Juros: Na véspera do Copom, taxas sobem pressionadas pelo câmbio e exterior

Os juros futuros de curto e médio prazos terminaram a sessão em alta e os longos, perto da estabilidade. A pressão sobre o mercado foi maior pela manhã e diminuiu à tarde, com as taxas se acomodando. O aumento das taxas se deu em meio ao avanço do dólar ante o real e dos rendimentos dos Treasuries. Na segunda etapa, o mercado passou a evitar posições direcionais antes do Copom, considerando a divisão das apostas sobre o tamanho do corte, as expectativas sobre a linguagem do comunicado e a dúvida se haverá ou não consenso na votação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,625%, de 12,570% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 10,59% para 10,68%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 10,16%, de 10,13%. A taxa do DI para janeiro de 2029 terminou em 10,52%, estável.

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Pela manhã, o mercado de juros embarcou no pessimismo global que penalizava ações e moedas emergentes, com taxas em alta ao longo de toda a curva, refletindo PMIs fracos na China, Europa e mesmo o PMI Industrial dos EUA dentro do esperado teve leitura negativa, pela piora de subíndices. Internamente, a agenda trouxe a produção industrial de junho, com alta marginal de 0,1%, ante mediana apontando queda de 0,1%, mas insuficiente para mexer no quadro das apostas para o Copom.

Na avaliação do economista André Perfeito, o resultado mostra sinais de fraqueza, com destaque à queda em bens de capital, de 1,2% na margem. “Outro sinal de fraqueza foi a queda na produção de bens de consumo duráveis, que tombou no mês nada menos que 4,6%”, comentou o economista, ressaltando que ambos os grupos são amplamente sensíveis ao comportamento da taxa de juros. “Isto reforça, mais uma vez, certo sentido de urgência pela queda dos juros de maneira mais relevante na reunião do Copom desta semana”, defendeu.

Para o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, a curva esteve pressionada muito em função do câmbio, dado o papel que exerce na formação dos preços. O dólar chegou a R$ 4,799 nas máximas da sessão. “O câmbio sofre também com o mercado receoso de que aqui possa se repetir o que houve no Chile”, afirmou, referindo-se à decisão do banco central do país de reduzir o juro em 1 ponto porcentual, acima do previsto, e que afetou o peso chileno.

“Teremos uma reunião como há muito não se via, com o mercado bastante dividido”, afirmou. Na precificação da curva, a aposta de queda de 0,50 ponto na atual taxa de 13,75%, amanhã, segue levemente majoritária, com probabilidade de 60%, ante 40% de chance de 0,25 ponto.

O mercado também vai olhar com lupa a comunicação utilizada pelo BC para indicar os próximos passos e vê o placar da votação como termômetro do que pode ser o ciclo de afrouxamento.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, argumenta que na “ótica de um jogo” de preservar expectativas e a curva longa de juros, o cenário mais positivo seria um voto convergente de Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo pelo recuo da Selic. “Estimamos que há espaço para queda de 50 pontos pelas projeções de inflação e atividade, e taxa de câmbio, cuja valorização do real ante dólar superou em julho mais de 1%”, afirma Velho, para quem Galípolo votará pelo recuo da Selic de 50 pontos. “Se a decisão do Copom for pela queda moderada de juros de 25 pontos, seria adequada também uma convergência de votos, especificamente por tratar-se da primeira reunião com o novo diretor de Política Monetária”, complementa.

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