dependem da dispensação no Hospital Mário Covas, administrado pelo governo do Estado. O último município em questão informa que todo o controle de dispensação é realizado pelos polos-base estabelecidos no ABC e, em razão disso, também quem decide quando e onde implantar novas unidades de dispensação é o Estado. Apesar disso, a administração avalia ser “fundamental que o Estado amplie os polos de dispensação para as chamadas microrregiões, no caso Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra”, a fim de atender toda a população sem maiores problemas.
FME
As Farmácias de Medicamentos Especializadas (FME) são responsáveis pela organização das filas para atendimentos presenciais, por meio da distribuição de senhas comuns e prioritárias conforme legislação vigente. Para otimizar o atendimento das unidades de dispensação, há um planejamento do Departamento Regional de Saúde (DRS) para resolver a questão. Já na questão da falta de medicamentos, a orientação é que os pacientes realizem registro da reclamação pela ouvidoria estadual no link saude.sp.gov.br/ses/perfil/cidadao/homepage/acesso-rapido/ouvidoria-na-saude.