ABC - terça-feira , 30 de abril de 2024

Tebet aceita Pochmann por ordem de Lula e avaliação de IBGE ‘sem peso’

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, cedeu a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para nomear o economista Marcio Pochmann para a presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por entender que o órgão responsável por pesquisas como o Censo tem pouco valor no “mercado político”. Seus colegas de MDB, partido de Tebet, quando informados da intenção do presidente – comunicada há 15 dias – também avaliaram que a ministra não deveria resistir ao desejo do Palácio do Planalto.

A nomeação para a direção do IBGE (que é subordinado ao Planejamento) vinha sendo objeto de uma queda de braço que ocupou nos últimos dias as autoridades de Brasília. Pochmann é professor na Unicamp, escola de linha econômica majoritariamente heterodoxa – que defende o aumento dos gastos públicos e a maior presença do Estado na economia. Também foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) entre o fim do segundo mandato de Lula e o começo do primeiro de Dilma Rousseff. Atualmente, preside o Instituto Lula.

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Há sete meses, o cargo no IBGE estava sob o comando provisório de um técnico, Cimar Azeredo, que liderou a realização do Censo. O posto não havia sido ambicionado pelo MDB nem cobiçado pelo PT até agora, e Tebet cogitava escolher um nome de peso da academia para dar verniz ao órgão. Mas Lula preferiu Pochmann.

Como o presidente ainda não havia feito pedidos por cargos no Ministério do Planejamento, a concessão era o único caminho para a ministra, dizem seus aliados. Eles afirmam acreditar ainda que o recuo ajude a adiar pedidos do PT, que poderiam, aí sim, desestabilizar a condução da política econômica.

Questionada nesta quinta-feira, 27, sobre a indicação, Tebet disse que vai se reunir com Pochmann na próxima semana, e quer ouvi-lo a despeito das críticas de que é alvo. “Não faço o prejulgamento, porque eu já fui muito prejulgada na minha vida profissional e política. Eu vou ouvi-lo primeiro”, disse ela, depois de reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir o remanejamento de recursos do atual Orçamento. Ela afirmou ainda que terá “prazer em atender” ao pedido pessoal feito por Lula.

Mas a escolha foi alvo de críticas de economistas que apoiaram a candidatura de Tebet à Presidência em 2022, que veem Pochmann como muito ligado a ideias heterodoxas na área. Já os aliados da ministra no meio político creem que as críticas a Pochmann, disparadas nos últimos dias, partiram desse núcleo mais aguerrido e que desconsidera o peso de um pedido vindo do próprio presidente.

Petistas graduados no governo Lula atribuem a escolha de Pochmann para o cargo à vontade do presidente de recompensá-lo por ter aceitado dirigir o Instituto Lula “na baixa”, antes da vitória eleitoral do ano passado. Desde 2020, Pochmann comanda o instituto e seu mandato se encerra neste ano.

Sem poderes

Nem os aliados de Tebet nem os petistas creem que Pochmann terá poderes capazes de alterar o rumo da economia, ainda mais depois dos bons resultados que o governo vem colhendo na área econômica, como a aprovação da reforma tributária na Câmara. Pochmann seria um observador a distância, esperam eles, reafirmando os poderes conferidos a Haddad neste momento – diferentemente do que aconteceu em sua gestão à frente do Ipea, marcada por concursos enviesados e expurgos de pesquisadores.

O acerto entre a ministra e Lula previa o anúncio após a conclusão das divulgações do Censo, mas isso foi atropelado por declaração dada na quarta-feira pelo ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom). Com a confirmação pública, Tebet disse que não poderia prejulgar o trabalho de Pochmann, abrindo uma frente de diálogo.

Em sua primeira aparição nas redes sociais depois de ter o nome indicado para o IBGE, Pochmann publicou a capa de um livro intitulado O professor é o inimigo: uma análise sobre a perseguição docente no Brasil. “Interessante abordagem de como opera a coalizão neoconservadora”, escreveu ele, no Twitter. O livro, publicado no fim de 2021 pela Mórula Editorial, é de autoria de Pâmella Passos e Amanda Mendonça.

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