Explosão na Braskem: polícia retira válvula de estanque para perícia

Explosão aconteceu no dia 22/06 e deixou dois operários mortos e outros dois feridos. (Foto: Reprodução)

Passados 44 dias da explosão em tanque da Braskem, no Polo Petroquímico de Capuava, em Santo André, que deixou dois mortos e dois feridos, ainda não há uma conclusão sobre as causas do acidente, nem porque havia resíduo de tolueno dentro do reservatório, que deveria estar vazio. Na segunda-feira (31/07) a polícia esteve no local, onde o tanque ainda está isolado, e retirou uma válvula de estanque, que vai ser periciada. A Braskem sustenta que a explosão foi causada por fagulha durante a solda de uma grade, mas não explicou como resíduos de tolueno foram parar dentro do tanque, que deveria estar vazio.

A explosão aconteceu na manhã do dia 22 de junho durante uma manutenção em um dos tanques da Braskem. O tanque que tem 12 metros de altura foi consumido pelas chamas e os operários da empresa Tenenge Manutenção Industrial sofreram ferimentos pela queda e também queimaduras. Dois deles com 90% do corpo queimado foram socorridos, sendo que um morreu no mesmo dia e outro faleceu no dia 03/07. Os outros dois tiveram ferimentos mais leves e já tiveram alta médica. O acidente acontece em meio à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Polo Petroquímico que está em andamento na Câmara Municipal de São Paulo, que apura se a poluição gerada pelo conglomerado de indústrias petroquímicas é responsável por problemas de saúde do moradores do entorno. O Polo fica na divisa entre os municípios de Santo André e Mauá com a Capital.

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A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) informou que está analisando as informações prestadas pela empresa para tomar medidas de fiscalização. “A Cetesb está analisando informações solicitadas à empresa Braskem, para concluir o relatório técnico e adotar as ações administrativas cabíveis. Ressaltamos que as empresas do Polo Petroquímico de Capuava continuam sendo vistoriadas periodicamente por equipes da Cetesb, bem como realizadas rondas rotineiras nos bairros ao entorno do Polo, com o intuito de checar as condições ambientais da região”, diz a companhia em nota.

A Braskem sustenta que a explosão aconteceu por conta de fagulha gerada durante a solda na parte externa do tanque. “A apuração realizada indica que o acidente em referência ocorreu durante um trabalho de solda para reposição do gradil na plataforma do tanque. Durante essa atividade, houve uma ignição seguida de incêndio. Os trabalhadores estavam utilizando todos os equipamentos de proteção individual exigidos para a atividade proposta. O relatório de investigação interna do acidente foi comunicado às autoridades competentes e ações complementares de melhorias estão sendo implementadas e serão acompanhadas pela Braskem”, informou a petroquímica.

O Sindicato dos Químicos do ABC acompanha as investigações e auxilia outros dois órgãos envolvidos da apuração, o MPT (Ministério Público do Trabalho) e o Ministério do Trabalho. O diretor do sindicato e coordenador da área do Polo Petroquímico, Joel Santana de Souza, é um dos três sindicalistas encarregados de acompanhar as investigações e auxiliar as instituições envolvidas na apuração. Ele diz que a Braskem contratou uma empresa da Noruega para fazer seu laudo interno. “Esse laudo não é conclusivo, diz apenas que o tanque foi liberado para uma solda na escada que fica junto à parede do tanque e que a explosão teria ocorrido por conta disso”.

O laudo não explica porque havia resíduos do produto dentro do tanque, que não deveriam estar lá. Durante a manutenção, uma das vedações do tanque, chamada de raquete foi retirada, porém, como o tanque continua conectado a uma rede de tubos, apenas uma válvula de segurança é que impedia a entrada de produtos químicos no tanque. Segundo o diretor do Sindicato dos Químicos essa válvula foi retirada esta semana para que seja submetida a um teste de estanqueidade. “Eles retiraram para fazer o teste na bancada e saber se estava passando alguma coisa. Foram retirados 200 metros cúbicos de produto misturado com água do fundo do tanque e ninguém sabe dizer porque isso estava lá. Também aconteceu do tanque ser liberado pelo pessoal da manutenção e não pelo pessoal da operação, para que fosse feita a reforma, então foi uma série de situações que contribuíram para o acidente, desde a retirada da raquete, e a confiança só na válvula de estanque, até as checagens”, avalia.

O Souza diz que a apuração não segue a linha de apontar um culpado, mas a de buscar melhorar os procedimentos. “A empresa não é nova, tem 50 anos que faz isso, então o nosso questionamento é quanto aos procedimentos”, destaca. O sindicalista disse ainda que todos os procedimentos de manutenção nos tanques da Braskem estão suspensos até o fim da apuração.

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